Numape: pandemia trouxe desafios para atendimentos
Este mês também é lembrado como o Agosto Lilás – mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher. O Núcleo Maria da Penha (Numape) – um projeto de extensão da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo – presta serviços de apoio para as mulheres vítimas de violência. A pandemia também interferiu nesses trabalhos.
“Por conta da pandemia, a equipe do Numape Toledo realiza boa parte de seus trabalhos de forma remota (home office). Esse formato de trabalho produz dificuldades para nós, que trabalhamos na equipe e para as mulheres que são atendimentos pelo Núcleo”, pontua a cientista social – bolsista do Numape de Toledo – Camila Alves. “O trabalho remoto oferece condições precárias de atendimento às mulheres. O contato inicial com aquelas que entram em contato com a equipe acontece pelo Whatsapp e os atendimento são realizados por videoconferência no Google Meet”.
Segundo Camila, esse formato de intervenção depende que as mulheres possuam aparelhos com acesso à internet, bem como, que os bolsistas da equipe tenham seus próprios computadores e uma boa internet em casa para dar conta da demanda de trabalho e, conforme a cientista social, estas não são condições acessíveis para todos.
“A pandemia da Covid-19 acirrou um processo que já vinha acontecendo nos últimos cinco anos. Estamos em um momento de retrocessos e desmonte de políticas públicas em todos os níveis. Muitos dos direitos que as mulheres lutaram para conquistar estão sendo ameaçados e pouco temos avançado na ampliação da garantia de direitos. Em relação à proteção das mulheres, embora a gravidade da violência contra a mulher tenha aumentado durante a pandemia, o governo brasileiro não investiu em políticas de enfrento à violência”, lamentou.
AMPARRO ÀS VÍTIMAS – Camila pontua que o Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos gastou pouco mais de 30% do orçamento disponível para o enfrentamento da violência contra as mulheres – Fonte: Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) 2020. “Os serviços mais prejudicados pelo sucateamento das políticas públicas para mulheres são aqueles que promovem o acolhimento das mulheres em situação de violência e atuam no fortalecimento e autonomia da mulher”.
Na análise da cientista social, apesar de o governo ter investido 75% dos recursos no Disque 180, um importante canal de denúncia e orientação para mulheres, quase não houve investimentos nos serviços que acolhem essas mulheres depois da denúncia. “Sem recursos para abrigo, atendimento psicológico, jurídico e socioassistencial, as mulheres ficam desamparadas e muitas não têm para onde ir depois de uma denúncia. Aqui em Toledo é possível observar os impactos dessa lógica de achar que políticas de enfrentamento à violência se resumem apenas à denúncia. Observamos a fragilização da rede de enfrentamento da violência contra as mulheres com a extinção da Secretaria de Políticas para Mulheres e com a falta de recursos para ampliar os atendimentos realizados pelos equipamentos de Proteção Social do município”, pontua.
VÍTIMA x AGRESSOR – Camila salienta que, “de acordo com Villian Veiss, assistente social do Numape Toledo, as mulheres atendidas pelo Núcleo são da classe trabalhadora com idade entre 18 a 59 anos; a maioria encontra-se na faixa dos 30 aos 40 anos; são mulheres brancas, seguidas de pardas e negras; desempregadas (sim vínculo formal de emprego) e são usuárias de benefícios eventuais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), como o Bolsa Família, cestas básicas, e benefícios de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial”.
Os dados apontam também que a maioria das mulheres atendidas são mães, chefes de família e a principal responsável pelo sustento, cuidado e educação de seus filhos (apresentam como demanda principal a pensão alimentícia para os filhos, guarda e divórcio). Em relação aos agressores, a maioria são companheiros ou ex-companheiros e uma considerável parcela dos agressores são usuário de substâncias psicoativas, principalmente álcool. Eles são agressivos e com comportamento controlador. Muitos se recusam a pagar pensão e para isso, preferem trabalhar na informalidade para omitir renda.
Da Redação
TOLEDO
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