Presidente da Ucrânia acusa Rússia de tramar golpe contra ele

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira, 26, que um grupo de russos e ucranianos planejava tentar um golpe na Ucrânia na próxima semana, e que os conspiradores tentaram obter a ajuda do homem mais rico do país, Rinat Akhmetov, um magnata ucraniano.

Zelenski, falando para a mídia local e internacional, disse que gravações de áudio, obtidas pelos serviços de segurança da Ucrânia, flagraram conspiradores discutindo seus planos e mencionando o nome de Akhmetov.

Ahkmetov tem negócios que vão desde metais, mineração e energia até bancos, telecomunicações, imóveis e mídia. Com um patrimônio líquido estimado pela revista Forbes em mais de US$ 7 bilhões, Akhmetov é mais rico do que os outros três magnatas ucranianos juntos. Ele também é o maior contribuinte e empregador do país, com cerca de 200.000 funcionários. Zelenski fez questão de frisar que o empresário não estava envolvido no suposto plano de golpe.

Apesar da acusação, o presidente ucraniano não apresentou provas, áudios, nem outros detalhes, deixando muitas perguntas sobre seus motivos para tornar públicas as acusações e quais possíveis ações as autoridades tomaram.

Além de ter um império da mineração e do aço, Akhmetov possui participações em veículos de mídia, e nas últimas semanas aumentou suas críticas a Zelenski e seu governo.

Uma declaração atribuída a Akhmetov chamou as afirmações de Zelenski de “uma mentira absoluta”. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou qualquer papel russo no suposto complô. “A Rússia nunca se envolve nessas coisas. Nunca houve tais planos”, disse Peskov.

Tensão militar

Os comentários de Zelenski também vêm em um cenário de tensões crescentes entre Kiev e Moscou. Autoridades ocidentais e ucranianas dizem que observaram um aumento de forças russas na fronteira do país com a Ucrânia.

As razões para o aumento de tropas russas no local não são claras, mas os EUA e outras autoridades dizem que pode ser uma preparação para uma invasão ou uma escalada no conflito de sete anos no leste da Ucrânia, com insurgentes anti-Kiev, apoiados por Moscou, de acordo com autoridades ocidentais. e pesquisadores independentes.

“Acredito que [Akhmetov] esteja sendo arrastado para a guerra contra a Ucrânia”, disse Zelenski. “Isso será um grande erro, porque é impossível lutar contra o povo, contra o presidente eleito pelo povo da Ucrânia”.

Zelenski disse que o suposto golpe estava sendo planejado para 1º ou 2 de dezembro. Ele não deu mais detalhes. A mídia ucraniana comentou nas últimas semanas sobre as crescentes tensões entre Zelenski e Akhmetov. O presidente ucraniano lançou uma campanha de “desoligarquização” para reduzir a influência política das pessoas mais ricas da Ucrânia, que controlam setores importantes da economia.

“Estou indignado com a disseminação dessa mentira, não importa quais sejam os motivos do presidente”, disse Akhmetov. “Minha posição foi e será explícita e definitiva: uma Ucrânia independente, democrática e unida com a Crimeia e minha região natal, Donbass.”

Donbass faz parte da região separatista no leste da Ucrânia. A Península da Crimeia foi anexada da Ucrânia pela Rússia em 2014. O presidente ucraniano disse que seu país estava preparado para qualquer cenário.

“Temos total controle de nossas fronteiras e estamos prontos caso haja uma escalada”, disse Zelenski.

Ele acrescentou que o número de forças russas na fronteira é menor do que durante um exercícios militares realizados no começo deste ano, um episódio que também causou preocupação com uma possível ofensiva russa.

Zelenski disse que a Ucrânia recebeu promessas de apoio “em público e não em público” de seus parceiros ocidentais se a Rússia tomasse medidas militares, mas não forneceu detalhes. “Quando a Rússia diz que está defendendo suas fronteiras, é muito perigoso”, disse Zelenski.

Crise preocupa a Otan

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, repetiu as preocupações ocidentais sobre a concentração de tropas russas na fronteira nesta sexta-feira, 26, e alertou que se a Rússia usar a força contra a Ucrânia, “isso terá custos, terá consequências”.

Moscou rejeitou as acusações e culpou Washington por aumentar as tensões na região. O Kremlin também acusou Kiev de “provocações” em seu conflito de anos com separatistas pró-russos em duas regiões distantes do leste.

Em uma tentativa de impor uma linha vermelha para Putin, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, falaram diretamente com ele nas últimas duas semanas. O secretário da Defesa britânico, Ben Wallace, encontrou-se com seu homólogo ucraniano em Kiev. O ministro da Defesa da Suécia disse que estava pronto para enviar tropas suecas à Ucrânia para ajudar a treinar os militares do país. Oficiais de inteligência dos EUA e figuras importantes do exército ucraniano sugeriram que cerca de 92.000 soldados russos estão concentrados no norte e no leste da Ucrânia – muitos na área ao redor de Yelnya, perto da fronteira da Rússia com a aliada Belarus – e na Crimeia, a península que fica ao sul da Ucrânia continental. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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