‘Nós só queremos viver em paz no Afeganistão’

“Antes de o Taleban chegar, a situação já era terrível. Não sabíamos o que aconteceria, o que veríamos. No começo, havia esperança de que alguém pudesse parar a ofensiva. Antes do Taleban chegar, líamos nos jornais, em postagens no Facebook, que nada aconteceria. É inacreditável”, lamenta Mati Khan, morador de Cabul, ao Estadão.

“No momento, todas as pessoas estão dentro de suas casas, porque estão preocupadas com as coisas que podem acontecer. Na verdade, eu não me sinto seguro. Não é o governo ou o Taleban, não sabemos o que está acontecendo no país. Não sabemos quem está governando. Nós não sabemos quem está no poder. Hoje eu vi pessoas correndo para ir ao aeroporto, para pegar um avião, para fugir. Quem tem dinheiro, está deixando o país. Ou tentando, pelo menos. As pessoas que moram na rua, os pobres, estão presos. Elas não conseguirão sair, porque não têm nem passaporte”, diz.

“Até agora, não vimos nada de ajuda dos EUA ou de outros países para tirar essa gente daqui. Eles estão postando em redes sociais que alguns têm permissão para tirar vistos emergenciais, pessoas que trabalharam para eles, como tradutores. Mas não vi nada sobre ajuda para cidadãos comuns para tirar vistos e fugir para outro país.”

“Eu não sei o que vai acontecer com o país agora. Eu quero alguém que possa trazer paz, conhecimento, democracia. Se alguém tomar o controle, queremos que tragam paz. Seja o Taleban, seja o governo. Não é só o meu desejo, é o desejo de todos. Mas todo mundo já perdeu as esperanças.”

“Quanto falo com os meus amigos, todos querem deixar o país. Estão buscando um futuro melhor. Eles estão todos preocupados com o que vai acontecer, porque perderam a esperança. Eu também. Só queremos nossa educação, nossos negócios, ter bons relacionamentos com outros países, com os nossos vizinhos. Nós queremos que o Afeganistão seja bom exemplo no mundo, sem terrorismo, sem bombas. Nós só queremos viver em paz, nós só queremos nossa democracia, que não existe mais no momento.”

“Outro dia disseram que ladrões apareciam em nossos bairros e pegavam tudo das pessoas, o que é realmente ruim. Quando não há governo, coisas assim acontecem. E, na noite passada, foi terrível. Eu me senti realmente inseguro. Eu me perguntava: o que vai acontecer com nossos amigos, família e vizinhos?” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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