Primeiro brasileiro negro aprovado em MBA do MIT vendia picolé na infância
Nascido em Niterói, Wellington morou grande parte da vida ali perto, em São Gonçalo. Após cursar todas as séries em colégios públicos, recebeu uma bolsa em uma escola de elite da zona sul carioca. No vestibular, foi aprovado em todas as universidades e tirou nota mil na redação do Enem, optando pela bolsa integral do ProUni para Administração de Empresas no Ibmec. Seu olhar já se voltava para o empreendedorismo.
Claro, veio tudo muito devagar. Aos 8 anos, Wellington ajudava o pai a vender de tudo como ambulante na Praia de Saquarema. Aos 12, iniciou um negócio de revenda de picolés – e acabou sendo autorizado pelos policiais da área a vender dentro do Batalhão da Polícia Militar. Foi a primeira virada em sua vida, admitiu.
Aos picolés ele acrescentou a venda de doces: abriu 23 pontos de venda na cidade. Envolveu a família, contratou a tia e mais um freelancer para auxiliar nas entregas. Até os 17 anos, nunca abandonou o ponto de venda no batalhão. Também prestava contas de seus boletins ao coronel da instituição, que lhe conseguiu uma bolsa de 50% em uma escola particular de São Gonçalo. A outra metade Wellington insistiu em pagar com o lucro dos doces.
O novo patamar veio em 2012, quando viu uma palestra sobre negócios e carreira e mandou ao palestrante um e-mail contando sua história. O gesto valeu-lhe uma bolsa integral para o terceiro ano do ensino médio na Escola Parque. Foi um período conturbado, com notas baixas e uma rotina ingrata, das 7h às 20h, sem tempo para estudar e compensar a defasagem entre ensino público e privado. “No 1º bimestre, fui reprovado em seis disciplinas.” Porém, não desanimou. Uma ex-professora arrumou um local mais perto da escola para ele ficar – ele chegou a dormir, por oito meses, na sala dos professores de uma escola pública no Leblon.
ProLíder
No Ibmec, ele se destacou como bolsista e monitor da instituição. Entrou num processo seletivo em 2015, na Fundação Estudar, e foi um dos 24 escolhidos entre mais de 60 mil candidatos. No final ganhou o prêmio de bolsista do ano, entregue pelo fundador, Jorge Paulo Lemann.
Foi então que, percebendo a importância dos jovens no futuro do País, criou o ProLíder, para ajudar a formar jovens lideranças. “A cada passo que se dá na vida, precisamos levar outras pessoas conosco. Esse é um dos objetivos do ProLíder”, afirma.
Dessa ideia derivou outra, a criação do Instituto Four, organização sem fins lucrativos que forma e desenvolve jovens líderes que pensam em maneiras de resolver desafios do Brasil. A organização é responsável pelo ProLíder, que formou mais de 200 lideranças para atuarem no meio público, político e empreendedor. A busca pela diversidade também faz parte dos princípios do instituto. “Desde 2016, já falávamos de inclusão e diversidade de gênero, etnia, orientação sexual, classe social. E também buscamos jovens fora dos eixos de Sul e Sudeste”, acrescenta. O ProLíder já teve jovens que se tornaram prefeitos, vereadores, investidores e receberam prêmios, além de dois aprovados na Universidade Harvard, também nos EUA.
O instituto também é o responsável pelo Four Summit, conferência que debate as principais áreas estratégicas do Brasil, com foco em inovação e tecnologia. A 1.ª edição, em 2019, reuniu cerca de 700 pessoas, com mais de 90 palestrantes, em dois dias de evento.
MIT e a política
O sonho em estudar no MIT formou-se aos poucos, desde a graduação. Após algumas viagens aos Estados Unidos para conhecer universidades – financiado pela Fundação Educar e por outros empresários -, a vontade de cursar o MBA só aumentava. Tentou duas vezes, foi aprovado na segunda.
Agora, Wellington está preparando sua mudança para Boston, sede da escola. O plano é iniciar o curso, com duração de dois anos, ainda em agosto. O programa de MBA dá o título de mestre em negócios. Para tanto, ele vai se afastar por um tempo da diretoria executiva do Instituto Four, mas não pretende abandonar a instituição.
Wellington também não descarta a possibilidade de se candidatar a cargos públicos. “Primeiro quero trabalhar e contribuir no ramo empresarial por 20 anos. E depois, sim, entrar na vida política”, admite. “Políticas públicas são fundamentais para diminuir a desigualdade social no Brasil.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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