Trombofilia: quando a doença não impede o sonho da maternidade

É preciso contar com uma rede de apoio durante a gestação, principalmente, quando ela é de risco. Diversas doenças podem interferir ou impedir que o desejo de ser mãe aconteça. A luta pelo bebê e pela própria vida se torna diária. O pré-natal é fundamental nesse processo. Quem já venceu a trombofilia gestacional sabe a importância da atuação dos profissionais da saúde.

A luta pela realização do sonho de ser mãe começou em 2013. Quando a bibliotecária de uma universidade, Carla Rech Ribeiro, e o marido, agricultor e comerciante, Claudinei Klais, decidiram que era a hora de aumentar a família, de ter brinquedos espalhados pela casa, de viver um outro tipo de amor. Após as perdas e a incansável busca por respostas, ela recebeu o diagnóstico positivo para trombofilia. Mas até ter conhecimento de que tinha essa doença, o casal viveu momentos de perdas, dores e incertezas.

“Assim que decidimos ter um filho, não tive problemas para engravidar. Com cinco meses de gestação descobri que o bebê tinha restrição de crescimento, passei um mês deitada, tomando os cuidados prescritos pela médica que me acompanhava na época, mas sem sucesso pois o feto não ganhava peso. Decidida que eu precisava de uma melhor assistência, busquei em inúmeros médicos uma resposta, um tratamento, foi quando em Curitiba eu ouvi falar pela primeira vez em trombofilia – uma doença que provoca coagulação sanguínea, ou seja, a circulação de sangue não é capaz de levar nutrientes ao bebê da forma adequada. Ainda nessa clínica em Curitiba, fiz um ultrassom e descobri que o bebe já não tinha mais vida”, recorda.

Durante o mês em que ficou de repouso, Carla sonhava com a chegada do filho. Contudo, o bebê não ultrapassou 450 gramas. Os médicos não viam como possibilidade tentar um parto naquelas condições. “Ainda em choro e desanimada com a perda, fiz pela primeira vez os exames de trombofilia que não apontaram que esse seria o meu problema. Decidimos tentar pela segunda vez, e novamente, perdemos, e o que era inimaginável e parecia insuportável aconteceu, perdemos uma terceira vez, sem que tivéssemos uma explicação, pois nossos exames mostravam que estava tudo bem conosco”.

MOTIVAÇÃO PARA SONHAR – Após tanto sofrimento o passou pensou em desistir. Entretanto, uma amiga de Carla recomendou que eles procurassem outra profissional para que uma última tentativa fosse feita. “Quando a médica viu todos os nossos exames e conheceu nossa história, ela solicitou que eu repetisse os exames de trombofilia, pois os primeiros haviam sido feitos logo após uma perda e isso poderia ter gerado um resultado equivocado. Por fim, era esse mesmo o diagnóstico, descobrimos que eu tenho deficiência de proteína S, umas das muitas variações da doença”, explica.

Com a certeza do quadro de saúde, o casal procurou um obstetra recomendado para esse tipo de acompanhamento. Carla conta que durante toda a gestação fez uso de medicamentos, dentre eles uma injeção por dia de enoxaparina, foram quase 300 ao todo. Após três gestações; três anjos que não chegaram a nascer. Em 2019, tudo mudou. Nasceu o bebê arco-íris. Nasceu o lindo e saudável Davi, para acalentar o coração da mamãe e do papai.

O DIAGNÓSTICO E OS DESAFIOS PARA GESTAR – “A trombofilia é uma doença que atinge muitas mulheres. Na gestação pode levar a infertilidade, abortos recorrentes, prejuízos no desenvolvimento fetal, pré-eclâmpsia e prematuridade e fora do período de gestação, também precisa de cuidados, pois pode gerar outras consequências. Infelizmente, ainda não é uma doença investigada rotineiramente, para ser solicitado os exames é preciso ter perda gestacional, algum caso na família, algo que levante a suspeita. Por esse motivo, muitas são as perdas até se chegar ao diagnóstico. Apenas para exemplificar, há um grupo na rede social Facebook intitulado ‘Trombofilia e Gestação’ que possui 15 mil membros, ou seja, há inúmeras ‘Carlas’ por aí, chorando suas perdas”, relata a mamãe ao reforçar que as mulheres devem buscar informação sobre o assunto.

Entre os desafios para vencer a doença no período gestacional e ter o filho nos braços, Carla cita o acesso a medicação. “A enoxaparina é um medicamento caro. Felizmente, em Toledo foi possível acessar esse medicamento via Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Para o casal é importante não desistir dos sonhos e lutar para que eles aconteçam. Carla e Claudinei enfatizam que é fundamental contar com uma rede de apoio e seguir com comprometimento o pré-natal. “Eu era doida para fazer o chá revelação, mas tinha medo de comemorar e depois perder novamente. O nosso médico, Ramon Ribeiro de Jesus disse: ‘Está tudo bem. Essa é a primeira gestação com medicamento, cada gestação é única, você vai deixar de viver por medo?’. Fizemos o chá e foi lindo. O Davi nasceu cheio de saúde para alegrar nossa vidas. Foi a realização de um sonho e a superação de um momento do dificuldades”.

Da Redação

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