Shuai Peng nega ter feito acusações de abuso sexual contra ex-líder chinês

A tenista Shuai Peng surpreendeu neste domingo ao afirmar que não fez acusações de abuso sexual contra Zhang Gaoli, ex-vice-primeiro-ministro chinês. A primeira declaração pública da atleta, em vídeo, sobre o polêmico assunto, foi publicada pelo jornal Lianhe Zaobao, de Cingapura.

“Primeiramente, preciso enfatizar um ponto que é extremamente importante: nunca disse ou escrevi que alguém me agrediu sexualmente. Devo enfatizar claramente esse ponto”, declarou Peng, em vídeo publicado pelo maior jornal de língua chinesa de Cingapura.

A especialista em duplas, de 35 anos, disse que seu post feito na rede social chinesa Weibo, equivalente ao Facebook, tratou de um “assunto privado”. Sem entrar em detalhes sobre suas declarações, ela disse que “muitas pessoas não compreenderam” o que ela escreveu na rede social.

Peng também afirmou que segue morando em sua casa, em Pequim, sem qualquer tipo de fiscalização ou supervisão do governo chinês. A tenista, ex-número 1 do mundo, causou surpresa no dia 2 de novembro ao fazer um post na rede social mais famosa da China, fortemente controlada pelo Partido Comunista Chinês, afirmando que havia sido abusada sexualmente por Zhang Gaoli, um dos políticos mais poderosos do país.

ENTENDA O CASO – Poucos minutos depois da publicação, todos os seus posts foram derrubados e o termo “tênis” foi censurado da plataforma, assim como os nomes da tenista ou de Zhang. A agressão, de acordo com a publicação da tenista, teria ocorrido em 2018, segundo Peng. Ela teria sido coagida pelo político, casado, a fazer sexo. Ela conta que resistiu e chorou antes de acabar cedendo. Nos três anos seguintes, ambos viveram um caso extraconjugal descrito como “desagradável” pela jogadora de 35 anos. Na publicação, a tenista disse que não poderia apresentar evidências que sustentassem sua afirmação pois a relação de ambos era muito restrita.

Peng e Zhang se começaram a se relacionar em 2011, quando se conheceram em Tianjin. Segundo a tenista, eles tiveram uma única relação, consensual, no decorrer daquele ano. Ela dá a entender também que houve uma segunda relação pouco antes dele ser promovido e se ver obrigado a cortar relações com a atleta.

Após a denúncia, Peng desapareceu das redes sociais e a Associação do Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) não conseguiu entrar em contato com ela. Foram três semanas de silêncio até que a canais de comunicação estatais da China começaram a publicar fotos e até vídeos dela em casa. As publicações não convenceram a WTA e demais entidades.

Nem mesmo a entrevista, por videoconferência, feita pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, tranquilizou a comunidade do tênis. Na conversa, Bach não tratou da denúncia de abuso sexual. Numa segunda conversa por vídeo com o COI, a situação se repetiu. E a WTA seguiu pedindo “provas verificáveis” de que a tenista estava bem, ganhando o apoio da ONU e da União Europeia. Como consequência mais prática, a WTA suspendeu todos os torneios do circuito feminino na China até que o caso fosse resolvido.

Peng se tornou uma referência do esporte na China depois de conquistar, em parceria com a taiwanesa Hsieh Su-wei, os torneios de duplas de Wimbledon, em 2013, e de Roland Garros, no ano seguinte. Após a vitória em Paris, as duas permaneceram 20 semanas na liderança do ranking mundial de duplas. No mesmo ano, Peng também conseguiu o melhor resultado em um Grand Slam de simples ao alcançar as semifinais do US Open.

Em sua carreira, ela conquistou 23 torneios de nível WTA em duplas e dois em simples, com uma premiação de quase US$ 10 milhões. Atualmente, Peng é a tenista número 191 no ranking de duplas e não disputa um torneio WTA desde o Torneio do Catar, em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia interromper as competições durante quase cinco meses.

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