Quais são os primeiros passos para quem quer parar de fumar?

20 minutos. Esse é o tempo necessário para que a pressão sanguínea e a pulsação arterial voltem ao normal. Três semanas. Esse é o período que sua respiração e circulação levam para melhorarem. E um ano é o suficiente para reduzir pela metade o risco de morte por infarto. Após 10 anos, esse risco cai tanto que pode ser comparado ao de uma pessoa que nunca fumou.

Como deu para perceber, parar de fumar reduz expressivamente os riscos e devolve o bem-estar físico e emocional. E essa mudança nem leva tanto tempo para acontecer, ela é quase instantânea. Mas mesmo diante disso, o tabagismo segue sendo uma realidade em todo o mundo. Largar o vício pode não ser uma atitude fácil, mas traz muitas recompensas para a saúde. 

Antes de qualquer coisa, é preciso entender como o cigarro age no corpo humano. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a nicotina inalada na fumaça do cigarro chega ao cérebro em um curto período de tempo – aproximadamente 10 segundos – onde alimenta os receptores das células cerebrais capazes de reconhecê-la.

Nesse exato momento, são liberados os neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer. Por ser uma substância psicoativa, a nicotina produz alterações no Sistema Nervoso Central que modificam o estado emocional e comportamental do fumante. É exatamente por isso que ela é a responsável pela dependência química.

Sabendo que essa substância, um dos principais ingredientes do cigarro, é o grande obstáculo para quem quer abandonar de vez o vício, é preciso encontrar maneiras de driblar a situação. É super possível e já você vai entender como! 

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Os primeiros passos

Segundo Cristina Cantarino, que é pneumologista e coordenadora do Centro de Tratamento de Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (INCA), após a manifestação do desejo de parar de fumar, o fumante precisa avaliar se conseguirá parar sozinho ou se necessita de ajuda. E aqui estamos falando do auxílio de uma equipe de saúde, um apoio especializado, que pode tornar o processo mais confortável ou ser até mesmo fundamental para que o objetivo seja alcançado. 

E se o primeiro passo é tomar a decisão, em seguida vem o planejamento e a organização de como será essa parada. Nesse ponto, a médica alerta que o fumante não deve se assustar ao perceber uma certa dúvida em relação ao desejo de abandonar o cigarro. “No início do processo, é muito comum existir um lado que deseja parar em conflito com o outro lado que adoraria continuar fumando. A ambivalência pode aprisionar o fumante, o faz adiar o início do processo de cessação.  Com o andamento do tratamento, esta luta pessoal é amenizada. O caminho vai ficando mais fácil”, explica.

No meio disso tudo, é esperado que a pessoa passe pela chamada “fissura”, que é quando a abstinência e o desejo de fumar ficam muito fortes. A boa notícia é que cada vez que esse sintoma surge, ele não dura mais do que cinco minutos, e com o tempo vai perdendo a intensidade. Portanto, não é motivo para desanimar, mas sim para ter uma dose extra de paciência, pois essa dificuldade é passageira, apesar de existir. 

Justamente por isso, o fumante precisa ter conhecimento de que é portador de uma doença crônica, sujeita a recaídas como qualquer outra, lembra a especialista.  Como dito lá no início, receber ajuda para lidar com a situação facilitará bastante o processo. Afinal, a pessoa que decide parar de fumar entra em uma batalha mesmo, mas é contra uma droga poderosa, a nicotina, principal responsável pela dependência. E além da dependência química, existem ainda outros fatores envolvidos, como os individuais, sociais e ambientais. Esses também podem e devem ser cuidados durante o tratamento. 

Pouco se fala sobre a dependência psicológica, mas ela tem uma participação importante na vida de quem fuma e atua de forma bem complexa. Está relacionada à função que o vício exerce na vida da pessoa. Não é difícil encontrar quem busque no cigarro uma espécie de relaxamento, por exemplo. A verdade é que o hábito de fumar surge em distintas situações, boas e ruins, e o fumante cria um vínculo com ele, passando a enxergá-lo como algo familiar e confortável. Essas atribuições podem variar de acordo com o contexto, a experiência e a história de vida de cada pessoa.

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No fim das contas, o prazer de fumar vai sendo relacionado a situações do dia a dia e o fumante passa a fazer associações. Por esse motivo, a médica explica que é importante começar a prestar atenção em cada cigarro procurado para fumar, pensar em cada um e se perguntar: é fundamental acender este?  É aí que o fumante ficará surpreso ao perceber que alguns são totalmente desnecessários. 

“São os cigarros comandados pelo ’piloto automático para fumar‘, não são uma escolha pessoal. Todo fumante fuma mais do que realmente deseja, abrir mão destes cigarros não será difícil, basta estar atento e assumir o controle, afastando o piloto automático. Essa conquista dá prazer e incentiva a seguir em frente”, explica. 

E justamente porque o hábito de fumar vai se enraizando na rotina da pessoa e em todas as atividades ali presentes que os amigos e familiares exercem um papel importante nesse processo de parada, funcionando como uma verdadeira rede de apoio. Diante disso, o suporte social pode ser decisivo. Tanto para ajudar o ex-fumante a evitar situações desencadeadoras do desejo pelo cigarro quanto para motivar a mudança. 

Além de, é claro, tratar a situação com mais empatia e menos julgamento. Nesse momento, qualquer comportamento que invalide ou questione a decisão do indivíduo pode ser visto como desestimulante. Por isso, a médica reforça que o ex-fumante jamais deve ser tratado com críticas ou cobranças, que geralmente só desencadeiam irritação e frustração. 

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O apoio especializado 

Quando o fumante finalmente procura ajuda, a equipe de saúde que o atende vai traçar algumas indicações terapêuticas e definir o que será realmente necessário nesse tratamento. Segundo Cristina, inicialmente é feita a avaliação clínica da pessoa com o objetivo de identificar a presença de outras doenças associadas ao uso do tabaco e possíveis contraindicações para o uso das medicações específicas para o tabagismo. 

Em seguida, é avaliada a motivação do indivíduo em deixar de fumar e o seu grau de dependência à nicotina. Feito isso, o paciente é encaminhado para iniciar o tratamento individual ou em grupo, algo que varia de acordo com as suas necessidades. “É feita abordagem intensiva através de técnicas cognitivo-comportamentais. Quando indicado, o SUS disponibiliza os medicamentos de primeira linha para tratamento de tabagismo, à critério médico, de acordo com o grau de dependência de cada um, se não existir contraindicação”, finaliza a especialista.

Do Ministério da Saúde

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