Quem é Roman Protasevich, o jornalista preso em voo interceptado por Belarus

A história tem todos os elementos de uma conspiração dos filmes de Jason Bourne: um voo comercial que transportava um jornalista dissidente é interceptado por um caça MiG-29 sob as ordens do presidente de Belarus.

Acontece que o protagonista desta história, que ocorreu no último domingo, 23, é muito real. Seu nome é Roman Protasevich, e sua prisão atraiu a atenção de todo o mundo pela forma usada pelo governo belarusso e seu líder autoritário, Aleksander Lukashenko, para capturá-lo.

Protasevich, de 26 anos, estava viajando em uma linha aérea comercial de Atenas a Vilnius, na Lituânia, quando a Força Aérea de Belarus enviou um caça MiG-29 para interceptá-lo. O voo, da companhia aérea irlandesa Ryanair, foi desviado para Minsk, onde o opositor foi detido.

A tática, amplamente condenada pela comunidade internacional, foi a última tentativa de Lukashenko de suprimir a voz influente de Protasevich.

Entenda quem é o jornalista:

Quem é Roman Protasevich e porque o governo de Belarus está preocupado?

Restam poucas fontes de notícias independentes em Belarus, onde a maioria dos meios de comunicação foi forçada a fechar depois de protestos generalizados sobre uma disputada eleição presidencial em 2020.

Protasevich é cofundador e ex-editor do NEXTA, iniciativa de informação na plataforma de mídia social Telegram, que se tornou um canal popular para os inimigos de Lukashenko compartilhar informações e organizar manifestações contra o governo.

Ele fugiu do país em 2019, temendo ser preso, mas continuou a perturbar o regime enquanto vivia no exílio na Lituânia, tanto que foi acusado em novembro de incitar a desordem pública e o ódio social.

Quando adolescente, Protasevich foi expulso de uma escola de prestígio por participar de uma manifestação de protesto em 2011 e, posteriormente, foi expulso do programa de jornalismo da Universidade Estadual de Minsk.

O que aconteceu no domingo?

Protasevich estava voltando a Vilnius de uma conferência econômica na Grécia com a líder da oposição belarussa, Svetlana Tikhanovskaya, segundo autoridades gregas. O voo, que transportava cerca de 170 passageiros, deveria durar cerca de três horas. Ao se aproximar da fronteira entre Belarus e a Lituânia, porém, um caça MiG-29 foi escalado para interceptá-lo.

Lukashenko, que muitas vezes é apontado como “o último ditador da Europa”, ordenou pessoalmente que o caça escoltasse o avião da Ryanair até o aeroporto de Minsk após uma ameaça de bomba, disse seu serviço de imprensa. De acordo com o comunicado, Lukashenko, aliado do presidente Vladimir Putin, da Rússia, deu uma “ordem inequívoca” para “fazer o avião dar meia-volta e pousar”.

Nenhuma bomba foi encontrada a bordo, disseram as autoridades policiais do país.

Antony Blinken, o secretário de Estado dos EUA, criticou duramente o governo de Lukashenko no Twitter no domingo pela detenção de Protasevich. Ele chamou de “ato descarado e chocante desviar um voo comercial e prender um jornalista”.

“Exigimos uma investigação internacional e estamos coordenando com nossos parceiros as próximas etapas”, disse Blinken. “Os Estados Unidos estão com o povo de Belarus.”

Que tipo de punição ele pode enfrentar?

A principal agência de segurança do governo de Belarus, chamada KGB, colocou o nome de Protasevich em uma lista de terroristas. Se ele for acusado e condenado por terrorismo, pode enfrentar a pena de morte. As acusações de incitar a desordem pública e o ódio social acarretam uma pena de mais de 12 anos de prisão.

Qual foi a reação da comunidade internacional?

Ainda no domingo, reações contra a medida do governo belarusso começaram a surgir entre os países do continente europeu e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), do qual fazem parte o Lituânia, Grécia e Irlanda – países de origem, destino e da aeronave do voo interceptado. Lituânia e Letônia pediram que todos os voos internacionais evitem sobrevoar a Belarus como sanção às autoridades deste país.

Países da União Europeia se reuniram nesta segunda-feira, 24, em Bruxelas para estudar sanções a serem aplicadas contra o regime de Lukashenko, inclusive a suspensão do sobrevoo do espaço aéreo do país – uma vez que o voo desviado era de uma companhia e entre dois países pertencentes ao bloco.

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, classificou o caso como um “inaceitável sequestro de Estado”. “Como governo e como União Europeia, consideramos inaceitável o que se passou. Estamos diante de um sequestro de Estado e isso é inaceitável.

A companhia aérea AirBaltic, com sede na Letônia, antecipou-se a qualquer decisão governamental e afirmou que evitará o espaço aéreo de Belarus. “(decidimos) evitar entrar no espaço aéreo belarusso até que a situação se esclareça, ou as autoridades tomem uma decisão”, disse a empresa em um comunicado. E completou: “A segurança e a saúde dos nossos passageiros e funcionários é a principal prioridade da companhia”.

Está marcada para terça-feira, 25, uma reunião entre embaixadores da Otan para discutir a aterrissagem forçada. “Os aliados realizam consultas sobre a aterrissagem forçada do avião da Ryanair por parte de Belarus, e os embaixadores vão discutir o tema amanhã”, disse um porta-voz da aliança militar à France-Presse.

Principal aliada de Belarus, a Rússia se manifestou nesta segunda-feira. A diplomacia de Moscou se disse surpresa com “as acusações ocidentais” contra o regime de Lukashenko: “É surpreendente que o ocidente considere o incidente no espaço aéreo de Belarus seja surpreendente”, afirmou a porta-voz do ministério russo de assuntos exteriores, Maria Zajarova. O porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou que a avaliação sobre a ação deve ser feita por autoridades aéreas internacionais, e se negou a dar um posicionamento oficial do Kremlin.

O que diz Belarus sobre o caso?

Autoridades de Belarus reiteraram nesta segunda que atuaram de maneira legal quando desviaram um avião com um dissidente a bordo e acusaram os países ocidentais de apresentar acusações “infundadas” por motivos políticos. “Não há dúvida de que as ações de nossas autoridades competentes cumpriram plenamente as normas internacionais estabelecidas”, afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Anatoly Glaz, em um comunicado, no qual acusa o Ocidente de “politizar” a situação.

“Estão fazendo acusações infundadas”, acrescentou Glaz, antes de afirmar que foi “triste” que os passageiros “tenham enfrentado alguns inconvenientes. E completou: “No entanto, as normas de segurança da aviação são uma prioridade absoluta”. (Com agências internacionais)

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