Na Alemanha, social-democratas buscam aliados para agenda de centro-esquerda
Os resultados oficiais confirmaram também que o bloco formado pela União Democrata Cristã (CDU) da chanceler Angela Merkel e seu partido-irmão da Baviera, a União Social-Cristã (CSU), teve seu pior resultado histórico, com 24,1% dos votos, 8,9 pontos porcentuais a menos do que na última eleição, em 2017. O partido verde foi o terceiro colocado, com 14,8% dos votos, seguido pelo Partido Liberal Democrático, com 11,5%.
Na prática, os resultados, se confirmados, obrigam Scholz a articular uma aliança entre seu partido, os verdes e os democratas livres. A possível coalizão vem sendo chamada de “semáforo”, em referência às cores de cada legenda (vermelho, verde e amarelo, respectivamente.)
Nesta segunda-feira, 27, Scholz, de 63 anos, destacou sua intenção de organizar um campo à centro-esquerda. “Os eleitores falaram claramente”, disse ele. “Eles disseram quem deveria construir o próximo governo fortalecendo três partidos, o Partido Social-Democrata, os Verdes e os Democratas Livres.”
Com desempenho positivo o suficiente para se tornar indispensável a qualquer um dos partidos que chegue ao poder, o Partido Verde já sinalizou que prefere trabalhar ao lado de Scholz. Os democratas livres, no entanto, se inclinam em direção à Laschet – um porta-voz da política interna do partido, Konstantin Kuhle, disse que, após os resultados de domingo, a coalizão (de direita) Jamaica se tornou uma opção “mais provável” para o partido.
Propostas
O SPD se elegeu com uma plataforma razoavelmente clara de centro-esquerda. Entre as principais propostas, estavam o combate às mudanças climáticas, a partir de medidas como a redução de emissões de carbono, o maior apoio à imigração, a imposição de uma aposentadoria mínima estável e a construção de 100 mil unidades de habitação social por ano. Além disso, a plataforma do partido promete aumento de salário mínimo e imposto de 1% sobre grandes fortunas.
Em conversa com repórteres nesta segunda-feira, Scholz defendeu uma Europa forte e soberana, além de boas relações com parceiros transatlânticos, nomeadamente os Estados Unidos, e a modernização da indústria nacional.
Em entrevista coletiva na sede do partido, em Berlim, Scholz destacou que a “ação comum” da União Europeia é a base de tudo o que precisa ser feito nos próximos anos. “Se a UE quer garantir tudo o que lhe é importante em termos de Estado de Direito, economia de mercado, Estado social e progresso tecnológico, terá de o fazer em conjunto”, afirmou. Ele também disse que trabalhar para uma UE mais forte e soberana influenciará a estratégia internacional e a política externa da Alemanha.
Scholz, que atuou como ministro das Finanças na “grande coalizão” de Merkel, disse que um governo liderado por ele ofereceria aos Estados Unidos continuidade nas relações transatlânticas. “A parceria transatlântica é essencial para nós na Alemanha (…) você pode contar com a continuidade nesta questão”, disse ele, acrescentando que é importante para as democracias trabalharem juntas em um mundo perigoso, mesmo permitindo “conflitos” ocasionais.
Sem fornecer muitos detalhes, Scholz também afirmou que irá modernizar o setor industrial alemão e “travar a mudança climática causada pelo homem.” “Nosso mandato é fazer o que as pessoas querem”, disse.
Choque de agendas
Analistas indicam, no entanto, que isso não será tão fácil, já que os três partidos da provável coalizão têm diferenças significativas entre si. Um dos principais tópicos de disputa deve ser a questão orçamentária. Os liberais defendem a ortodoxia, se opondo à modificação da regra constitucional de cessação do endividamento, que impede o Estado de tomar emprestado mais de 0,35% do PIB a cada ano – uma posição defendida também pela CDU. Já os Verdes e o SPD tendem a abordagem mais flexível.
Outro ponto importante pode ser a aceleração da transição energética, que está no centro da agenda dos Verdes. O partido ambientalista quer antecipar o prazo para a Alemanha deixar de usar usinas a carvão de 2038 a 2030. Muitos dos liberais são céticos em relação a essa medida.
SPD e liberais também podem entrar em choque. O SPD fez do reajuste do salário mínimo e das pensões duas de suas principais promessas. Scholz está sob grande pressão por parte da ala esquerda de seu partido. Para reduzir as desigualdades, o partido também quer reformar o imposto sobre as sucessões, que deixa de fora boa parte das transferências das empresas familiares, a espinha dorsal da economia alemã. Um objetivo compartilhado pelos Verdes, mas não pelos liberais.
A única esperança de que um acordo seja alcançado viria do “desejo” do Partido Liberal Democrático de entrar no governo para atuar como “corretivo” e impedir a implementação das propostas mais progressistas dos Verdes e do SPD, considera Paul Maurice.
Nesta segunda-feira, Scholz tentou projetar calma ao falar sobre as árduas negociações. “A Alemanha sempre teve governos de coalizão e sempre foi estável”, disse ele ao ser perguntado sobre a possibilidade de os resultados enviarem uma mensagem de instabilidade aos seus parceiros europeus. O candidato acrescentou acreditar na formação de uma coalizão até o Natal. (Com agências internacionais).
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