Time de raízes orientais com sede na Mooca faz sucesso em primeiro ano na Copa SP

Há na Mooca, tradicional bairro paulistano conhecido por ser reduto de italianos, um time de raiz oriental sem a tradição do Juventus, mas que tem chamado a atenção na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Trata-se do Ibrachina FC, uma equipe jovem, criada em 2020, durante a pandemia, e filiada à Federação Paulista de Futebol (FPF) há apenas sete meses. Não tem a fama e grandeza dos rivais, mas se destaca em sua primeira participação no maior torneio de base do futebol brasileiro. Ganhou com sobras as suas três primeiras partidas e avançou invicta à segunda fase.

O jovem clube é produto do Instituto Sociocultural Brasil China (que dá o nome ao time de Ibrachina), concebido, segundo dizem seus fundadores, com a ideia de “fortalecer a integração entre os povos do Brasil e da China, consolidar as raízes chinesas no Brasil e disseminar a cultura brasileira na China”. O seu estádio, a Ibrachina Arena, é uma das sedes da Copinha. É uma local acanhado, quase sem espaço nas arquibancadas, sem tribuna de imprensa, mas com boa estrutura para os garotos que almejam ser profissionais.

O Ibrachina nasceu como escolinha de futebol. Onde hoje é o estádio, funcionava a escolinha do Orlando City e o projeto social ligado ao instituto. O complexo também era alugado para eventos sociais, culturais e esportivos, como torneios de masters que reunia craques do passado. Foi em um desses eventos que surgiu a ideia de criar uma equipe de alto rendimento.

“Minha empresa fez esse evento com Vampeta, Dinei, Basílio. Quando acabou o evento, eu fui no escritório do Henrique e sugeri a ele transformar o projeto social em um time de alto rendimento”, conta o diretor de futebol Gilberto Tavares, o Giba, ex-jogador de carreira abreviada por lesões com passagem pelo Santos, e filho do também ex-futebolista Gilberto Sorriso. Ele se referiu a Henrique Law, empresário formado em direito e presidente do Ibrachina.

Para formar a equipe, foi necessário buscar jovens de quatro frentes: projetos sociais organizados pelo instituto homônimo, a escolinha que antes existia na Ibrachina Arena, tradicionais peneiras e por meio de uma parceria com clubes grandes, que cederam atletas por empréstimo. No movimento contrário, a equipe também já negociou atletas com Palmeiras e Corinthians.

“A contrapartida é a vitrine, a exposição. Muitas vezes existem jogadores que não têm espaço em grandes times”, diz Henrique Law. O empresário conversou com a reportagem do Estadão em sua sala presidencial, de frente para o campo. Seu irmão, Thomas Law, administra o instituto, e ele, o time. Os dois são filhos de Law Kin Chong, considerado o “Rei da 25 de Março” e apontado pela Polícia Federal no passado como um dos maiores contrabandistas do País.

Law diz que o dinheiro investido nas três categorias da equipe – sub-15, sub-17 e sub-20 – sai do seu bolso e da ajuda de empresas parceiras que patrocinam o clube. O empresário não considera alto o investimento para montar o grupo da Copinha. “Pegamos muitos jogadores por empréstimo. Isso ajudou”, lembra. Todos os jogadores têm contrato. Eles possuem planos de saúde, alimentação, acompanhamento médico, fisiologista e moram no alojamento do clube, próximo ao estádio. Os salários variam entre R$ 2 mil e R$ 20 mil. “O intuito aqui é desenvolver o atleta. Ele não está aqui para ganhar dinheiro”, ressalta Tavares.

“A gente vai começar a colher os frutos”, confia Law. “O projeto está dando retorno. Estamos falando da nossa primeira aparição na Copa São Paulo. Classificamos com 100% de aproveitamento e somos uma das sedes”, orgulha-se o dirigente. Apesar do que pode chamar de sucesso precoce, ele não pensa, por enquanto, em montar um time profissional.

FEIJOADINHA – O lateral-esquerdo Flávio, jogador ambidestro que veio do São Paulo, o lateral-direito Samuel Neres, autor de três gols no torneio, e o meio-campista Breno, emprestado pelo Palmeiras, são considerados as joias do time de raiz oriental. “Todos já têm propostas”, adianta Tavares.

Mas no elenco existe um atleta que chama a atenção pelo apelido curioso que integra a vasta lista de nomes insólitos entre os 3.758 inscritos na Copinha que a imprensa sempre vasculha antes de o torneio começar. Kauã de Souza Oliveira Santos é chamado de Feijoadinha pelos colegas. “Esse apelido eu ganhei por causa do meu irmão, o Feijoada. Ele também jogava aqui. Um dia ele entrou em campo e começaram a brincar que ele estava pesado, parecia que tinha comido uma feijoada. Ele saiu e aí passaram o apelido para mim”, explica o jovem.

O menino tem 17 anos e joga no ataque. É franzino, tímido e cheio de sonhos. “Quero um dia jogar na Europa, no PSG, Real Madrid”, projeta. O atacante tem contrato de três anos e salário que permite “viver bem”, segundo conta. Mas a ideia é chegar longe. Por isso, a Copinha ele e os colegas tratam como Copa do Mundo. “Um jogo, ou mesmo um lance, pode mudar nossa vida”, justifica.

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