Vacinas contra a covid-19 perdem força com a idade
A pesquisa demonstrou que os dois imunizantes oferecem proteção contra casos moderados e graves de covid-19 causados pelas novas variantes de preocupação em circulação. Ao avaliar os dados por faixa etária, no entanto, constatou-se uma redução na proteção com o aumento da idade. De 80 a 89 anos, a AstraZeneca tem um índice de proteção contra a morte de 89%. O da CoronaVac ficou em 67,2%. Acima dos 90 anos, os índices ficaram em 65,4% e 33,6%.
Coordenado por Manoel Barral-Netto, o trabalho foi publicado em preprint na MedRxiv, site que distribui versões pré-publicação de artigos científicos sobre saúde. Os resultados mostram que as duas vacinas são efetivas contra a infecção, hospitalização e óbito, considerando o esquema vacinal completo (duas doses): AstraZeneca, com 90% de proteção, e CoronaVac, com 75%.
“Já suspeitávamos da influência na idade na queda da efetividade, porque o mesmo ocorre com outras vacinas”, afirmou Barral-Neto, pesquisador da Fiocruz-Bahia. “O que fizemos foi delimitar claramente esse ponto de declínio; a intenção é fornecer dados para embasar decisões dos gestores.”
Segundo o estudo, a redução da efetividade pode estar relacionada a alguns fatores. São citados a diferença das plataformas tecnológicas utilizadas em cada um dos imunizantes, a seu impacto sobre a imunogenicidade (capacidade de gerar resposta imune). Há ainda o processo natural de resposta imunológica menor entre os mais velhos, a imunoscenecência.
De acordo com os cientistas, com disponibilidade limitada de vacinas, poder identificar com mais precisão os limites de idade em que a proteção imunológica cai é crucial para a implementação de medidas de saúde pública.
“Considerando o atual cenário no Brasil, nossas descobertas demonstram a eventual necessidade de uma dose de reforço vacinal nos indivíduos acima dos 80 anos que receberam CoronaVac e naqueles acima de 90 anos imunizados com a AstraZeneca”, conclui o estudo.
Os resultados podem ser importantes também para outros países que utilizam essas vacinas e não têm populações tão grandes (ou facilidade de acesso dos dados) para aferir a efetividade por faixa etária.
“É uma contribuição para a saúde pública do Brasil mas também para a de outros países que não conseguem fazer esse tipo de análise”, disse Barral-Neto.
O pesquisador afirmou que o monitoramento das pessoas vacinadas continua. Na próxima rodada de divulgação de resultados, ele deverá apresentar os dados das vacinas da Pfizer e da Janssen.
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