Será que a indústria é apenas um território para homens?
“Será que a indústria é apenas um território para homens? Em um ambiente onde a presença masculina é dominante, surge um questionamento sobre o papel das mulheres no setor: atualmente, elas representam apenas 25% da sua força de trabalho. E o acesso a cargos de gestão é ainda mais desafiador, com um crescimento de apenas 7,8% em 13 anos, atingindo 31,8% de participação, número ainda inferior aos demais segmentos da economia, onde as mulheres ocupam 46,7% das funções de liderança, segundo dados do Observatório Nacional da Indústria.
Diante desse cenário, é fundamental questionar e compreender as iniciativas em andamento para promover a equidade de gênero nesse ambiente. Uma pesquisa da CNI revela que seis em cada dez indústrias brasileiras têm programas de igualdade de gênero, sendo que 61% implementam essas iniciativas há mais de 5 anos.
“Além da questão moral e da garantia de direitos, a promoção da equidade de gênero é importante para impulsionar a competitividade empresarial, pois a diversidade de visões e experiências contribui significativamente para o sucesso dos negócios”, afirma Fábio Amaral, CEO da Engerey, fabricante de Painéis Elétricos com sede em Curitiba.
Lá, de 65 colaboradores, 10 são mulheres, realidade que vem mudando há algum tempo e está sendo impulsionada por meio de uma parceria entre a empresa e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Paraná. A Engerey, além de estimular o compartilhamento de conteúdos valiosos para os estudantes, oferta vagas de estágio e de empregos para mulheres, incentivando a igualdade de gênero no ambiente industrial.
“Acreditamos no potencial das mulheres para liderar e fazer a diferença em todos os setores, incluindo a indústria. Por isso, buscamos criar oportunidades para que elas se destaquem e contribuam de forma significativa para o nosso crescimento e desenvolvimento”, destaca Amaral.
Histórias como a de Stephany Vicentino da Silva Moreira, 20 anos, que trabalha da Engerey, são exemplos inspiradores dessa mudança. Quando encontrou a chance de fazer um curso técnico de eletromecânica no Senai ela não pensou muito e se matriculou. Entre os 70 alunos distribuídos em duas turmas (uma de eletromecânica e outra de mecânica), apenas duas eram do sexo feminino. Infelizmente, a colega dela não conseguiu prosseguir. Portanto, apenas uma mulher foi formada dessas turmas, que foi ela.
“Estranhei a falta de mulheres, mas não desisti. Indústria, mecânica, eletromecânica, às vezes, parecem feitas só para homens, mas não são. Nós, mulheres, temos nosso valor e podemos fazer o mesmo trabalho que os homens”, diz. À medida que o curso avançava, mais ela tomava gosto pela área. “Então, se eu estava gostando, não ia desistir só porque dizem que é uma área masculina.”
Ainda sendo estudante, ela aceitou a vaga na montadora de painéis elétricos na Engerey, onde desempenha a função de auxiliar orçamentista há quase um ano. Agora, motivada pela experiência, está prestes a iniciar a faculdade de Engenharia Elétrica. “Durante o curso no Senai, desenvolvi um gosto pela área. Estou animada em começar a faculdade agora”, revela Stephany, matriculada em uma instituição universitária em Araucária, região metropolitana de Curitiba.
Dessa forma, Stephany representa estatísticas que mostram, por um lado, uma presença feminina ainda aquém do ideal na indústria brasileira. Por outro lado, destaca movimentos que buscam acelerar e promover maior participação feminina nesse cenário.
Para a futura engenheira eletricista, é preciso romper de vez com estereótipos. “O trabalho na indústria não é nenhum bicho de sete cabeças para mulheres. Crescemos com a ideia de que áreas como mecânica, elétrica e indústria são mais voltadas para homens. Quis provar, para mim mesma, que não é bem assim”, afirma Stephany com otimismo.
Para Fábio Amaral, exemplos como o de Stephany são uma amostra do potencial de progresso social que emerge quando a indústria e instituições de ensino se unem na busca pela igualdade.