Nadal critica bolinhas atuais do circuito e padronização dos tenistas
O ex-número 1 do mundo não se refere somente às bolinhas usadas no primeiro Grand Slam do ano, da marca Dunlop. O espanhol vê uma mudança lenta e gradual desde sua chegada ao circuito, em 2001. “Acredito que a dinâmica das bolas mudou desde que entrei no circuito. Elas perderam os efeitos e se tornaram mais ‘vivas'”, disse o atual 5º do ranking, na quarta-feira.
“Mais vivas”, elas se tornaram mais difíceis de serem controladas pelos tenistas. Como consequência, há menor possibilidade agora de surgirem novas técnicas, efeitos e golpes na elite do tênis mundial. Não por acaso as batidas mais retas, ou chapadas, viraram padrão e a força e a velocidade são as principais apostas dos atletas na tentativa de surpreender seus adversários.
Por isso, o experiente atleta, de 35 anos, acredita que estas alterações nas bolinhas influenciaram diretamente o jeito de jogar dos tenistas da atualidade, com estilos cada vez mais semelhantes. Nadal é um dos poucos que costumam jogar mais afastados da linha de base, no fundo da quadra. “Os tenistas que jogam mais adiantados (na quadra) e com golpes mais planos são favorecidos agora.”
O também espanhol Pablo Andújar concorda com o compatriota. “Quando ele e eu começamos, as bolas faziam mais diferença no jogo. A maioria dos jogadores medem 1,90 metro (hoje) e agora isso tende a favorecê-los”, comentou. “Hoje em dia praticamente todos os tenistas jogam no mesmo estilo. A técnica não é tão mais importante.”
Nadal questiona também a qualidade das novas bolas. Por serem mais ocas, na sua avaliação, são mais vulneráveis a qualquer mudança climática ao longo de uma partida. “A bola muda completamente do dia para a noite por causa da umidade, que deixa a bola mais lenta. Quando está um pouco mais seca, fica muito rápida. Isso definitivamente favorece os jogadores que jogam um tênis mais chapado e que batem muito rápido.”
Estas alterações nas bolinhas atingiram em cheio o conhecido estilo espanhol, um pouco mais lento, de construção de jogadas e até mais sofisticado que a média. Nadal personifica este estilo como poucos. Ele está acostumado a trocar muitas bolas com os adversários, tirando vantagem da sua grande forma física e apostando nas variações dos golpes, incluindo os efeitos na bolinha. Foi assim que fez sucesso no saibro, o piso mais lento de todos, de Roland Garros. Com 13 títulos, detém o maior domínio já visto num Grand Slam.
Os efeitos aplicados por Nadal e outros tantos têm sucesso explicado pela ciência. Pesquisa de 2009 analisou a biomecânica destes golpes e constatou que o espanhol alcançou 5.000 rotações por minuto em seus rebatidas durante o Aberto da Austrália daquele ano, vencido pelo próprio espanhol.
O estudo, elaborado pelo especialista americano John Yandell, mostrou também que Roger Federer não superou as 4.000 rotações por minuto naquela edição do Grand Slam australiano. Não por acaso Nadal venceu o rival suíço naquela final, em seu único título em Melbourne até agora. O espanhol costuma fazer estrago com o efeito chamado “Top Spin”, quando a bola quica alta no fundo da quadra e sobe rapidamente, surpreendendo e dificultando a devolução dos adversários.
Parte deste e de outros efeitos começaram a se perder com as alterações nas bolinhas, de acordo com Nadal. O perdedor, na avaliação do espanhol, é o público, por não poder apreciar outros estilos de jogo em quadra. “Acho que tenho ido bem ao longo destes anos com estas bolinhas, mas o nível do espetáculo se perde”, disse o dono do recorde de títulos de Grand Slam, ao lado de Federer e do sérvio Novak Djokovic – cada um soma 20 troféus.
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