Racionais desafiam o desgaste do tempo
Ainda que desarticulados, e com a atualização de frases em algumas de suas músicas que traziam possíveis leituras misóginas e machistas, são eles o primeiro e ainda único fenômeno no que se chama rap nacional, a vertente que, segundo Gilberto Gil, herdou da MPB dos anos de 1970 o poder da contestação social urbana.
Uma visita do Estadão a uma reserva indígena dos guarani-kaiowá em Dourados, em Mato Grosso do Sul, em 2014, testou a longevidade do discurso dos Racionais. Pela aldeia, garotos de 16 ou 17 anos caminhavam com camisetas que traziam o rosto de Mano Brown e ouviam músicas dos Racionais em celulares como se fossem radinhos de pilha. Ao ser perguntado sobre o motivo de tantos meninos gostarem de rap na região, Kevin, o cantor do grupo Brô MCs, só de raps cantados em guarani, disse: “Eu não sabia que poderia protestar contra as coisas ruins da aldeia até ouvir os Racionais. Mais do que mostrar a eles uma música que parecia ter sido feita sob medida para sua realidade, os rappers de São Paulo os ensinaram a brigar por direitos”.
Os Racionais surgiram no setor que a imprensa chamava gueto, o mercado de música independente que não fazia parte das programações de rádio nem das gravadoras naqueles anos 90. E seguiu assim até que a bolha explodiu com o lançamento de Sobrevivendo no Inferno, em 1997. Foi quando as classes média e alta tiveram de rever os conceitos do que chamavam de “música de ladrão” já que, agora, eram seus filhos que as ouviam. Assim, os Racionais se tornaram livros, estudos sociológicos e tema de redação de prova da Universidade de São Paulo. Se existem caminhos que os novos rappers podem escolher para deitar seus pensamentos, é graças aos anos de surra e mata densa que os Racionais desbravaram.
FEITOS
Origens
Nome do grupo foi inspirado na fase em que Tim Maia era adepto da seita Universo em Desencanto e lançou dois álbuns com o nome Racional 1 e 2.
Voo em 1991
Ficou como feito histórico a abertura que o grupo fez para o Public Enemy, em 1991, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
Vida Loka
Em 2002, depois de uma longa pausa, o grupo voltou para lançar o álbum Nada Como um Dia Após o Outro Dia, duplo, que trazia Vida Loka I, Vida Loka II, Negro Drama, Jesus Chorou e Estilo Cachorro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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