Setembro Verde: número de transplantes no Brasil cai 25% na pandemia e reflexos são sentidos mesmo em estados referências na área
Paraná se manteve líder na doação e hospital SUS de Curitiba se destaca pela maior conversão de entrevistas em captações efetivadas
O que fazer quando um órgão do corpo humano não funciona mais nem se recupera com tratamentos convencionais? A medicina tem uma solução radical: trocar o órgão. É um procedimento de alta complexidade, que exige muita competência médica, estrutura hospitalar e solidariedade humana. No mundo, nem mesmo os avanços tecnológicos impediram que as doações e os transplantes de órgãos fossem impactados pela pandemia. Só na primeira onda de covid-19, diminuiu 31% o número de transplantes realizados em todo o mundo, como aponta a pesquisa publicada no jornal científico The Lancet Public Health.
Ao considerar dados de 22 países, espalhados por quatro continentes, o estudo indica que 11.253 cirurgias desse tipo deixaram de ser efetuadas no ano passado, o que significa uma redução de 16% ao longo dos 12 meses. O transplante mais afetado foi o de rim com doadores vivos, que teve queda de 40% no comparativo entre 2019 e 2020. A pesquisa mostra ainda que a diminuição na quantidade de transplantes representou mais de 48 mil anos perdidos nas vidas de pacientes.
O Brasil não ficou fora desse cenário. O país, que é um dos líderes mundiais na doação e no transplante de órgãos, viu os números despencarem com o agravamento da pandemia. A taxa de doadores efetivos caiu 13% e a efetivação de doações reduziu para 24,9%. O principal motivo desse declínio é o aumento de 44% na taxa de contraindicação, em parte pelo risco de transmissão de covid-19. Os dados são da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em um comparativo do primeiro semestre de 2020 com o primeiro semestre de 2021.
Como ficam estados referências
Líder entre os estados brasileiros na captação e entre os primeiros em transplantes de órgãos, o Paraná consolidou um sistema que é referência dentro e fora do país. Trabalho de ponta que é tema de estudos multicêntricos, em razão da qualidade das equipes e da estrutura apropriada. Mas a covid-19 fez as doações caírem 23,13%, segundo o Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. Enquanto o primeiro semestre de 2020 registrou 41,5 doações por milhão de população (pmp), 2021 teve apenas 31,9 pmp. Mesmo com as dificuldades trazidas pela pandemia, o Paraná ficou à frente de todos os estados brasileiros e muito acima da média nacional, que atingiu a marca de 13,7 pmp.
O Brasil tem a regulação de órgãos operada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considerado o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. Dentro dessa operação, o Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), que atende 100% por meio do SUS, é referência no transplante renal. Foram 60 procedimentos realizados no ano de 2020 e 24 no primeiro semestre de 2021. “A excelência da equipe de transplante torna possível que, em 95% dos casos, não haja rejeição do órgão em um prazo de um ano, índice semelhante aos hospitais de São Paulo e também dos Estados Unidos”, afirma o diretor-geral do HUC, o médico Juliano Gasparetto.
Bastidores da doação e da conscientização
São muitas as equipes que correm contra o tempo nos bastidores do processo de doação de órgãos. Equipes como a do Laboratório de Imunogenética do Hospital Universitário Cajuru, que realizam exames de compatibilidade para o transplante de órgãos e tecidos. Com a mais avançada tecnologia disponível no mercado, o laboratório atua como um facilitador para a eficácia do processo de doação, ao atender a Central de Transplantes, as equipes transplantadoras e as unidades de diálise do Paraná.
Um laboratório que não dorme. É assim que a coordenadora dessa equipe, Helena Cazarote, se refere ao trabalho essencial realizado ali, que começou há 25 anos e se mantém como referência no Brasil. “A partir do momento que temos a confirmação de um potencial doador, o laboratório entra efetivamente no processo para liberar os exames de compatibilidade no menor tempo possível. Isso causará impacto direto na sobrevida desse órgão e na qualidade de vida do paciente pós-transplante”, explica Helena.
O HUC é destaque na captação de órgãos. Com uma equipe multiprofissional, o hospital mantém o maior índice de conversão estadual de entrevistas com as famílias em doações efetivadas. Em 2020, a taxa de conversão foi de 84%, e em 2021, está em 81%, bem acima das médias dos demais estados. Enquanto que a recusa pela doação está em 39% no país e 25% no estado, sendo que o Hospital Universitário Cajuru tem a média de apenas 19% de recusa. “Somos modelo, pois o processo é muito bem estruturado e bem realizado. O resultado positivo na doação e no transplante de órgãos é fruto de um trabalho de uma equipe dedicada e capacitada no que faz”, ressalta o diretor-geral.
Da Assessoria
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