Técnico da seleção de futsal reconhece evolução dos rivais na Copa do Mundo

Técnico da seleção brasileira de futsal, Marquinhos Xavier terá na Lituânia um de seus desafios mais difíceis na carreira. O treinador começou a ganhar projeção em 2009, quando começou a treinar o Copagril, time de Marechal Cândido Rondon (PR). Mas foi quando assumiu o Carlos Barbosa (RS), em 2014, que o técnico se destacou, conquistando dez títulos em pouco mais de cinco temporadas.

Estudioso, meticuloso e antenado com o que acontece no esporte mundo afora, Marquinhos Xavier reconhece o favoritismo do Brasil, mas reitera: “não estamos mais sozinhos”. Confira a entrevista concedida ao Estadão.

A seleção conta com jogadores que atuam no Brasil, Rússia, Portugal, Espanha… Essa mescla foi de propósito ou você simplesmente escolheu os melhores?

Nossa geografia no Brasil já é essa. A seleção sempre teve atletas atuando fora do nosso continente e dentro do País. Houve sempre uma mescla. Obviamente, pela projeção profissional eles acabam saindo do Brasil, às vezes muito jovens, e a gente tem um sacrifício a mais, um a trabalho a mais, de ficar monitorando todos eles. Eles acabam chegando a grandes equipes, o que vai facilitando o processo, e na hora da convocação os melhores são divididos entre os que estão aqui, na Europa ou na Ásia.

A pandemia atrapalhou muito a preparação?

De maneira particular, a preparação do Brasil foi bastante prejudicada. Já entramos na pandemia com alguns déficits de convocação. Perdemos algumas datas importantes, especialmente em 2019, que antecedeu à pandemia. Eram datas que poderiam ter sido utilizadas para que a gente pudesse ter tido a oportunidade de ver outros jogadores. Em 2020, após as Eliminatórias, a gente não teve mais convocações. Isso, de alguma forma, prejudicou a observação dos jogadores. Nós tínhamos ideias claras, de trazer mais jogadores para experimentar. Tratamos de focar na resolução desse problema com um período de preparação mais acentuado.

Atrapalhou também o monitoramento dos adversários?

Ele se dividiu em duas partes. A primeira é aquele monitoramento mais superficial, em que nas Datas Fifa você acaba observando jogos dos adversários. E a segunda, e mais importante para nós, é a etapa atual. Está todo mundo jogando agora, e há uma mudança de convocação, de comportamento das equipes também. Há a influência da ansiedade, da pressão. Você consegue ter um raio x mais próximo.

O Brasil teve uma experiência ruim na última Copa do Mundo, e teve uma série de problemas de organização com a CBFS. Agora, a seleção está sob o guarda-chuva da CBF…

É importante a gente separar as coisas. Temos que valorizar o que a CBFS fez durante todos esses anos. Se o Brasil chega hoje como um dos favoritos para ganhar essa Copa do Mundo, e com as cinco conquistas que teve, isso se deu pelo trabalho da CBFS. A questão administrativa, nós do departamento técnico não nos envolvemos. A partir do momento que a gente passa a estar sob o guarda-chuva efetivo da CBF a gente está desfrutando da melhor maneira possível, treinando na Granja Comary, tendo as instalações do Parque Olímpico o tempo todo… Isso é bom porque recupera uma parte do processo. Acho que o futuro do futsal pode ser ainda mais profissional e melhorar com essa parceria. Nós ainda não sentimos efetivamente o poder de toda essa mudança, mas ela já existe. Acho que após o Mundial a própria CBF vai ter tempo de organizar tudo isso, da forma que ela entende o futsal. Acho que quem vier no próximo ciclo vai encontrar uma casa mais organizada nesse sentido. Acho que a gente vai caminhar para uma evolução e para uma profissionalização efetiva da modalidade.

O Fernando Ferretti (ex-técnico da seleção) tem ajudado vocês na preparação. Como isso se dá?

Ele é nosso coordenador técnico, está comigo desde o início do ciclo. O projeto passa muito pelas mãos dele, pela experiência e conhecimento que ele tem. Ele tem uma expertise não só técnica, mas também de gerência do grupo, sobre como administrar alguns problemas e conflitos. Isso acontece em qualquer lugar. Ele tem uma presença muito marcante na comissão técnica, e fico feliz de tê-lo ao meu lado dando um suporte, sendo um bom conselheiro. Ele é multicampeão, e talvez nossa maior referência no futsal.

O Brasil tem cinco conquistas e sempre foi considerado um dos principais mercados do futsal do mundo. Nos acostumamos a pensar na Espanha como principal adversário, mas nos últimos anos a gente viu o crescimento de Rússia, Portugal e Irã, e a Argentina é a atual campeã. Qual a real condição do Brasil para ganhar esta Copa do Mundo?

Nós não estamos mais sozinhos, não é? Eu tenho dito essa frase com bastante frequência. O Mundial de 2016 mostrou que há a possibilidade de vencer, e também de fracassar. Isso está claro hoje. Ao lado de todas essas potências que fazem o futsal no mundo, eu colocaria ainda o Casaquistão, que é uma equipe que tem muitos brasileiros naturalizados e deve fazer um bom Mundial. Eu acho que nossas chances são reais, em função da competência técnica que nós temos e da qualidade individual dos nossos atletas. Agora, o nosso desafio – e isso ficou claro no último ciclo -, é que se nós não investirmos em preparação, em treinamento, em toda essa parte que forma uma grande seleção, a gente não ganha mais só com o talento. Não é mais só convocar e ir lá vencer. A gente precisa de estrutura, e estamos alertando há muito tempo. A estrutura que vai fazer a diferença: maior tempo de concentração e maiores oportunidades de convocação. A gente assume o favoritismo com muita humildade, sabendo que a gente não está sozinho, mas é a história da modalidade. Além dos cinco títulos que temos Fifa, nunca podemos esquecer que temos também dois Mundiais pela antiga federação internacional de futsal e que foi um marco. Temos que honrar esses sete títulos.

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