Premiada como melhor do mundo, dieta mediterrânea para lactantes pode beneficiar mães e bebês

Em homenagem ao Agosto Dourado, especialistas alertam para o papel protetor da amamentação contra doenças infecciosas e crônicas. A boa relação da mãe com os alimentos influencia os hábitos do bebê, reduzindo riscos de problemas cardíacos, diabetes e obesidade

Boas notícias para o Agosto Dourado – nomenclatura que faz alusão ao leite materno, considerado “alimento padrão ouro” para os recém-nascidos: as taxas de aleitamento materno vêm crescendo no Brasil. O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, revelou que mais da metade das crianças brasileiras são amamentadas por mais de 1 ano e 4 meses. Ainda, 96,2% dos menores foram amamentados alguma vez e dois em cada três bebês recebem o leite materno ainda na primeira hora de vida, o que corresponde a 62,4%. 

O leite materno é um alimento nutricionalmente equilibrado tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo, e o ato de amamentar auxilia no desenvolvimento saudável do cérebro e protege contra infecções tanto o bebê quanto a mãe. Inclusive, novos dados da literatura científica indicam que o aleitamento materno é um mecanismo de prevenção contra a obesidade infantil e adulta. “Crianças alimentadas com fórmulas podem ter concentrações sanguíneas mais altas de insulina em comparação com aquelas que foram amamentadas. Essa concentração maior de insulina está relacionada com o aumento da deposição de gordura e o desenvolvimento precoce de adipócitos, ou seja, de células de gordura. O leite materno, por sua vez, possui componentes que interferem no crescimento desses adipócitos”, explica a nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos, Adriana Zanardo. 

Em razão disso, o aleitamento é considerado um período crítico e crucial, já que a exposição do bebê aos componentes do leite materno induzem a uma “programação metabólica” mais adequada em relação à estrutura e às funções corporais e metabolismo como um todo. Ainda, a amamentação por livre demanda estimula a criança a desenvolver autorregulação da ingestão alimentar, fazendo com que ela reconheça seus próprios mecanismos de fome e saciedade. 

Para reforçar as ações de promoção, proteção e apoio à amamentação, especialistas da Jasmine Alimentos alertam para a importância de uma alimentação saudável e completa, composta por todos os grupos alimentares, tanto em relação a macronutrientes como micronutrientes para a mãe lactante. Nesse contexto, a dieta popularmente conhecida como Mediterrânea tem sido amplamente difundida devido ao seu papel na prevenção e no tratamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão, obesidade ou alterações nos níveis de gorduras no sangue. 

Montando o cardápio da mãe

A dieta do Mediterrâneo é um plano alimentar baseado nos hábitos dos países banhados pelo Mar Mediterrâneo (principalmente o sul da Itália, Grécia e sul da Espanha). No cardápio, priorizam-se frutas, verduras (folhosos), legumes (principalmente aqueles com bastante água, como tomate, abobrinha, brócolis, chuchu e couve flor), gorduras insaturadas (presentes em castanhas, sementes, abacate, coco e azeite de oliva), carboidratos complexos (de grãos integrais, como quinoa e amaranto; e de leguminosas, como feijões, lentilha, ervilha e grão-de-bico) e proteínas com baixas quantidades de gorduras saturadas e com maiores teores de gorduras insaturadas (como peixes – salmão e atum).

A dieta materna influencia diretamente na composição do leite materno, o qual impacta na saúde do bebê. “A proteína, por exemplo, é essencial para o crescimento físico e desenvolvimento cerebral de neonatos, principalmente para prematuros que precisam de mais proteína para seu crescimento e desenvolvimento”, explica Adriana. Os nutrientes presentes na dieta mediterrânea têm capacidade antiinflamatória e antioxidante, além de gorduras “do bem” como ácidos graxos e ômega-3. “A gordura é uma importante fonte de energia no leite humano, tendo associação positiva entre a ingestão de ácidos graxos na dieta e a sua concentração no leite materno. A ingestão adequada está relacionada com desenvolvimento do sistema nervoso central, saúde ocular e crescimento da criança. Dessa forma, a dieta mediterrânea pode auxiliar no aporte nutricional necessário para o crescimento e desenvolvimento infantil, já que reúne todos os nutrientes essenciais para o período. Ainda, vale lembrar a importância do acompanhamento nutricional individualizado para que todas as necessidades sejam atendidas, conforme cada caso”, complementa a nutricionista. 

Para se obter todos os nutrientes necessários, é importante equilibrar as quantidades de cada grupo alimentar. “De forma geral, podemos seguir o raciocínio da Pirâmide dos Alimentos com a recomendação de consumo diário de hortaliças, como verduras folhosas e legumes ricos em água; de duas a três porções de frutas variadas; raízes como batata, mandioca, mandioquinha e grãos, como aveia, quinoa, amaranto. Sugiro sempre priorizar as fontes de carboidratos integrais”, detalha. Em relação à proteína, priorize as proteínas animais com baixos teores de gorduras saturadas como peixes e complemente com proteínas vegetais, como as leguminosas (feijões, lentilha, ervilha e grão-de-bico). Com a ingestão adequada dos alimentos citados, a lactante irá suprir as maiores demandas de nutrientes desse período, que são as vitaminas A, B6, B12, C, D e E; cálcio e ferro.

Mitos e verdades: alimentos que dão cólica ao bebê e bebidas que estimulam a produção de leite

Levando em consideração a importância da alimentação que pode alterar a composição do leite materno, é recomendado ter alguns cuidados com a dieta. Dentre as principais orientações, indica-se excluir o consumo de chás durante a lactação devido à falta de dados seguros sobre a relação dos compostos bioativos presentes nas ervas e a capacidade do bebê em conseguir metabolizá-los. Profissionais da área de saúde também orientam evitar o consumo de açúcar refinado, produtos processados/ultraprocessados ricos em aditivos, frituras (principalmente em imersão, como empanados e pastel) e alimentos com alto índice de cafeína, como café e chocolate. “É preciso cuidado especialmente com o cafezinho. A bebida causa cólicas, já que a cafeína estimula a liberação de ácido clorídrico no estômago – conhecido como suco gástrico. No bebê, isso pode levar a desconfortos, como dor e refluxo”, explica Adriana. 

Em relação aos alimentos crus, o cuidado durante a lactação diz respeito ao risco de contaminação, visto que a mãe faz parte do grupo de risco e o acometimento de uma intoxicação alimentar pode prejudicar sua saúde, assim como a do bebê. Outra importante contraindicação é a ingestão de bebidas alcoólicas. “Cerveja preta não estimula a produção de leite. O álcool pode causar efeitos nocivos ao sistema nervoso central do bebê, acarretando sonolência e dificuldade em se alimentar, reagir aos estímulos, além de outros problemas mais graves, como comprometimento do desenvolvimento neurológico e psicomotor”, alerta. 

Da Central Press

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