Os desafios para as ‘salas seguras’ de cinema
A situação pode desafogar a partir de sábado, 24, quando as salas estão autorizadas a reabrir, com até 25% de ocupação e das 11h às 19h.
A pandemia chegou mais perto de Adhemar Oliveira, que dirige a cadeia formada pelo Arteplex e Espaço Itaú. Ele testou positivo, mas ficou assintomático. Sua mulher, a programadora cultural Patricia Durães, precisou ser hospitalizada durante dez dias. As salas de Adhemar, que obedecem a estritas normas de segurança, estão fechadas. Ele também se queixa: “Veja o que ocorreu na Inglaterra, em Nova York. Eles fecharam radicalmente – aqui, o lockdown segue o efeito sanfona: abre e fecha.”
Jean-Thomas Bernardini, presidente da distribuidora Imovision e das salas da Reserva Cultural, concorda. “Estamos fechados, não apenas aqui, mas também em Niterói, no Estado do Rio.”
E acrescenta: “São empresas distintas, a Imovision e a Reserva. Operam com a distribuição e a exibição. Sempre tivemos um público de cinéfilos e foi atendendo a esse público que incrementamos os lançamentos em DVD. Não misturo as coisas, mas eles ajudaram bastante a equilibrar as contas.”
Em tempos de pandemia, Sturm comemora um ano de streaming – o Belas Artes à La Carte já formou seu público, com uma carteira de filmes clássicos e novos que tem mantido o público fiel.
A Reserva lança sua plataforma nesta semana. “Nesses tempos de pandemia, um serviço de streaming não é exatamente uma novidade, mas, para mim, é a concretização de um sonho.”
Há 32 anos operando no mercado de cinema brasileiro como distribuidor, exibidor e até coprodutor, Jean-Thomas formou uma carteira considerável. Só de inéditos que a distribuidora tem para lançar o número chega a 39. “A plataforma quase saiu em 2017, mas aí, no meio do processo, começamos a pensar se seria viável.”
No fim de 2019, estava tudo certo e a Reserva Imovision já estava saindo do papel quando estourou a pandemia. “Agora é o nosso momento. Estou me sentindo como um atleta pronto para participar da Olimpíada.”
Adhemar vai no que parece a contracorrente. Seu streaming também está no horizonte, mas ele não tem pressa. Não tem visto muita coisa. Tem lido, pesquisado. “Busco informações em toda parte para descobrir como o País superou a espanhola e retomou à normalidade.”
Refere-se à gripe que causou centenas de milhares de mortes no começo do século passado. Há cem anos! Naquele tempo, os cinemas não estavam organizados como hoje. Os filmes eram espetáculos e ele quer saber como foi a volta. “Que lições podemos aprender com a experiência daquele tempo?” Adhemar não tem dúvida de que o streaming veio para ficar, mas pensa numa convivência, ou coexistência. “Não acredito que o público vá desistir completamente dos cinemas.”
Sonha com a volta, mas gostaria que fosse planejada. “Tenho protocolos, e não apenas os sanitários, que preciso cumprir. É difícil honrar compromissos com shoppings e distribuidores se cada lugar opera de um jeito. São Paulo abre, o Rio fecha, e vice-versa. Tenho de pensar nacionalmente.”
Desde o nome, a Reserva Imovision incorpora o espírito de programação do Reserva com a seleção de títulos que só a Imovision tem. Inicialmente serão mais de 250 títulos do catálogo da distribuidora, somados a séries – “o público exige” – e novas aquisições. Toda semana, a plataforma estará estreando novos conteúdos em duas modalidades – assinatura, que disponibilizará todo o catálogo, e aluguel, com títulos específicos. A previsão é chegar a mil filmes até o fim do ano. Jean-Thomas não nega: “Sou otimista.”
Sua carteira privilegia a produção europeia – predominantemente francesa – e o cinema independente norte-americano.
No Belas, a seleção é especial. Na semana passada, houve um superlançamento, Meu Pai, de Florian Zeller, indicado em seis categorias ao Oscar, e obras que estão sendo resgatadas. Um policial de Jacques Déray com o astro Alain Delon (O Manipulador de Paixões), um drama romântico de Jon Amiel (Sommersby – O Retorno de Um Estranho), com Richard Gere e Jodie Foster, remake de um sucesso francês (Le Retour de Martin Guerre), e um documentário do grande autor argentino Fernando Solanas (O Legado Estratégico de Juan Perón).
Sturm é cauteloso quanto ao retorno dos cinemas, num novo normal. “A gente lutou muito, e com apoio da população, para reabrir e manter abertas essas salas. Formamos gerações de espectadores, não creio que esse público vá desistir. O que precisamos é de confiança, que só a vacinação em massa poderá dar. Pretendo voltar só quando a maior parte da população estiver imunizada.”
Jean-Thomas avaliou da seguinte maneira: “A relação dos cinéfilos com as salas é um ato de amor. Enquanto existirem cinéfilos, existirão as salas, mas sempre com segurança. Muita coisa poderá ou terá de mudar. Nossa programação é feita com carinho. Nossos autores merecem muito mais do que isso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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