Início do reforço tem hesitação sobre Coronavac
A hesitação dos idosos era justificada pelo receio de que a Coronavac pudesse não oferecer proteção tão ampla quanto outras vacinas. O Ministério da Saúde pediu que o reforço nos idosos fosse feito com a vacina da Pfizer e, na falta dela, com AstraZeneca ou Janssen. Médicos dizem que o reforço com a Coronavac é seguro, mas criticam a decisão da gestão João Doria (PSDB) diante das evidências científicas de que a eficácia da vacina do Instituto Butantan é menor nessa faixa etária.
Nos postos de saúde, as doses da Pfizer disponíveis foram destinadas a adolescentes. Essa vacina é a única aprovada pela Anvisa para menores de 18 anos.
Carlos Avino, de 73 anos, saiu cedo de casa com o pai, Pasqual Alvino, de 98. O compromisso que fez eles chegarem às 6h30 na UBS Alto de Pinheiros, zona oeste, era esperado: seu Pasqual tomaria a 3ª injeção. Quando ficaram sabendo que seria com a Coronavac, voltaram.
“A gente vê especialistas dizendo que é melhor dar Pfizer, AstraZeneca ou Janssen, mas querem dar a Coronavac. E aqui tem vacina da Pfizer, mas só para adolescentes. Não está certo”, reclamou Carlos. Ele ficou pouco mais de duas horas em frente ao posto tentando convencer a equipe a aplicar outra vacina em seu pai e até abriu reclamação na ouvidoria do SUS, mas não adiantou.
O ministério havia pedido aos Estados que começassem o reforço dia 15. São Paulo decidiu começar antes e é o único Estado que usará qualquer uma das quatro vacinas na 3ª dose.
Na UBS Santa Cecília, Lisane Sahd levou a mãe Eli, de 90 anos, mas também recuou. “A orientação que temos de especialistas e ministério é de que a 3ª dose não seja com Coronavac”, diz ela.
O governo defende a Coronavac para esse público. “Não podemos deixar nenhuma vacina (de) fora. Precisamos que todas estejam e sejam incluídas no nosso Programa Nacional de Imunização”, disse o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn na quarta-feira passada.
Coordenador do Comitê Científico do governo estadual, João Gabbardo citou, na semana passada, a nota técnica 27/2021, do ministério, que apontou “amplificação da resposta imune” após 3ª dose da Coronavac, para defender a vacina no reforço. Isso permitiria, segundo ele, antecipar a 2ª dose da Pfizer em faixas mais jovens e incluir o grupo de trabalhadores da área da saúde no calendário da 3ª dose.
“O objetivo da dose de reforço é aumentar os anticorpos e a proteção contra a variante Delta (mais transmissível), a grande preocupação agora. E já sabemos, até por estudos no Brasil, que a Coronavac dá uma resposta menor nos idosos do que nos mais jovens”, afirma Raquel Stucchi, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
A Prefeitura informou que os idosos que recusarem a Coronavac como reforço não serão penalizados. Na cidade, quem recusa um imunizante vai para o fim da fila de vacinação.
A 3ª dose está disponível para idosos com 90 anos ou mais que tomaram a 2ª dose há pelo menos seis meses. Hoje, feriado, os pontos de vacinação não irão funcionar na cidade. A imunização será retomada amanhã.
Dose no braço. Apesar da recusa de alguns, outros saíram dos postos com a 3ª dose no braço. Regina Mattos, de 91 anos, foi uma delas. Em isolamento desde o início da pandemia, ela aproveitou a fila da vacina na UBS Santa Cecília para conversar com outras pessoas. “Meu filho não deixa eu sair de casa, fica sempre de olho. E agora vou continuar me cuidando”, diz.
Eugênia Rinski, de 90 anos, se arrumou toda para receber a 3ª dose na UBS Boracea, na Barra Funda. Colocou brinco, tiara, maquiagem e estava muito feliz com a oportunidade. “Foi ótimo, não tinha fila nenhuma. Agora vou para o supermercado”, brinca. Ela não foi a única da família a receber a proteção: seu neto estava no posto de saúde esperando a 2ª dose, e o bisneto de 13 anos, a primeira.
A vacinação de adolescentes de 12 a 14 anos sem comorbidades ou deficiências começou ontem. Na UBS Boracea, eles eram a maioria da fila. Caetano Coutinho, de 13 anos, aproveitou para receber a 1ª dose. “Estou muito feliz. Acho que a vacina veio no tempo certo”, diz.
O pai, Anselmo Coutinho, acompanhava o filho e estava aliviado. “A gente já estava protegido, mas se preocupava com ele.” (Colaborou João Ker)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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