Sem recursos, clubes do Brasil usam analistas de desempenho para mapear mercado
Nenhum clube no Brasil tem dinheiro para investir em jogadores que não dão retorno imediato. Eles preferem valorizar os garotos da base do que assinar com atletas cujo rendimento em campo é uma incerteza. Neste fim de ano, muitas diretorias estão revendo seus elencos e cortando da própria carne para economizar.
Em 2020, as receitas dos times caíram 10% comparadas ao ano anterior. Segundo dados da Ondina Investimentos, grupo de fusões e aquisições no Recife, com base em divulgações das demonstrações financeiras publicadas por 32 clubes brasileiros das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, eles registraram uma queda no faturamento de R$ 5,5 bilhões, e um aumento de 15,6% no total dos passivos, para R$ 14,1 bilhões.
Por conta dessa dificuldade financeira imposta pela pandemia, o mapeamento de jogadores no mercado foi uma solução encontrada para trazer reforços sem necessariamente desembolsar milhões de reais em apostas. Na visão de Fabrício Morishita, analista de desempenho do Cuiabá, ultimamente, a função tem sido valorizada.
“Nosso trabalho é minimizar erros nas tomadas de decisões referentes a contratações e investimentos em possíveis atletas. Analisamos campeonatos de menor visibilidade como forma de adquirir jogadores de qualidade a baixo custo e com potencial retorno técnico e financeiro ao clube”, diz.
Aos clubes que estão nas divisões inferiores, a análise minuciosa do mercado é ainda mais imprescindível, como é o caso do Botafogo, de Ribeirão Preto, que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro. Murilo Tanganeli, analista de desempenho do clube do Interior, detalha a importância desse trabalho. “As contratações podem dar certo ou não por diferentes motivos. Porém, esse mapeamento e prospecção de jogadores em diferentes cantos do Brasil e do mundo é importante porque ajuda para que a margem de erro seja a menor possível”.
Os profissionais que fazem esse trabalho procuram seguir as normas do clube. Analisam qualidades, defeitos e também o fator extra-campo de um jogador. Qualquer aspecto que possa influenciar diretamente no rendimento dele em campo é anotado e informado a quem vai tomar a decisão, que geralmente é o presidente depois de ouvir o treinador e sua comissão técnica. A decisão nunca é isolada. “A partir dos critérios adotados pelo clube, passamos a observar jogadores que se enquadrem nos níveis físico, técnico, tático, psicológico e social”, esclarece Leandro Costa, analista de desempenho do Fortaleza, time que garantiu vaga na fase de grupos da Libertadores, com grande destaque para gestão e compromissos em campo e extracampo. O Fortaleza foi um dos melhores clubes do Campeonato Brasileiro, com uma campanha regular do começo ao fim. Ficou em quarto lugar, atrás apenas dos gigantes Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras.
DADOS – Colher, filtrar, interpretar e transmitir dados quantitativos e qualitativos. Essas são algumas das funções dos analistas que estão inseridos no departamento de futebol dos clubes. Esse trabalho tem um olhar para fora, mas também para os elencos já formados. Na visão de Marcelo Barbarotti, executivo de futebol do Juventude, diante de um orçamento inferior em relação aos outros concorrentes do Brasileirão, o trabalho desses profissionais de scout ganha ainda mais relevância no dia a dia.
“É um trabalho fundamental nesse cenário do futebol atual. Esse aporte dos analistas de desempenho e de mercado é fundamental para sermos competitivos em um nível tão exigente como a Série A. Com a verba que trabalhamos, precisamos ser assertivos e conhecer o mercado como um todo, por isso a importância de aprimorar cada vez mais esse departamento”, disse.
Neste ano, o Botafogo contratou uma empresa terceirizada, o Footure, para implementar a cultura do scouting em General Severiano. Aproveitando o contato que tiveram durante três meses com a consultoria, o objetivo foi o de aperfeiçoar a equipe de análise de desempenho. Teve resultado.
“Queremos mudar a cultura e promover uma alteração profunda no clube. Não podemos trabalhar com a expectativa de trazer ídolos prontos, porque isso não funciona. Naquele momento, contratamos uma consultoria de scouting (Footure) para compreender melhor alguns indicadores e padrões, principalmente para comprar e vender jogadores, saber o valor justo, por exemplo”, esclarece Jorge Braga, CEO do clube carioca.
No Internacional, desde o início da gestão do presidente Alessandro Barcellos, a ciência de dados é a principal ferramenta para a contratação e demissão de jogadores. Nada é feito por acaso. “É importante tomar decisões baseados em dados e informações. Nosso grande objetivo é otimizar processos de contratação e análise de elenco. Temos de errar menos para gastar menos. Simples assim”, diz o presidente.
O clube colorado também possui o Centro de Análise e Prospecção de Atletas (Capa), que realiza o trabalho de análise de desempenho de jogadores, sendo que a maioria dos dados chegam através de empresas especializadas em estatísticas.
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