Morre aos 77 anos o repórter Mauro Mug
O mesmo reconhecimento se repetiu no último domingo, 14, data em que Mauro faleceu, aos 77 anos, por complicações de uma cirurgia feita em agosto para tratar uma úlcera.
Em depoimentos nas redes sociais, a lembrança de Mug foi a de um repórter apaixonado pela profissão, pelos colegas e pela família. Ele deixou a esposa, Amélia – ou ‘Amelinha’, como a chamava diante de todos -, três filhos e três netos.
Mauro Carvalho da Silva começou a carreira no jornalismo na função de rádio escuta, na década de 1960, no Estadão. Já chegou no jornal com o apelido de Mug, que ganhou na adolescência pela estatura baixa e rechonchuda, semelhante ao boneco de mesmo nome que fez sucesso nos anos 60. O apelido logo virou mais conhecido e mais adequado ao carisma do jornalista. Mauro Carvalho da Silva era um nome sisudo para alguém como ele.
Na década seguinte, se tornou repórter e se destacou pela agilidade que tinha em apurar e na determinação de entregar o que pediam. “O Mauro era pau para toda obra. Em qualquer situação, ele entregava o que era pedido. Não voltava da rua sem matéria”, lembra a jornalista Marcia Glogowski, que trabalhou com ele por cerca de 30 anos na editoria de Metrópole.
Em quatro décadas de jornalismo, só há uma única vez que Mug não entregou uma matéria: no dia em que o pediram para vestir uma roupa de escafandro para mergulhar no rio Tietê poluído. “Aí ele me disse: esse editor só pode estar louco, quer que eu mergulhe num rio poluído”, relembrou o amigo e também jornalista Renato Lombardi, que trabalhou como repórter no Estadão e na Rádio Bandeirantes.
Em uma era pré-internet, a habilidade de apuração dele era um trunfo para o jornal. Mauro conseguia apurar histórias mesmo que fossem à distância ou em lugares remotos, como o caso da queda do avião da Varig, em 1989, numa região da Amazônia sem radar aéreo.
Neste dia, Mug fez a apuração da redação do jornal, em São Paulo, por telefone. O avião da Varig havia caído no trajeto entre Brasília e Belém numa região isolada da selva. Com isso em mente, o repórter passou a ligar para pontos de táxi das cidades pequenas da região onde se suspeitava que a queda havia acontecido. No fim do dia, tinha a notícia precisa. “Ele sabia o caminho para a reportagem, tinha muitas fontes. Essa capacidade de apuração impressionava”, disse Roberto Gazzi, ex-secretário de redação do Estadão.
Essa característica, no entanto, não o fazia um repórter vaidoso. Pelo contrário, era o profissional preferido dos jornalistas mais novos pela generosidade que possuía. Era capaz de oferecer uma agenda inteira de fontes aos que não tinham contatos – algo que, no jornalismo pré-internet, valia ouro.
No contato com os mais novos, também contava histórias que havia vivido em apurações e construía amizades que levou até o fim da vida. Com o jeito simples de falar, fomentava uma paixão pelo jornalismo da qual ele mesmo se nutria.
Mug também era um apaixonado pela família. Filho único, não gostava que os filhos brigassem entre si porque dizia que eles tinham sorte de ter um ao outro. Já com Amélia, sua esposa, ia para todos os lugares e fazia questão de contar o quanto a amava. Os dois foram casados por 51 anos.
A filha mais velha, Andreia Carvalho, de 52 anos, tem o pai como um herói e o seguiu na carreira de jornalista. Ela começou a frequentar a redação do Estadão ainda criança e, décadas depois, trabalhou no jornal junto dele. “Quando eu ia à redação, todo mundo me chamava de ‘Muguinha’ e ficava me falando o quanto o meu pai era um cara legal. Eu queria ser igual a ele.”
Em 2001, Mug teve o primeiro infarto dos quatro que teve ao longo da vida. Na mesma época, começou a sofrer de pressão alta e diabetes. Ele sabia que estava perto da hora de se aposentar, mas antes fez um pedido inesquecível para o então secretário Roberto Gazzi: não queria assinar mais como Mauro Carvalho da Silva, mas como Mauro Mug. “Na primeira matéria que ele assinou assim, ele ficou emocionado. Parecia um jornalista iniciante que assina a matéria pela primeira vez. Havia ali uma identificação, era como todos conheciam ele”, disse.
Foram cerca de quatro anos assinando assim, até que um dia foi até sua editora, Marcia Glogowski, avisar que iria pedir demissão por estar cansado. No entanto, achava injusto sair do jornal sem nenhum benefício depois de 40 anos de serviços prestados. A editora concordou e levou o pedido até o secretário de Redação. Um ano depois, em 2006, o Estadão lançou um plano de demissão voluntária que o beneficiou. “Sem dúvidas, foi adiantado por conta dele. Foi um importante reconhecimento”, disse Márcia.
Após se aposentar, o jornalista ainda trabalhou como assessor de imprensa na Câmara Municipal de São Paulo durante alguns anos. Decidiu parar em meados de 2010, a fim de se dedicar apenas à família.
Apaixonado por futebol, passou a acompanhar o neto mais novo, Bernardo, jogador das categorias de base do São Paulo. “Meu pai era um apaixonado pela profissão, uma hora cansou e passou a se dedicar aos netos. No futebol, todos do clube do Bernardo sentiram muito o falecimento dele”, disse Andréia.
Por onde passou, Mug deixou uma marca difícil de esquecer.
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