Polícia diz não ter dúvidas sobre autoria do crime que vitimou o menino Henry
“Alguns pontos dessa conversa nos chamaram muita atenção. A babá fala que o Henry relatou a ela que o padrasto o pegou pelo braço, deu uma banda, uma rasteira, e o chutou. Ficou claro que houve lesão ali; fala que Henry estava mancando, que não deixou dar banho nele porque estava com dor na cabeça”, apontou o delegado Antenor Lopes, diretor da Polícia Civil na capital fluminense.
“Depois que veio o pior resultado possível de uma rotina de violência, que foi a morte do Henry, ela esteve em sede policial por mais de quatro horas e deu declarações mentirosas, protegendo o assassino do filho.”
Nessa linha, o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, descartou que Monique tenha sofrido qualquer tipo de ameaça do namorado; era, na verdade, uma aliada dele, disse. “Se eu tivesse percebido qualquer tipo de coação, não teria pedido a prisão dela”, apontou.
Jairinho e Monique são suspeitos de cometer homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura e sem capacidade de defesa da vítima. A prisão temporária, válida por 30 dias, foi justificada pela tentativa de atrapalhar as investigações. Ainda não houve denúncia.
No depoimento à polícia, o casal alegou que vivia em harmonia familiar com o menino. Não citou nenhum tipo de agressão e disse que existia na casa uma rotina de afeto. A partir de desdobramentos das apurações, no entanto, percebeu-se que a versão seria falaciosa. A polícia adquiriu recentemente o software Cellebrite, o mesmo usado, por exemplo, pelo Ministério Público do Rio. Ele permitiu uma série de análises avançadas nos materiais apreendidos nos mandados de busca e apreensão.
Além desses aspectos tecnológicos, a investigação analisou os laudos já produzidos e concluiu que não restam dúvidas sobre a autoria do crime. Henry apresentava lesões nos rins e no pulmão, por exemplo, e sangramentos internos, incompatíveis com um eventual acidente. Ainda há outros laudos pendentes, e por isso o pedido foi de prisão temporária. A investigação continua.
Henry foi deixado pelo pai por volta das 19h30 na casa de Monique e Jairinho, no dia 7 de março, há um mês. Estava sem nenhum tipo de lesão, de acordo com a investigação. Em poucas horas, chegou morto ao hospital. Apenas o casal esteve com o menino nesse intervalo.
A delegada Ana Carolina Medeiros, que conduziu a operação desta manhã, disse que o casal tentou se desfazer dos celulares quando a polícia chegou à residência, na zona oeste do Rio. Os aparelhos, contudo, foram resgatados pelos agentes.
O vereador e a mulher foram presos por agentes da 16ª DP (Barra da Tijuca). A polícia cumpriu mandados de prisão temporária expedidos pela juíza Elizabeth Louro Machado, do II Tribunal do Júri do Rio.
Henry morreu no Hospital Barra DOr, na Barra da Tijuca. Foi levado para lá pelo casal, que alegava tê-lo encontrado desmaiado no quarto onde a criança dormia. O menino estaria com olhos revirados, pés e mãos geladas e dificuldades para respirar. De acordo com os médicos, o garoto chegou ao estabelecimento em parada cardiorrespiratória. No Instituto Médico Legal (IML), a necropsia constatou múltiplos sinais de trauma, como equimoses, hemorragia interna e ferimentos no fígado, típicos de agressão.
A polícia suspeita que Henry tenha morrido depois de ser submetido por Dr. Jairinho a uma sessão de torturas, com o conhecimento de Monique. Aos investigadores, o casal afirmou suspeitar que o menino teria se ferido em uma queda. Os ferimentos, contudo, não são compatíveis com tal versão.
Jairinho foi o 16º mais votado dentre os 51 vereadores eleitos no Rio no ano passado. Eleito pela primeira vez em 2004, é figura conhecida do Legislativo carioca e filho de um ex-deputado estadual, o policial Coronel Jairo (PSC), que ficou na Assembleia Legislativa de 2003 a 2018.
Integrante do Conselho de Ética, a vereadora Teresa Bergher (Cidadania) anunciou que vai pedir ainda nesta quinta o afastamento dele da Casa; o colegiado se reúne às 18h. O vereador chegou a ser líder do governo de Marcelo Crivella (Republicanos) na legislatura passada. O pai, por sua vez, foi preso em 2018 pela Operação Furna da Onça, suspeito de receber mesada para aprovar projetos de interesse do governo de Sérgio Cabral.
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