Nova Caledônia decide permanecer na França; separatistas boicotam referendo

Os eleitores no território insular francês da Nova Caledônia escolheram permanecer parte da França, em um referendo boicotado por forças pró-independência e vigiado de perto em todo o Pacífico Sul.

Os resultados oficiais mostraram que 96% dos participantes votaram a favor da permanência na França. Menos de 44% da população compareceu à votação. No ano passado, um referendo anterior sobre a independência havia registrado quase o dobro de votantes. À ocasião, 46,7% dos participantes votou a favor da separação.

A baixa adesão aconteceu após líderes separatistas pedirem que seus apoiadores boicotassem o referendo. Eles haviam pedido o adiamento da votação por causa da pandemia e ficaram irritados com o que consideraram ser os esforços do governo francês para influenciar a campanha.

A votação foi monitorada pela ONU e potências regionais, em meio a esforços globais para a descolonização e em meio à crescente influência chinesa na região. A Nova Caledônia, colonizada pelo sobrinho de Napoleão no século 19, é um vasto arquipélago com cerca de 270 mil habitantes a leste da Austrália, 10 fusos horários à frente de Paris — e abriga uma base militar francesa.

O presidente francês Emmanuel Macron saudou o resultado como uma confirmação retumbante do papel da França no Indo-Pacífico e anunciou negociações sobre o futuro status do território. “Esta noite a França está mais bonita porque a Nova Caledônia decidiu ficar”, disse Macron em um discurso transmitido pela televisão nacional.

Ele não abordou o boicote. Observando que o eleitorado “continua profundamente dividido”, Macron prometeu “respeitar todos os caledônios”, incluindo aqueles que votaram pela saída.

A votação de domingo foi a terceira e última em um processo de décadas com o objetivo de resolver as tensões entre os nativos Kanaks que buscam a independência e aqueles que desejam que o território permaneça parte da França.

Mas o processo não termina com o último referendo. O Estado, separatistas e não separatistas agora têm 18 meses para negociar um novo status para o território e suas instituições dentro da França.

“Estamos chegando a um novo estágio”, disse Macron, pedindo negociações sobre novas estruturas para lidar com crises de saúde, impulsionar a economia, melhorar os direitos das mulheres e proteger o meio ambiente das mudanças climáticas – uma grande preocupação no território insular.

O FLNKS, partido pró-independência, ameaçou recorrer a recursos internacionais para tentar invalidar os resultados e disse que não vai iniciar as negociações até ter tempo para analisar os próximos passos.

“O direito do povo Kanak à autodeterminação não terminará na noite de domingo ou na manhã de segunda-feira”, disse Jean-Philippe Tjibaou, filho de um líder separatista assassinado, à emissora pública France-Info. Falando de uma cidade que votou 100% pela independência nos dois últimos referendos, mas boicotou a votação de domingo, ele disse: “Nós seguimos o trabalho dos mais velhos. E nossos filhos vão persegui-lo depois de nós.”

A campanha e o dia da votação foram excepcionalmente calmos por causa do pedido de boicote, embora o Estado tenha mobilizado 1.750 policiais e forças de segurança para o caso de distúrbios.

O resultado é um impulso para Macron tanto internamente — ele deve enfrentar um duro desafio de nacionalistas de extrema direita na eleição presidencial de abril — quanto internacionalmente.

A França está tentando consolidar sua presença na região do Indo-Pacífico depois de perder um contrato de submarino multibilionário por causa de uma parceria que a Austrália formou com os Estados Unidos e o Reino Unido.

Alguns países da região “poderiam apreciar a postura equilibrada da França no que se poderia chamar de guerra fria sino-americana”, disse Caroline Gravelat, da Universidade da Nova Caledônia. Outros consideram o papel da França no Pacífico Sul desatualizado.

A Nova Caledônia está entre as 17 ex-colônias em todo o mundo que a ONU ainda classifica como não-autônomas e programadas para esforços de descolonização. As outras são principalmente ilhas administradas pelo Reino Unido ou pelos Estados Unidos.

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