Macron e Le Pen sofrem duro revés nas eleições regionais na França
O jovem partido do presidente, República em Marcha (LREM), não conseguiu prevalecer em nenhuma das 13 regiões da França metropolitana, pagando o preço por sua falta de implantação territorial.
Segundo as consultas, o partido obteria apenas 7% dos votos, vendo-se relegado à quinta força política em nível nacional, atrás da direita, da esquerda, dos ecologistas e da ultradireita. É uma “decepção para a maioria presidencial”, admitiu Stanislas Guerini, líder do LREM.
A abstenção foi a grande protagonista destas eleições, com um máximo histórico de cerca de 66%, o mesmo nível do primeiro turno e muito superior às eleições regionais anteriores, em 2015.
“O que estamos vendo é a culminação de uma desconexão entre os eleitores e a classe política”, disse à agência France Presse Jessica Sainty, professora de política da Universidade de Avignon, embora tenha admitido que a crise da covid-19 também influi na alta abstenção.
Fracasso da ultradireita
Os resultados também foram decepcionantes para o partido de Le Pen, Agrupamento Nacional (RN, na sigla em francês), que fracassou em sua tentativa de conquistar pela primeira vez um governo local.
“Esta noite, não ganharemos nenhuma região”, admitiu Marine Le Pen, destacando que a França sofre uma profunda crise da democracia local. “A mobilização é a chave para as vitórias futuras”, disse, de olho nas presidenciais do ano que vem.
Seu candidato, Thierry Mariani, foi derrotado pelo rival conservador, Renaud Muselier, na região Provença-Alpes-Costa Azul (PACA, sudeste), a única onde o partido nacionalista podia aspirar a vencer.
“Vocês responderam à ameaça da extrema direita”, proclamou Muselier ao anunciar sua vitória, em um pronunciamento público no qual também agradeceu à candidatura conjunta entre a esquerda e os verdes, que desistiu da eleição para apoiar a centro-direita e bloquear a ultradireita. “Venceu a lógica da unidade”, enalteceu.
Muselier também reconheceu o apoio de todos os membros do Parlamento Europeu, exceto os da extrema direita, que haviam solicitado o voto para sua candidatura.
No primeiro turno, o Reagrupamento Nacional conquistou o primeiro lugar em Provence-Alpes-Côte d’Azur, com 36,38% dos votos, enquanto a candidatura de Muselier ficou em segundo, com 31,91%.
Ganhar o controle de uma região pela primeira vez em sua história teria sido um grande impulso para Le Pen, que tenta convencer os eleitores de que o RN é um partido capaz de governar.
Para alguns analistas, esses resultados trazem dúvidas sobre se as presidenciais de 2022 vão se reduzir a um duelo entre Macron e Le Pen no segundo turno, que há tempos é considerado o cenário mais provável.
Direita fortalecida
O grande vencedor dessas eleições é o partido da direita tradicional, Os Republicanos, que se torna a primeira força política do país, com vitória em sete regiões.
Quatro anos depois de perderem as eleições presidenciais, os conservadores recuperam força e superam a união da esquerda e ecologista, que se posiciona em segundo lugar, com cinco regiões. Vários matizes da direita aproveitarão o impulso que esta vitória lhes dará para se posicionarem na corrida das presidenciais.
“Agora todo mundo entendeu que as eleições presidenciais são um jogo com três lados”, avaliou o conservador Xavier Bertrand, que obteve uma vitória confortável na região Altos da França (norte) e já anunciou sua candidatura para 2022.
A vencedora na Ilha de França, região de Paris, Valérie Pécresse, e o de Auvérnia-Ródano-Alpes, Laurent Wauquiez, ambos conservadores, também poderiam se posicionar para as eleições do ano que vem.
“Emergiu uma equipe da França da direita e do centro, da qual vou participar”, antecipou Pécresse, ex-ministra de Nicolas Sarkozy.
O fracasso da maioria presidencial alimenta os rumores de uma remodelação do gabinete. Trinta e dois por cento dos franceses são favoráveis a uma mudança ministerial nas próximas semanas, segundo uma consulta do instituto de pesquisas Ipsos. (Com agências internacionais)
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