‘O denuncismo é muito danoso à vida brasileira’, diz Azeredo

O ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, de 73 anos, diz não sentir mágoas do PSDB, apesar de “alguns” correligionários terem evitado mantê-lo “muito perto” durante o processo que culminou com sua prisão, em maio de 2018, pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro no caso que ficou conhecido como mensalão mineiro. Em entrevista ao Estadão, Azeredo evita nomear os tucanos que lhe faltaram com amparo, reconhece dificuldades na corrida ao Planalto para João Doria – atual presidenciável do partido que ajudou a fundar, comandou e do qual se desfiliou em 2019 – e diz lamentar a possibilidade de Geraldo Alckmin compor chapa com Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-governador reforça a avaliação de que sua condenação a 20 anos de prisão serviu como um “contraponto” ao mensalão do PT e se diz vítima de um “denuncismo” muito “danoso à vida brasileira”. Nos 18 meses em que permaneceu no 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte, Azeredo começou a redigir o livro autobiográfico O X no Lugar Certo, que será lançado em março. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O sr. ficou preso de maio de 2018 a novembro de 2019. Deixou o PSDB, partido que chegou a presidir, e se afastou da política. Como encara hoje esse processo?

Me afastei exatamente por força das circunstâncias e senti, em alguns momentos, que alguns do PSDB não me queriam muito perto. Isso é um fato superado. Continuo achando que o PSDB, do ponto de vista de ideário, é um partido forte, maduro.

O sr. sempre se disse vítima de uma investigação que foi usada para “compensar” o mensalão que atingiu o PT. Há avaliações de que a luta anticorrupção ganhou feição de combate à política…

Sem dúvida alguma. O denuncismo é muito danoso à vida brasileira. Porque, grosso modo, pode-se dizer que, de cada dez denúncias, apenas uma tem guarida. As outras são meros balões de ensaio ou desconfianças que se levantam. Fui vítima seguramente disto. Tive uma campanha eleitoral em que a prestação de contas foi a mais alta, mas era incompleta. Mas não era eu o responsável por isso, como acontece em todas as campanhas. Nunca houve mensalão mineiro. Esse termo foi usado para compensar o mensalão do PT.

Pretende voltar para a política, disputar um mandato? Como avalia o atual cenário político nacional?

Na verdade, fui muito além do que poderia imaginar. Meu pai (o ex-deputado Renato Azeredo) tinha o sonho de ser prefeito e governador, e eu realizei. Depois, ainda fui senador. As circunstâncias atuais não me dão entusiasmo para disputar uma eleição, mas confesso que cheguei a pensar quando (o senador) Tasso Jereissati era uma hipótese de candidato a presidente (pelo PSDB).

Cogita voltar ao PSDB?

Tenho sido convidado pelo próprio partido para retornar ao PSDB e fui convidado por outros partidos para voltar a disputar (uma eleição).

Como vê o partido hoje e a candidatura de João Doria à Presidência?

O PSDB precisa ter uma nova visão. O Doria foi um bom prefeito. É um bom governador. Ele tem muitos pontos positivos. Ele precisa ser mais conhecido, precisa ficar mais simpático. A política leva essas questões em consideração.

Qual é a avaliação do sr. sobre a saída de Geraldo Alckmin do PSDB e a possibilidade de ele formar uma chapa com Lula na disputa presidencial?

Lamento muito. Não me agrada essa união, com todo o respeito ao Lula.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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