IDR-Paraná discute enfezamento do milho com produtores no Show Rural
O Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) preparou para a 35ª edição do Show Rural uma unidade temática para discutir com os visitantes o enfezamento do milho, doença que vem preocupando produtores e técnicos em todo o Brasil. A bióloga Michele Regina Lopes da Silva, do IDR-PR, explica que este é um problema que atinge tanto a primeira quanto a segunda safra, e já está presente em todas as regiões produtoras de milho.
Infestações esporádicas do enfezamento foram localizadas primeiro no Oeste do Paraná há cerca de 20 anos. A partir de 2017 aumentaram os relatos de ocorrência e, nas últimas safras, houve a constatação de até 40% de perdas pela doença em algumas lavouras do Estado.
Os especialistas denominam a moléstia de complexo do enfezamento, porque seu ciclo envolve um inseto, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), as bactérias fitoplasma (Candidatus Phytoplasma asteris) e espiroplasma (Spiroplasma kunkelii), também conhecidas como molicutes, e, ainda, o chamado vírus da risca (Maize Rayado Fino Virus).
Não há controle curativo para as doenças do complexo de enfezamento. Por isso, é fundamental escolher cultivares tolerantes à cigarrinha, usar sementes tratadas e adotar ações preventivas culturais integradas com aplicações de inseticidas químicos e biológicos.
A cigarrinha se contamina ao sugar a seiva de plantas infectadas e transmite as bactérias e o vírus quando migra para se alimentar novamente em lavouras sadias. O inseto voa em um raio de 30 quilômetros, mas também é transportado por correntes de ar e pode alcançar distâncias maiores.
“Uma vez infectada, a cigarrinha transmite as bactérias e o vírus até o fim de seu ciclo de vida, de aproximadamente três meses”, ressalta a bióloga.
SINTOMAS E PREVENÇÃO – Os sintomas são manchas vermelhas ou amarelas nas bordas das folhas ou em formato de riscas (que revela a presença do vírus) e desenvolvimento reduzido da lavoura. Eles aparecem na fase de pendoamento e formação de grãos. Mas o produtor deve estar atento e não se deixar enganar, porque a contaminação ocorre muito antes, até cerca de 35 dias após a emergência das plantas.
“É impossível saber, a olho nu, se a cigarrinha está contaminada com os patógenos. Então, o produtor deve vistoriar as lavouras desde a emergência da planta e, mesmo que observe apenas um inseto por planta, iniciar as pulverizações de inseticidas”, aconselha a pesquisadora.
Michele Silva aponta que a primeira pulverização deve ser feita com inseticida químico — um “choque” para eliminar cigarrinhas que migraram de outras lavouras ou de tigueras (aparecimento de plantas de lavouras antecessoras). Na na sequência, o produtor deve alternar o inseticida químico com produtos biológicos.
É preciso observar, no entanto, que inseticidas biológicos devem ser utilizados a partir do estágio V3, quando a planta já formou o “cartuchinho”. A eficiência desses produtos também está relacionada com a pulverização em dias em que haja boa umidade do ar (mais de 55%) e temperatura ao redor de 30°C, detalha a pesquisadora.
Há no Estado vários inseticidas biológicos à base de fungos (Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea) e de bactérias (Pseudomonas chlororaphis e Pseudomonas fluorescens) liberados para o controle da cigarrinha-do-milho pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
As pulverizações alternadas de inseticidas químicos e biológicos devem ser feitas por aproximadamente 40 dias (estágio V8), o que resulta em cerca de quatro aplicações. “A partir dessa fase, eventuais cigarrinhas observadas são provenientes de lavouras adjacentes, não é falha no controle. Além disso, não causam mais tantos danos”, explica a pesquisadora.
SEMEADURA SIMULTÂNEA – Outro cuidado recomendado é a semeadura simultânea em uma mesma região para evitar a chamada “ponte verde”, que é a existência de lavouras em diferentes etapas de desenvolvimento e, com isso, oferta de alimentos e estímulo à migração das cigarrinhas e ao reinício do ciclo de contaminação de cultivos. Todas essas práticas devem ser conjugadas com a rotação de culturas e a eliminação de plantas guaxas do terreno, com a finalidade de interromper o ciclo do vetor e dos patógenos.
Da AEN
CASCAVEL