Talvez você não deva confiar na visita de um estranho conhecido
Os Marah parecem a família perfeita. O patriarca Ivan é um descendente de aristocrata e ocupa um cargo de influência na Corte de Julgamento do Estado. Já Natália, a matriarca, é tão dedicada ao marido e aos três filhos que renunciou à própria individualidade para se tornar um exemplo de mãe e mulher. Mas as porcelanas da casa não permitem que os leitores de O Convidado acreditem no mundo de aparências, porque elas são sempre a companhia da mesa de jantar e observadoras oniscientes dos acontecimentos entre os familiares.
Este romance repleto de traições, assassinatos, dramas e mentiras destrincha hipocrisias que se escondem por trás das portas de um lar. Com um texto descritivo, parágrafos longos e diálogos curtos, o escritor Henri Lui analisa os sentimentos e as contradições de cada personagem para mostrar que não há somente um vilão nem um protagonista admirável. Mais que isso: o autor evidencia as ações – boas e ruins – que qualquer ser humano é capaz de praticar independentemente de sua formação como pessoa.
Com duas partes principais, o primeiro momento do enredo gira em torno dos Marah e das formas que os membros se relacionam entre si e com a sociedade. O segundo inicia quando Fiódor chega à casa dessa rica família e esconde sua verdadeira identidade. Ele não é o sobrinho órfão que está prestes a receber as posses dos pais, como diz. Sua verdadeira identidade é Xavier, um jovem pobre, vítima de violência doméstica, que assassina o herdeiro para ter outra vida.
Ninguém, portanto, e isso logo notou Fiódor, tinha recebido notícias suas, a não ser a carta enviada pouco antes de sua chegada. Sua aparência e familiaridade foram recebidas pelos Marah com a mesma naturalidade de seu caminhar e da grande mala. O esforço para fazê-lo membro da família seria o mesmo, entrasse quem entrasse pela porta principal da Mansão. (O Convidado, pg. 64)
Entretanto, o agora Fiódor não é o único a cometer crimes ou a desestruturar o ideal de perfeição familiar. Ivan está envolvido em um grande esquema de corrupção; Natália vive uma relação amorosa fora do casamento; e as meninas Anna e Kátia cresceram egocêntricas por acreditarem que o dinheiro pode comprar tudo. O filho mais novo, Nikolau, morre cedo devido a uma doença e marca a primeira experiência de luto dos Marah.
Inspirado nos clássicos da literatura russa e nas obras publicadas durante o século XIX, que investigam as mais dramáticas e conflituosas condições da existência humana, O Convidado detalha questões psicológicas, problemas íntimos e diferentes realidades de cada personagem. Com uma trama misteriosa e complexa, Henri Lui guia o leitor por reviravoltas permeadas de mentiras, investigações e erros que se estendem até a última página.