Repórter Record Investigação mostra a devastação dos bairros que afundaram, em Maceió, há quatro anos
Há exatamente quatro anos, a terra tremeu pela primeira vez na capital Maceió, no estado de Alagoas. De lá para cá, o solo de bairros inteiros afundou. A tragédia anunciada, tema do Repórter Record Investigação desta quinta-feira (03/03), transformou a vida de pelo menos 55 mil pessoas, que perderam casa e viram seus sonhos desabarem.
O desastre não tem a ver com um terremoto, mas com a exploração de minério dentro da cidade. A reportagem “Vidas em Ruínas”, de Marcus Reis, Tarcísio Badaró e Rodrigo Favero, revela quem é o responsável por tamanha destruição.
As casas, que eram o lar de milhares de pessoas, hoje estão lacradas por tijolos sem cor, em ruínas. Parece um cenário de guerra. Várias pichações citam a Braskem, empresa petroquímica que tem minas na área para extração de sal gema, material utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC.
Estudos comprovaram que o terremoto do dia 3 de março de 2018 foi causado pelo desabamento de 35 minas subterrâneas da empresa. Moradores que vivem ao lado dos bairros atingidos também sofrem com os reflexos do afundamento do solo. Muitos estão, hoje, numa situação de isolamento com ruas desertas, falta de iluminação e sob risco constante. Mas o que a empresa tem a dizer?
O tremor que sacudiu Maceió atingiu dois pontos na escala Richter e durou pouco. Só que o suficiente para causar muito estrago, como rachaduras nas ruas e casas, além fissuras profundas na vida de quem mora lá. Maria do Rosário era moradora de Pinheiro, epicentro do abalo. “Ninguém pode mais morar no bairro. Tá tudo vazio. Não tem ninguém mais”, conta. Ela teve que se mudar para outro lugar, assim como todos que viviam na região.
Joseane era dona de um salão de beleza. Mas não resistiu ao êxodo da população do bairro. “A Braskem tirou nossa dignidade. O bairro, como está deserto, os poucos moradores que restaram estão empobrecendo, não tem mais renda”, afirma Joseane. Para ajudar no sustento da família, ela precisou arrumar emprego, numa loja no centro da cidade. O trabalho é tranquilo, só que voltar ao bairro isolado depois do expediente é um desafio. “É uma caminhada solitária, assustadora, eu tenho muito medo, medo de assalto porque não tem postes de luz, mas vou resistir até onde der”, diz.
Resistência e dignidade. Essas palavras traduzem bem a vida daqueles que ficaram sem chão em Maceió. Ronaldo não abre mão do que restou da casa dele. Passou a viver à luz de vela, mas o maior risco para ele aparece quando a noite chega. Para vencer o breu noturno, o marceneiro pega pedaços de madeira das casas abandonadas e usa para fazer fogueiras. “É o jeito que encontrei para eu clarear a minha rua, porque sem isso fica muito escuro mesmo”, conta.
Priscilla tem medo de ladrões levarem a maior riqueza deixada pelo pai: uma biblioteca com 15 mil obras. Desde que ele morreu, há quatro anos, os livros se tornaram um refúgio para ela. “Quando eu entro na biblioteca, eu me sinto abraçada por ele, isso é a maior valia para mim”.