Multiartista Terezinha Malaquias volta ao Brasil e lança exposição e livro no Instituto Sarath
A partir do dia 9 de novembro, o Instituto Sarath receberá a exposição “Olhe Para Mim … Schau Mich An …”, de fotoperformances de Terezinha Malaquias (@terezinhamalaquias).
“Olhe Para Mim … Schau Mich An …”, que reúne fotoperformances da artista, acontece no Instituto Sarath, na Vila Mariana. Evento também marcará o lançamento de seu novo livro “Banzo e Afetos”, publicado pela Literíssima Editora
A partir do dia 9 de novembro, o Instituto Sarath receberá a exposição “Olhe Para Mim … Schau Mich An …”, de fotoperformances de Terezinha Malaquias (@terezinhamalaquias). O evento de lançamento contará com a presença da multiartista, que reside em Freiburg, na Alemanha, desde 2008, a partir das 19h. “Identidade é um conceito refletido em suas fotoperformances e autorretratos. Nelas, Terezinha, como uma mulher, afro-brasileira e imigrante nos provoca e nos leva a pensar sobre como o nosso olhar distraído, ensimesmado ou autorreferente pode relegar pessoas ou grupos sociais a uma espécie de anonimato ou invisibilidade social”, explica Onésimo Alves Pereira, um dos curadores da exposição no texto de apresentação.
Em suas obras, a artista evoca narrativas que remetem à história da arte ocidental, brasileira e
africana. “Através de tecidos, objetos e wearable art, a performer se refere a ícones da arte moderna como Alexander Calder, quando faz uso do arame para criar objetos que se envolvem em seu corpo; Marcel Duchamp e seus ready-mades, quando se apropria de objetos, como rolos de papel higiênico, escovas, cabides, utensílios de cozinha como facas e espátulas, violão etc; e Arthur Bispo do Rosário com objetos (wearable art) que podem se referir ao seu particular modus operandi de escrever e desenhar através do bordado”, observa Onésimo.
E no dia 11 de novembro, também no Instituto Sarath, a artista participará de uma roda de conversa e performance com convidados: Cássia Sarath, psicanalista e produtora cultural; Kazuyo Yamada, professora e bodypainting para a área da saúde; Maria Célia Malaquias, psicóloga, psicodramatista e professora; e Onésimo Alves Pereira, artista visual,fotógrafo, escritor e curador. A mediação será de Ana Paula Araújo Cruz, produtora cultural, fotógrafa e cozinheira.
A exposição “Olhe Para Mim … Schau Mich An …” seguirá em cartaz até o dia 12 de dezembro e estará aberta à visitação de terça a sábado, das 10h às 19h, no Instituto Sarath (Rua Eça de Queiroz, 346 | Vila Mariana – SP). A entrada é gratuita.
Evento também marca o lançamento de seu novo livro “Banzo e Afetos”
Além da exposição, Terezinha estará no Brasil para o lançamento presencial de seu novo livro “Banzo e Afetos” (94 págs, Literíssima, 2023), no dia 9 de novembro, a partir das 19h, no Instituto Sarath. No dia, a autora também irá comercializar seus outros livros.
Lançada na mesma semana em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da emergência de saúde pública de importância internacional referente a Covid-19, “Banzo e Afetos” traz a densa e dolorosa experiência da pandemia.
O termo “banzo“, que dá título ao livro, era o termo com que pessoas escravizadas no Brasil se referiam ao sentimento de falta do seu lugar de origem. Dividido em três partes – crônicas, contos e poemas, respectivamente – a obra traz um interessante arremate entre as questões de cunho pessoal e as de cunho coletivo, ambientada no contexto pandêmico.
Desta forma, são abordadas principalmente suas implicações sociais e subjetivas, bem como um processo de resistência e renascimento por meio do reencontro com a ancestralidade, o afeto e o desejo de vida. “Escolhi esses temas porque eles gritavam dentro de mim. Escrevi para dar vida a eles, pari-los para o mundo”, conta Terezinha.
“Banzo e Afetos” extrai do cotidiano e das emoções experimentadas o material para compor seus escritos, desnudando o universo íntimo e singular de Malaquias e, ao mesmo tempo, contemplando sentimentos e vivências comuns a todas as pessoas. “É uma escrita simples, amorosa e direta. A intenção é lembrar ao leitor que a beleza e a felicidade podem estar, por exemplo, em contemplar o nascer ou o pôr do sol, numa xícara de café ou chá com quem amamos, ou ainda receita da avó que segue sendo passada em frente a gerações”, explica a autora.
A estrutura do livro de Malaquias constrói um movimento de cura: nas Crônicas, o olhar para o cotidiano — em que se destacam os elementos da cozinha e da culinária enquanto resgate ao afeto e à memória — é mais proeminente. Já os Contos, mais viscerais, expõem a angústia de Malaquias frente à situação agravada da pandemia no Brasil, seu país de origem. Por fim, os poemas que integram a seção final de “Banzo e Afetos” propõem um tom mais esperançoso e entusiasmado da autora.
Para Malaquias, o processo de escrita do livro também foi transformador e curativo. “O começo da pandemia me fez refletir muito sobre a vida. O processo foi mudando aos poucos. Teve dias que escrevi todos os dias, em outros dias não conseguia escrever, porque a dor e a preocupação eram grandes demais”, relembra. “Escrevo também como um processo de cura para mim e para o coletivo”.
Entre o Íntimo e o Universal, as várias facetas artísticas de Terezinha Malaquias
Terezinha Malaquias nasceu em Frutal, interior de Minas Gerais, há cerca de 610 km de Belo Horizonte, capital do estado. Dos cinco aos dez anos, viveu em uma fazenda, onde foi alfabetizada inicialmente pela sua irmã mais velha Maria Célia. Ainda aos 10, ao mudar-se com a família da área rural para a região urbana, passou a frequentar a escola, onde escreveu o primeiro poema.
A verve artística apareceu cedo para Malaquias, que rememora uma ocasião onde pediu aos pais para mudar-se para São Paulo em vista do desejo de ser cantora, aos cinco anos. Criativa e ambiciosa, conseguiu estabelecer-se na cidade mais velha, atuando inicialmente como modelo. Mais tarde, descobriu-se também como performer, poeta e escritora. Atualmente, ela se intitula uma artista de palco, transitando entre a performance, videoarte, desenho, pintura, bordado, instalação artística e escrita criativa — seu trabalho pode ser acessado via site oficial (www.terezinhamalaquias.com) e suas performances e videoartes estão disponibilizadas para visualização em seu canal do YouTube (www.youtube.com/@TereMalaquias/videos).
Apesar das muitas linguagens, Malaquias reconhece eixos comuns às suas produções, como as questões relacionadas à mulher, à violência, ao racismo, à ancestralidade e ao cotidiano, amarradas principalmente pela noção de universalidade das experiências. “Demorou para entender que o que produzo, se é inspirado em minhas próprias experiências ou em vivências de pessoas próximas. Não são pessoais, mas tocam em temas universais, não importa em que lugar do planeta nos encontramos”.
Em seu trabalho como escritora, isso é evidente pelas autoras que cita como referência, caso de Adélia Prado (1935), Conceição Evaristo (1946) e Ryane Leão (1989). Além de “Banzo e Afetos”, Malaquias também é autora dos livros “Do Jeito da Gente” (2021), com edições bilíngues Portugues-Alemão e Português-Inglês e “Menina Coco” (2018), em Português-Alemão — ambos títulos voltados ao público infantil —; além de “Teodoro” (2021), “Modelo Vivo” (2005) e outras obras e coletâneas publicadas em que é co-autora.
Desde 2008, Malaquias reside na Alemanha. Mora em Freiburg, a cerca de 800 km de Berlim, capital do país. É formada pela Edith Maryon Kunstschule, escola de arte de Freiburg, e atua há 12 anos em galerias do centro cultural E-werk Freiburg, além de seguir com seus trabalhos como artista.
Confira um trecho do livro:
“Muitas vezes, enquanto estou fazendo o jantar, eu observo da janela da minha cozinha um casal de vizinhos do sétimo andar, e sempre vejo os dois caminhando de mãos dadas. Isso me lembra os meus pais, eles caminharam juntos e de mãos dadas por quase cinquenta e três anos.
Hoje de manhã, bem cedinho, encontrei esses vizinhos no supermercado, que fica a cerca de um quilômetro do nosso prédio; eles empurravam um carrinho de compras. Quando me viram na entrada do estabelecimento, me cumprimentaram sorridentes e festivos. Depois nos encontramos novamente nas bancas de verduras, legumes e frutas. Assim como eu, eles vão e voltam sempre a pé.
Ela tem 88 anos e ele tem 92. Ela é alemã e ele, polonês.”
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https://www.literissima.com.br/product-page/banzo-e-afetos
Acesse o site oficial da artista: www.terezinhamalaquias.com
Da Assessoria com.tato