Time de raízes orientais com sede na Mooca faz sucesso em primeiro ano na Copa SP
O jovem clube é produto do Instituto Sociocultural Brasil China (que dá o nome ao time de Ibrachina), concebido, segundo dizem seus fundadores, com a ideia de “fortalecer a integração entre os povos do Brasil e da China, consolidar as raízes chinesas no Brasil e disseminar a cultura brasileira na China”. O seu estádio, a Ibrachina Arena, é uma das sedes da Copinha. É uma local acanhado, quase sem espaço nas arquibancadas, sem tribuna de imprensa, mas com boa estrutura para os garotos que almejam ser profissionais.
O Ibrachina nasceu como escolinha de futebol. Onde hoje é o estádio, funcionava a escolinha do Orlando City e o projeto social ligado ao instituto. O complexo também era alugado para eventos sociais, culturais e esportivos, como torneios de masters que reunia craques do passado. Foi em um desses eventos que surgiu a ideia de criar uma equipe de alto rendimento.
“Minha empresa fez esse evento com Vampeta, Dinei, Basílio. Quando acabou o evento, eu fui no escritório do Henrique e sugeri a ele transformar o projeto social em um time de alto rendimento”, conta o diretor de futebol Gilberto Tavares, o Giba, ex-jogador de carreira abreviada por lesões com passagem pelo Santos, e filho do também ex-futebolista Gilberto Sorriso. Ele se referiu a Henrique Law, empresário formado em direito e presidente do Ibrachina.
Para formar a equipe, foi necessário buscar jovens de quatro frentes: projetos sociais organizados pelo instituto homônimo, a escolinha que antes existia na Ibrachina Arena, tradicionais peneiras e por meio de uma parceria com clubes grandes, que cederam atletas por empréstimo. No movimento contrário, a equipe também já negociou atletas com Palmeiras e Corinthians.
“A contrapartida é a vitrine, a exposição. Muitas vezes existem jogadores que não têm espaço em grandes times”, diz Henrique Law. O empresário conversou com a reportagem do Estadão em sua sala presidencial, de frente para o campo. Seu irmão, Thomas Law, administra o instituto, e ele, o time. Os dois são filhos de Law Kin Chong, considerado o “Rei da 25 de Março” e apontado pela Polícia Federal no passado como um dos maiores contrabandistas do País.
Law diz que o dinheiro investido nas três categorias da equipe – sub-15, sub-17 e sub-20 – sai do seu bolso e da ajuda de empresas parceiras que patrocinam o clube. O empresário não considera alto o investimento para montar o grupo da Copinha. “Pegamos muitos jogadores por empréstimo. Isso ajudou”, lembra. Todos os jogadores têm contrato. Eles possuem planos de saúde, alimentação, acompanhamento médico, fisiologista e moram no alojamento do clube, próximo ao estádio. Os salários variam entre R$ 2 mil e R$ 20 mil. “O intuito aqui é desenvolver o atleta. Ele não está aqui para ganhar dinheiro”, ressalta Tavares.
“A gente vai começar a colher os frutos”, confia Law. “O projeto está dando retorno. Estamos falando da nossa primeira aparição na Copa São Paulo. Classificamos com 100% de aproveitamento e somos uma das sedes”, orgulha-se o dirigente. Apesar do que pode chamar de sucesso precoce, ele não pensa, por enquanto, em montar um time profissional.
FEIJOADINHA – O lateral-esquerdo Flávio, jogador ambidestro que veio do São Paulo, o lateral-direito Samuel Neres, autor de três gols no torneio, e o meio-campista Breno, emprestado pelo Palmeiras, são considerados as joias do time de raiz oriental. “Todos já têm propostas”, adianta Tavares.
Mas no elenco existe um atleta que chama a atenção pelo apelido curioso que integra a vasta lista de nomes insólitos entre os 3.758 inscritos na Copinha que a imprensa sempre vasculha antes de o torneio começar. Kauã de Souza Oliveira Santos é chamado de Feijoadinha pelos colegas. “Esse apelido eu ganhei por causa do meu irmão, o Feijoada. Ele também jogava aqui. Um dia ele entrou em campo e começaram a brincar que ele estava pesado, parecia que tinha comido uma feijoada. Ele saiu e aí passaram o apelido para mim”, explica o jovem.
O menino tem 17 anos e joga no ataque. É franzino, tímido e cheio de sonhos. “Quero um dia jogar na Europa, no PSG, Real Madrid”, projeta. O atacante tem contrato de três anos e salário que permite “viver bem”, segundo conta. Mas a ideia é chegar longe. Por isso, a Copinha ele e os colegas tratam como Copa do Mundo. “Um jogo, ou mesmo um lance, pode mudar nossa vida”, justifica.
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