Operação da PF queima embarcações ilegais de garimpo no Rio Madeira

As ações federais de repreensão ao garimpo ilegal ao longo do Rio Madeira, no Estado do Amazonas, tiveram início na madrugada de sábado, 27. Ao menos 31 balsas já foram apreendidas pela Operação Uiara, que reúne agentes da Polícia Federal, do Ibama, da Marinha e da Aeronáutica. Parte dos equipamentos está sendo queimada pelos agentes. Durante as abordagens, uma pessoa foi presa e conduzida para a superintendência do Amazonas. Ela estava com uma quantidade de ouro.

A apreensão ocorreu nas águas do Madeira que cortam o município de Nova Olinda do Norte. Aglomeradas há mais de uma semana na região de Autazes, município que fica a 230 quilômetros de barco de Manaus, em viagem pelos Rios Amazonas e Madeira, mais de 300 balsas se dispersaram ontem, após informações de que haveria, de fato, uma operação federal de grande porte. O deslocamento dessas balsas, porém, é lento.

Na tentativa de escapar da fiscalização, é comum a situação em que o garimpeiro recolhe a balsa para uma margem, retira o maquinário que puder e abandona a balsa. Em outros casos, tenta esconder o equipamento em pequenos afluentes do rio. Relatos de garimpeiros apontavam que estava sendo extraída “1 grama de ouro por hora” no Rio Madeira, o que atraiu muitas balsas para a região. A lavra clandestina de ouro ao longo desses afluentes é um problema histórico e conhecido de todo o setor público. Essa mesma atividade criminosa se espalha há décadas por outros rios do Amazonas, como o Tapajós, na região de Itaituba. O que chamou atenção no caso atual, porém, foi a aglomeração de balsas numa mesma região, nas proximidades dos municípios de Autazes. Para retirar o ouro do fundo do rio, essas balsas utilizam longas mangueiras. Elas sugam a terra e tudo o que encontram no fundo.

A operação dos órgãos federais reúne agentes de Paraná, Brasília, Amazonas, Paraíba e Pará. A debandada dos garimpeiros pode dificultar o trabalho de capturar todas as balsas. Por outro lado, facilita o trabalho de abordagem policial. Havia grande tensão sobre a forma como os garimpeiros seriam abordados. O nome Uiara, escolhido para a operação, tem origem na língua tupi e significa “mãe da água”. Não há data definida para a mobilização acabar.

MENSAGENS

Por meio de trocas de mensagens, os garimpeiros já comentavam sobre a mobilização de repreensão desde a quarta-feira. Ainda assim, permaneceram por mais três dias atracados em fileiras. Na sexta-feira, porém, desmobilizaram e se espalharam pela calha principal do Rio Madeira. Durante a semana, alguns garimpeiros chegaram a trocar mensagens sobre suposta mobilização para revidar às ações de fiscalização, mas recuaram diante da informação de que as autoridades estariam mobilizando forte aparato policial.

A repreensão policial envolve equipes que entraram pelo rio, por meio de helicópteros e pelas estradas da região. Os garimpeiros, que se deslocaram para a região de Humaitá, na divisa de Amazonas e Rondônia, têm trocado alertas sobre a mobilização. “Nova Olinda até Autazes, não tem lugar nem no chão nem na terra.

Só eles que tá dando. Estão de helicóptero e o caralho… de voadeira. Tão até pelo fundo, eu acho”, afirma um garimpeiro, em mensagem obtida pela reportagem.

As autoridades federais não haviam dado detalhes sobre seus planos na região, mas o que se articulava vinha sendo chamado internamente, pelos membros do governo, de uma “operação de guerra”, com bloqueio de passagens pelo Rio Madeira e por estradas que chegam à região onde estavam as embarcações. Ao Estadão, o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, que atuou por dez anos à frente da PF na região amazônica, disse que a melhor estratégia para impedir o avanço das centenas de balsas de garimpo ilegal seria o corte de suprimentos usados pelos equipamentos.

Saraiva afirmou que chegou a viver situações parecidas em apreensões de balsas e que a medida mais efetiva, nestes casos, é acabar com a logística. “Quando você acaba com o combustível, com a chegada de peças de reposição, você paralisa a atividade. Tem de deixar passar só água e alimento, para ninguém morrer de fome. Fora isso, não pode entrar nada”, disse.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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