Pesquisas do IDR-Paraná buscam novas tecnologias para impulsionar a agricultura orgânica
O Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná) faz pesquisas em agroecologia há mais de 30 anos. Já em 2004, o antigo Iapar criou um programa específico para reunir todos os projetos relacionados ao assunto, que se encontravam dispersos nas diversas linhas de investigação científica da instituição.
“O objetivo é desenvolver tecnologias para o sistema orgânico na agropecuária, que permitam a produção sustentável de alimentos com qualidade e proporcionem rentabilidade ao produtor”, explica a engenheira agrônoma e diretora de Pesquisa e Inovação do IDR-Paraná, Vania Moda Cirino. “Essas tecnologias também podem ser usadas em outros sistemas produtivos”.
Não é tarefa fácil. Esse tipo de agricultura exige uma abordagem ampla, de sistema, que possibilite ao produtor se antecipar aos problemas com pragas, doenças e plantas invasoras, em vez de abordá-los apenas quando aparecem. “Isso demanda amplo conhecimento e experiência”, aponta o pesquisador e coordenador estadual de pesquisas em agroecologia no IDR-Paraná, Luiz Antonio Odenath Penha.
Mesmo a comercialização desses produtos exige tratamento diferenciado. “Normalmente, o preço é superior, mas o atendimento a exigências legais, incluindo a separação dos produtos convencionais, pode reduzir o lucro do produtor no final do processo”, explica.
As pesquisas em agroecologia do IDR-Paraná abrangem culturas de grãos, fruticultura, horticultura, produção leiteira e comercialização. Em Londrina, Luiz Penha estuda a eficiência de plantas de cobertura em diferentes espaçamentos para controle e supressão de plantas invasoras. “Os resultados são ainda preliminares, mas aveia e o triticale vêm apresentando desempenho promissor para esse fim”, relata.
Estudos na área de fitossanidade, também conduzidos em Londrina, avaliam a eficiência de produtos aceitos no sistema orgânico para o controle de doenças em lavouras de feijão. Outra preocupação dos pesquisadores é o desenvolvimento de estratégias para o controle de pragas em plantios de tomate, como o uso de armadilhas luminosas e plantas que atraem insetos que agem como inimigos naturais.
No Polo de Pesquisas de Ponta Grossa, o pesquisador Renato Yagi investiga a possibilidade de utilizar fosfato natural conjugado com cama de aviário para reduzir a perda de amônia e aumentar a solubilidade do fósforo, o que facilita seu aproveitamento pelas plantas.
SOJA – O IDR-Paraná lançou no início deste ano três cultivares de soja apropriadas para cultivo no sistema orgânico para alimentação humana — IPR Basalto, IPR Petrovita e IPR Pé-Vermelho.
O diferencial das novas cultivares é produzir grãos de sabor delicado e que vão ao preparo culinário sem necessidade de tratamento térmico preliminar, informa o pesquisador Wilmar Ferreira Lima, melhorista que desenvolveu as opções para o mercado de orgânicos. São cultivares de alto potencial produtivo — pode passar de 5 toneladas por hectare — e bom desempenho contra as principais doenças que atingem lavouras de soja.
Precoces, chegam à colheita entre 115 e 125 dias após o plantio. E têm ampla adaptação, indicadas para cultivo na região Sul do estado de São Paulo, Paraná (com exceção do Noroeste), Santa Catarina (Oeste, Centro-Norte e Nordeste) e Rio Grande do Sul (Noroeste, Norte e Nordeste).
BÚFALOS – Implantado em 2010, um dos projetos de maior destaque avalia um sistema completo, e certificado, de criação de búfalos na estação experimental que o IDR-Paraná mantém na Lapa. “Os resultados permitem afirmar que é uma boa opção para a produção de laticínios de qualidade”, aponta o pesquisador José Lino Martinez, responsável pelo projeto.
Ele acrescenta que o estudo indica boas perspectivas também para recria visando à produção de carne orgânica. Outro resultado positivo foi a comprovação da eficiência do fertilizante orgânico torta de nim no controle de parasitas de intestino e vias respiratórias dos animais, particularmente bezerros.
Originário da Índia e Myanmar, o nim — árvore da mesma família botânica que o mogno, o cedro e a santa-bárbara — produz nas folhas, frutos e sementes um composto, a azadiractina, que tem ação inseticida, acaricida, nematicida e fungicida. Em 1986, o antigo Iapar (agora IDR-Paraná) introduziu o nim no Brasil para estudos como planta inseticida em um projeto de pesquisas sobre controle alternativo de pragas.
FRUTICULTURA – Há dois anos o IDR-Paraná conduz experimentos de macieiras com o objetivo de elaborar um protocolo de recomendações para a produção da fruta no sistema orgânico. Os ensaios são realizados em Palmas, Lapa e Pato Branco. “Temos bons resultados, acreditamos que no próximo ano será possível divulgar indicações técnicas consolidadas aos produtores”, revela o pesquisador Clandio Medeiros da Silva.
No Polo de Pesquisas de Pato Branco, o experimento com macieiras citado por Silva compõe um amplo sistema agroflorestal que foi instalado em 2019, trabalho em parceria com universidades e diversas entidades da região, incluindo organizações de produtores.
Nessa área, em processo de certificação, são avaliadas 34 espécies perenes — frutíferas, exóticas e árvores para obtenção de madeira —, além de plantas de cobertura e medicinais, mandioca em plantio direto, feijão e cultivares de uva, tanto para mesa como para produção de suco, informa a engenheira agrônoma Norma Kiyota, pesquisadora responsável pelo projeto.
COMERCIALIZAÇÃO – A produção e fornecimento de alimentos na própria região é uma das premissas da agroecologia. Por isso, pesquisadores da área de socioeconomia buscam entender as experiências do consumidor e os canais utilizados pelos produtores para escoamento da produção.
A percepção de produto saudável como fator de decisão foi captada por estudo de Kiyota envolvendo frequentadores de quatro feiras de orgânicos em bairros do município de Pato Branco. “O que motiva a escolha de produtos orgânicos é a saúde que estes alimentos podem propiciar”, relata.
Ela destaca também a importância dos vínculos que se estabelecem entre produtor, consumidor e até com as entidades que atuam no segmento. “Essas relações de confiança viabilizam e induzem a decisão de compras do consumidor”, afirma.
Para o pesquisador Moacir Darolt, que também se dedica ao tema, é bem caracterizada a inter-relação e interdependência entre os atores na produção e comercialização de orgânicos. “A circulação de produtos se dá pela venda direta e indireta — neste caso, geralmente com apenas um intermediário. Nos circuitos mais longos, a certificação tem o papel de assegurar a procedência e confiabilidade do produto”, esclarece Darolt.
O trabalho de pesquisadores do IDR-Paraná no campo da agroecologia gerou publicações que podem ser facilmente obtidas pelos interessados no assunto:
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Da AEN