Participação baixa em eleição no Irã indica perigo para teocracia do país
Para o professor de política da Universidade de Teerã Sadegh Zibakalam, a baixa votação é um ponto de inflexão para o regime. “A maioria não participa das eleições, e isso significa que a maioria não apoia mais a República Islâmica”, afirmou em um seminário do King’s College London, de acordo com o jornal The Guardian.
A baixa participação já era esperada. Mais de 600 candidatos foram descartados pelo Conselho dos Guardiões – que decide quem pode concorrer – em uma seleção duramente criticada por desqualificar várias figuras importantes associadas a facções centristas ou reformistas, incluindo Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento e negociador nuclear, e candidatos proeminentes, como o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, que defendeu o boicote à eleição.
A apatia dos eleitores, no entanto, vem de antes da decisão do Conselho dos Guardiões, em parte devido à economia devastada e à campanha contida em meio a um aumento nos casos de coronavírus. A Agência de Pesquisa de Estudantes Iranianos, vinculada ao Estado, projetou mais recentemente uma participação de 42% dos 59 milhões de eleitores qualificados do país.
O governo manifestou preocupação com o cenário. Na quarta-feira, o aiatolá Ali Khamenei fez um extenso discurso televisionado que alertava sobre uma conspiração estrangeira para minar a votação e tentou persuadir as pessoas a votarem, alertando sobre o “aumento da pressão” dos “inimigos” do Irã se os cidadãos ficassem longe das urnas nesta sexta-feira.
Khamenei atacou os “inimigos” do Irã por desencorajarem as pessoas a votar. Ele acusou a “mídia americana e britânica e seus mercenários” de “se matarem para questionar as eleições e enfraquecer a participação popular”.
Ele também reconheceu que muitos iranianos comuns, empobrecidos e castigados por anos de pesadas sanções americanas, podem não ver os benefícios da participação política. “Mas não votar por causa de reclamações (econômicas) não é correto”, afirmou.
As autoridades iranianas promovem a participação eleitoral como validação de seu estilo de governo depois que a Revolução Islâmica de 1979 instalou o sistema clericamente supervisionado que perdura até hoje.
Ao Guardian, a professora de política do Oriente Médio na Universidade de Cambridge Roxane Farmanfarmaian afirmou que o regime enfrenta uma crise de legitimidade. “Sempre soubemos que não são eleições livres por causa da seleção de candidatos, mas que a seleção sempre refletiu os diferentes grupos do governo. Desta vez, não, e reflete o desejo de controlar a situação. “
Para tentar contornar a situação, autoridades decidiram estender o horário de votação até a meia-noite (horário local, 16h no Brasil), período que pode ser estendido por até mais duas horas.
Os resultados serão conhecidos no final da manhã de sábado e, caso nenhum candidato atinja 50% dos votos, será organizado um segundo turno no dia 25 de junho entre os dois mais votados.
Reeleito no primeiro turno em 2017 com 73% de participação, o presidente Hassan Rohani reconheceu nesta sexta-feira que gostaria de ver “mais gente” participando. “As eleições são importantes aconteça o que acontecer e apesar dos problemas, temos de ir votar”, disse, referindo-se aos candidatos desqualificados. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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