Obesidade na adolescência: pandemia continua refletindo na balança
Perder peso, ter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física constantemente não são lutas apenas de gente grande. Adolescentes também vivem essas batalhas, para eles ainda é preciso enfrentar o bullying e problemas com autoestima. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) indicam que, neste ano, 5,38% dos adolescentes estão com obesidade grave no Paraná.
Segundo o estudo do Sisvan em 2019, no Estado, 2,88% dos adolescentes estavam em condições de obesidade grave; 10,97% com obesidade; 20,57% com sobrepeso e 62,81% com eutrofia – apresenta boa nutrição; que possui uma alimentação de qualidade. Já no ano passado, com obesidade grave eram 4,05%; obesidade, 12,98%; sobrepeso, 21,7%; e eutrofia, 58,57%.
“Os dados dos primeiros meses deste ano já servem de alerta aos pais e responsáveis para que tenham atenção em relação a conduta alimentar e prática de atividade física dos adolescentes. Ainda não podemos estabelecer uma análise mais complexa, apenas com a prévia deste período, mas quando comparamos os dados de 2019 e 2020, já notamos as mudanças que não foram positivas”, avalia a nutricionista, Ana Paulla.
EM ALERTA – A profissional alerta que combater a obesidade deve ser uma luta familiar. “O sobrepeso até chegar na obesidade é uma condição que vai ocorrendo de forma gradativa. Contudo, por vezes, isso passar de forma despercebida pelas pessoas de convívio, por exemplo, os pais nem sempre notam que o adolescente está comendo em excesso e parou de praticar atividade física, no cotidiano da família. Esse adolescente é visto por outra pessoa que não é do convívio diário e é essa pessoa que nota as mudanças nesse adolescente”.
Ana comenta que após a família se deparar com o excesso de peso, ele não pode ser ignorado. Ela pontua que os familiares não podem ter a visão de que adolescente está totalmente saudável, de que as coisas irão mudar sem nenhum esforço e ainda alerta que a obesidade tende a ocasionar doenças crônicas e fazer com que os adultos obesos sejam mais propícios a terem diabetes, hipertensão, sofrerem um infarto, entre outras complicações de saúde.
OBESIDADE x ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL – A nutricionista recorda que para a Organização Mundial da Saúde (OMS) os problemas que o sobrepeso podem desencadear são considerados alguns dos principais desafios para o século XXI. Ela reforça que a obesidade e o sobrepeso envolvem questões financeiras e culturais que estão diretamente ligadas a qualidade de vida das famílias e, consequentemente, na educação alimentar das crianças e adolescentes.
“O processo de educação alimentar começa no início da infância. Os responsáveis pelos cuidados da criança podem interferir diretamente no desenvolvimento do paladar. Não oferecer açúcar antes dos dois anos e depois disso seguir com alimentos saudáveis ao evitar guloseimas, evitar também alimentos processados e industrializados, não utilizar sal nas papinhas antes da bebê completar um ano de idade, ter sempre em casa frutas, legumes e verduras, são condutas que devem ser mantidas, pois interferem na oferta de uma alimentação saudável”, garante.
Ana comenta que as crianças tendem a reproduzir os comportamentos dos adultos e se tiverem como exemplos maus hábitos de alimentação, tudo indica que irão seguir isso no adolescência. “O sobrepeso e a obesidade envolvem diversos fatores que estão relacionados a conduta diária da família. Ou seja, se todos optam em fazer refeições mais calóricas, com excesso de sódio e açúcar, sem horários definidos e não praticam atividade física, não conseguem ensinar as crianças e aos adolescentes a fazerem o contrário disso. O exemplo é sim a atitude que será seguida com mais facilidade. Eles podem até receber as devidas orientações no âmbito escolar, mas fica mais difícil seguir em casa. Além disso, passamos por um longo período sem a presença deles nas escolas, ainda estamos em um momento de ajustes, e dessa forma, as crianças e adolescentes continuam sem aquele contato mais cotidiano com outros hábitos alimentares de atividade física”.
A nutricionista declara que cada situação é avaliada individualmente. Ela pondera que cada família tem suas particularidades, com formatações variadas, vulnerabilidade financeira que pode impedir a boa alimentação, horário de trabalho diferenciado que tendem a interferir nas refeições, problemas psicossociais, dificuldades em acessar as políticas públicas, entre outras situações que acabam desencadeando condições de sobrepeso e obesidade.
CONTRA A BALANÇA – O combate ao sobrepeso, segundo a nutricionista, inicia na gestação com os cuidados em relação a alimentação da gestante. Após o nascimento, o recomendado é que o bebê receba o aleitamento materno até completar dois anos ou mais, sendo exclusivo nos seis primeiros meses. Até a criança completar dois anos de idade é importante evitar o açúcar e, depois isso, manter uma alimentação saudável.
“Manter uma alimentação saudável é importante em qualquer idade. Também é preciso manter o corpo em movimento. O adulto deve ter uma atenção especial em relação ao que as crianças e adolescentes colocam no prato. Todos sabem que devemos evitar produtos ultraprocessados e industrializados. Nós somos responsáveis pelos alimentos que consumimos, devemos tentar manter, na medida do possível, horários para as refeições, ficar longe das telas durante as refeições, pois gera distração e dessa forma acabamos podemos não perceber o quanto comemos e partimos para o excesso. Nosso corpo é nossa casa, temos que manter em ordem, cuidar bem, hidratar, praticar uma boa alimentação, se exercitar e cuidar da mente. Tudo está interligado e precisa atenção. A pandemia não acabou e tende a trazer reflexos em longo prazo, os cuidados precisam ocorrer agora”, enfatiza a nutricionista.
Da Redação
TOLEDO
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