Rejeitado no Nordeste, Bolsonaro viajará a reduto de Lula e Ciro em fevereiro
Desde que recebeu alta do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde ficou internado com um quadro de obstrução intestinal no começo de janeiro, o presidente tem feito acenos às suas principais bases eleitorais e reciclado ataques contra as instituições. Pressionado pelo efeito eleitoral da alta da inflação, também voltou a criticar a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos Estados, considerado por ele como o “vilão” do preço dos combustíveis no País.
Agora, Bolsonaro mira em um público que costuma votar no PT e, principalmente, em Lula: a população mais pobre do Nordeste. Como trunfo para conquistar esse eleitor, o presidente tem o Auxílio Brasil de R$ 400, que substituiu o programa de transferência de renda Bolsa Família, dos governos petistas. “Vou estar no mês que vem na Paraíba e acho que Ceará também”, disse o chefe do Executivo a apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada.
Na última sexta-feira, 14, Bolsonaro já havia citado o Auxílio Brasil em um aceno aos eleitores do Nordeste. Durante uma entrevista para a Rádio Uirapuru Jaguaribana, do Ceará, disse que seu governo se resume em “auxílio, obras e pautas conservadoras”. O presidente também aproveitou para atacar Lula e partidos de esquerda.
Em seis de janeiro, um dia após sair do hospital, Bolsonaro concedeu uma entrevista à TV Nova Nordeste, elogiou a região e citou obras locais. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 14 de dezembro, Bolsonaro alcança 67% de rejeição no Nordeste, acima dos 60% no Brasil como um todo. Em 2018, o presidente perdeu na região para o então candidato do PT, Fernando Haddad.
Agenda
Na semana seguinte à alta hospitalar, em tentativa de recuperar popularidade, Bolsonaro reservou sua agenda para entrevistas – a maioria a órgãos de imprensa alinhada ao governo – participação em culto evangélico e a presença em partida de futebol organizada por cantores sertanejos. A nova postura do presidente ocorreu ao mesmo tempo em que ele estava enfrentando dificuldades para se defender de críticas nas redes sociais, seu principal canal de contato público.
De 6 a 13 de janeiro, Bolsonaro voltou a criticar os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, seus alvos prediletos no Supremo Tribunal Federal (STF), escalou o conflito com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em torno da vacinação infantil contra a covid-19 e usou a inflação de 10,67% de 2015, no governo da petista Dilma Rousseff, para justificar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 10,06% em 2021.
Críticas a adversários
Hoje, Bolsonaro também fez uma crítica velada ao ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência da República. “Depois da saída de um cara que estava na Justiça, não vou falar o nome dele aqui, eu acho que quintuplicou a apreensão de drogas”, afirmou a apoiadores.
Em 10 de janeiro, o Bolsonaro já havia criticado o ex-juiz da Lava Jato. Em entrevista exibida naquele dia pela rádio Jovem Pan, questionou se Moro entrou no governo em 2019 com o objetivo de se preparar para concorrer a presidente. “Ele foi no meu governo para fazer um trabalho sério, para se blindar ou para se preparar para ser futuro candidato à Presidência da República? Têm três alternativas. Não deu certo, tirei ele fora, tinha que tirar”, declarou.
Sobre Lula, Bolsonaro tem dito que o petista quase “quebrou” a Petrobras e pode voltar à “cena do crime” junto com o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), que negocia uma aliança para ser vice na chapa do PT.
“Muitos de vocês, a maioria de vocês que trabalham comigo poderiam estar muito bem fora (na iniciativa privada), mas estão aqui dando a sua cota de sacrifício, ajudando esse Brasil aqui a, realmente, vencer essa crise aqui, que se encontra no momento, e fazer também com que não volte para as mãos de bandidos, canalhas, que ocupavam esse espaço aqui para assaltar o País para um projeto de poder”, declarou Bolsonaro, durante o lançamento de linhas de crédito para o setor de Aquicultura e Pesca no Palácio do Planalto, em 12 de janeiro.
Pesquisa
Na pesquisa Ipespe mais recente, Lula obteve 44% das intenções de voto para o primeiro turno da eleição. Bolsonaro veio em segundo lugar, com 24%. Moro figurou em terceiro, com 9%, e Ciro, em quarto, com 7%. Na simulação de segundo turno, Lula teria 56% dos votos totais e Bolsonaro, 31%. Em um cenário com Moro e Bolsonaro no segundo turno, o ex-ministro teria 36% e o presidente, 29%.
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