Onda de protestos na Irlanda do norte aumenta tensões com reino unido após Brexit

A tensão criada pelo Brexit foi combustível para a sexta noite seguida de protestos violentos na Irlanda do Norte, inflamada pelo sentimento de traição dos unionistas, que defendem a permanência da região no Reino Unido.

Nesta quinta-feira, 8, os governos inglês, irlandês e norte-irlandês condenaram a nova onda de conflitos no país, que registrou incêndio de um ônibus e uso de bombas. Para tentar conter a situação, o parlamento regional da Irlanda do Norte foi convocado para uma reunião de emergência, nesta quinta.

Na semana passada, a violência eclodiu pela primeira vez na cidade de Londonderry, antes de se espalhar para Belfast e arredores no fim de semana da Semana Santa. Nos protestos, carros foram incendiados, e ativistas jogaram coquetéis molotov contra a polícia. Ao menos 41 policiais ficaram feridos nos confrontos.

O início das tensões na cidade de 100 mil habitantes é simbólico. Londonderry fica na Irlanda do Norte, a metros da divisa com a República da Irlanda.

A fronteira entre a Irlanda do Norte, de maioria protestante e que faz parte do Reino Unido, e a República da Irlanda, de maioria católica e que integra a União Europeia, está aberta desde que o acordo de paz firmado em 1998 encerrou mais de três décadas de conflitos violentos.

Agora, a ideia de criar uma separação física entre os dois países que dividem a mesma ilha gerou os recentes conflitos.

Noite de tensão

Várias pessoas se reuniram na quarta-feira à noite em Lanark Way, uma área de Belfast onde foram instaladas grandes barreiras de metal para separar um bairro católico de outro protestante.

“Centenas de pessoas dos dois lados usaram coquetéis molotov”, tuitou um jornalista da BBC no local. Ele também informou que a chegada da polícia reduziu consideravelmente o nível da violência.

Sete agentes ficaram feridos durante a noite – 41 pessoas foram feridas nos últimos dias -, assim como um fotógrafo e um motorista de ônibus, informou a polícia.

“Conversei com o chefe de polícia, que está informando os partidos políticos”, afirmou a primeira-ministra da Irlanda do Norte, a unionista Arlene Foster, sobre a convocação para reunião do parlamento. “Meus pensamentos estão especialmente voltados para os agentes feridos pela violência injustificável dos últimos dias”, completou.

“Os responsáveis devem ser submetidos a todo o rigor da lei porque todos devem ser iguais perante a lei”, escreveu no Twitter.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou no Twitter que está “profundamente preocupado” com a situação. “A forma de resolver as diferenças é o diálogo, não a violência ou a criminalidade”, escreveu.

O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, considerou que “a única maneira de avançar é abordar as questões que preocupam através de meios pacíficos e democráticos”.

“Agora é o momento de que os dois governos e os líderes de todas as partes trabalhem juntos para reduzir as tensões e restabelecer a calma”, afirmou.

Reavivar o fantasma do conflito

A nova noite de violência se une a uma semana de protestos que evidenciam o crescente conflito existente na Irlanda do Norte, onde as consequências do Brexit revoltaram os unionistas partidários da coroa britânica.

Os incidentes reavivaram o fantasma das três décadas de conflito violento entre republicanos católicos e unionistas protestantes, que deixaram quase 3.500 mortos.

O acordo de paz da Sexta-Feira Santa, assinado em 1998, acabou com a fronteira entre a província britânica e a vizinha República da Irlanda – país membro da UE -, mas o Brexit abalou o delicado equilíbrio, exigindo a adoção de controles alfandegários entre o Reino Unido e a União Europeia.

Após duras negociações, Londres e Bruxelas alcançaram uma solução, conhecida como “protocolo da Irlanda do Norte”, que evita o retorno de uma fronteira física na ilha da Irlanda e transfere os controles aos portos norte-irlandeses. (Com agências internacionais)

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