O fino sabor da produção do Oeste é protagonista em inovação

Os primeiros raios de sol que surgem no horizonte indicam mais um dia de trabalho intenso na propriedade da família Giombelli. Localizado na Linha Tapuí, no município de Toledo, região Oeste do Paraná, o sítio tem uma longa história de superação, de ousadia e de inovação.

A sede da propriedade fica no alto de uma colina. Dela é possível apreciar alguns prédios em Toledo, ver o desenvolvimento e o progresso de uma cidade próspera que tem na atividade agropecuária sua maior riqueza.

Entre lavouras de milho e de soja, a propriedade agrega uma das atividades mais tradicionais da família, a produção de queijo. Gelir Maria Giombelli é, atualmente, a responsável por esse trabalho, uma herança afetiva que recebeu da sua mãe Deonilde.

A vida não era fácil, mas na mesa da família o queijo colonial esteve sempre presente. Quando se casou com Severino Giombelli, Deonilde trouxe a receita do queijo de Santa Catarina para o Paraná junto a mudança da família em 1965. Somente em 1986, a família se instalou na propriedade na Linha Tapuí. No mesmo ano uma crise climática prejudicou a atividade agrícola na região desafiando a família Giombelli.

“Com essa crise, a mãe começou a diversificar o trabalho na propriedade para ter mais renda. O queijo foi uma oportunidade para atravessar aquele momento difícil. Aumentamos a quantidade de vacas para ter mais leite e produzir mais queijo para a venda”, lembra Gelir.

O sabor, a textura e o capricho da família Giombelli tornaram famoso o queijo colonial produzido na propriedade há 36 anos. Com o apoio e a assistência do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Gelir conseguiu ao longo dos anos padronizar o seu queijo. “Foi um trabalho de manejo e boas práticas com os animais, envolvendo a nutrição animal. Desta forma, o produtor conseguiu agregar mais valor ao produto”, explica a técnica do IDR-PR Valmira Antunes Dias.

O QUEIJO – Recentemente, Gelir deu um passo de ousadia. A convite do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ela começou um curso de aperfeiçoamento de queijo e, posteriormente, viajou à Itália para conhecer outros produtos. Após um ano, Gelir aceitou participar do projeto Queijos Finos, uma iniciativa do Biopark cujo objetivo é trazer o autêntico sabor e a qualidade dos queijos finos europeus a Toledo e a região Oeste do Paraná.

Como prata da casa, o queijo fino ganha novos apreciadores – Foto: Graciela Souza

“Eles [Biopark] trouxeram uma cunha do queijo Tomme Negro, experimentei, compartilhei com minha família e decidi que esse seria o meu queijo”, cita Gelir ao complementar que recebeu apoio nas etapas de produção, como o diagnóstico da propriedade rural, a transferência da tecnologia e o suporte para inserir o produto no mercado.

O Tomme Negro D’Oeste é uma produção adaptada para a região com um diferencial: o tipo de leite traz mais suavidade ao queijo e o processo de maturação garante o sabor e a qualidade. Sua casca de cor preta é proveniente da aplicação de um revestimento comestível. O produto final é um queijo comercializado com o Selo de Qualidade do Biopark.

Há pouco mais de quatro meses no mercado, o Tomme Negro D’Oeste foi premiado em São Paulo com medalha de Prata no 2º Mundial do Queijo do Brasil, em setembro deste ano. Outros dois queijos do projeto do Biopark também receberam a premiação.

“O prêmio foi uma surpresa. Eu só queria fazer um queijo fino e ele virou famoso mundialmente. Ainda não caiu a ficha”, celebra a produtora. Além do Tomme Negro D’Oeste, Gelir continua com a produção do queijo colonial.

TRADIÇÃO – Aclamados no mundo, os queijos finos são sinônimo de sabor e de tradição. São delícias antigas, mas com o sabor da sofisticação do presente. Em Toledo, o projeto Queijos Finos é coordenado pelo Laboratório de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Queijos Finos, do Biopark Educação.

A supervisora de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Biopark, Carolina Balera Trombini, conta que essa iniciativa é dos fundadores do Biopark, Dr. Luiz e Dra. Carmen Donaduzzi. “Ambos acreditam no desenvolvimento das pessoas, no desenvolvimento do negócio, no desenvolvimento da região Oeste do Paraná”.

O Biopark tem a essência e a missão de trazer inovações para a vida. O projeto Queijos Finos é parte da história do Parque Tecnológico e surge em março de 2019. “Um projeto idealizado para trazer capacitação, tecnologia, inovação e valorização ao produtor rural”, comenta Carolina.

A pesquisa, o desenvolvimento e a inovação são características do projeto e o Biopark provê a estrutura necessária para que elas sejam amplificadas. Carolina explica a importância de ter uma equipe técnica qualificada, de receber o apoio de consultores técnicos, muitas vezes internacionais e especialistas em desenvolvimento de queijos.

“Hoje temos no Laboratório tecnologias de fabricação de queijos finos, consideradas inéditas no Brasil”, menciona a supervisora ao destacar que o projeto começou a desenvolver queijos autorais. “Vislumbramos, em um futuro não muito distante, que a região Oeste do Paraná terá uma Denominação de Origem Protegida para Queijos. São ações para trazer inovação à nossa região”.

Gelir aplica todos os conhecimentos adquiridos com o Biopark na produção do queijo fino – Foto: Franciele Mota

PROTAGONISMO – Atualmente, 12 produtores de oito municípios diferentes estão associados ao projeto Queijos Finos e existem nove tipos de queijos em comercialização: Brie, Camembert, Petit Brie Triplo Creme, Creme de Brie, Gouda, Saint-Paulin, Morbier, Cheddar D’Or e Tomme Negro D’Oeste.

A delimitação territorial de atuação do projeto Queijos Finos é a região Oeste, local onde o Biopark está inserido. Carolina afirma que muitos municípios e produtores ainda podem ser alcançados nesta região. “Queremos oportunizar o acesso a mais tecnologia e mais inovação, voltada para o campo do Oeste paranaense”.

Os produtores – inseridos no projeto – estão com seus negócios em plena expansão e com cases de vendas sendo apresentados no estado. “Essa ação é incentivada no projeto, porque os produtores devem estar fisicamente no Oeste do Paraná, mas os Queijos Finos devem conquistar o mundo! O agregamento de valor e o aumento no faturamento com a produção de queijos finos beneficiam o produtor e a região. Toledo e o Oeste crescem economicamente e turisticamente. Todos são beneficiados com esse processo”.

O vice-presidente do Biopark, Paulo Victor Almeida, destaca que o trabalho realizado pelo Laboratório do Parque Tecnológico agrega na cadeia agropecuária da região. “Você parte de um produto que era entregue praticamente ‘in natura’ e começa a atuar na valorização da cadeia. Uma mudança cultural que acontece na região Oeste e se mantém de maneira progressista”, enfatiza.

Almeida esclarece que o Biopark está como um dos atores principais na mudança do queijo padrão para o fino. “Queremos entregar valor à sociedade e gerar renda às famílias das pequenas propriedades rurais. Considero o projeto de Queijos Finos do Biopark um dos melhores projetos de impacto institucional. É difícil entender o que é um Parque Tecnológico, mas é fácil provar um bom queijo. Para o Biopark, além do amor em formato de alimentação e capricho, ele serve para que as pessoas, literalmente, degustem do que é participar de um ambiente de inovação com foco no desenvolvimento de novos produtos”, complementa o vice-presidente.

Para Gelir, o protagonismo do seu queijo fino na região Oeste já é consolidado e com outros produtores ela acredita em um caminho de expansão. “Temos um futuro pela frente, com mais queijos e quem sabe, mais reconhecimento”.

O próximo passo será a inclusão da propriedade, conhecida como Vila Belli, no circuito Rota do Queijo Paranaense, um projeto que congrega diferentes opções de queijos produzidos por produtores rurais. “A Rota do Queijo, proporciona aos produtores e demais parceiros a oportunidade de dar mais visibilidade aos queijos tornando-os protagonistas em cada região”, conclui a técnica do IDR-PR Valmira.

Franciele Mota

Graciela Souza

Da Redação

TOLEDO

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