Vereadora negra do RJ critica abordagem policial com xingamento e armas apontadas

A vereadora do Rio Tainá de Paula (PT), de 38 anos, foi abordada por quatro policiais militares, na noite de quinta-feira, 28, e chamada de “vagabunda” pelos agentes. Durante uma revista de rotina em uma rua da Tijuca (zona norte), os PMs mantiveram armas apontadas para ela e as outras três pessoas, segundo relatou a petista. Ela e os demais ocupantes do veículo são negros.

Tainá havia saído da Câmara Municipal e seguia para casa, em um carro blindado, acompanhada por dois assessores e o motorista, por volta das 21h. “Quando estávamos na Mem de Sá, uma pessoa em uma moto começou a nos seguir”, contou a vereadora. “Era uma moto comum, não tinha identificação da PM, apenas um luminoso vermelho, e a pessoa não chegou a dar nenhuma ordem para que parássemos. Mesmo se desse, seria imprudência parar, porque não havia nenhuma identificação.”

Quando o carro estava na Rua Doutor Satamini, na Tijuca (zona norte), na altura da Rua Domício da Gama, segundo a vereadora, três policiais, um em cada moto, se juntaram ao homem que estava na moto não identificada. Mandaram o carro parar. Para isso, interromperam todo o trânsito na rua.

“Havia três homens e uma mulher, que mandaram a gente descer do carro, com as armas apontadas para nós”, relatou. “Fui chamada de vagabunda, e mesmo quando falamos que eu sou vereadora a conduta deles não mudou. Continuaram apontando as armas para nós”, afirmou.

Segundo ela, no começo os policiais aparentemente duvidaram que ela fosse da Câmara Municipal. Vistoriaram o carro e conferiram os documentos de todos, e só no final se convenceram de que se tratava de uma parlamentar.

“Eles ainda reclamaram que o carro não parou quando foi abordado pelo primeiro PM. Ora, ele não deu nenhum sinal para parar, e não estava identificado”, disse a vereadora. “Essa conduta não pode ser normalizada. Ficar com a arma apontada pra gente e ser chamada de vagabunda não tem cabimento.”

Tainá disse que vai registrar uma reclamação por intermédio da Câmara. “Já falei com o (Carlo) Caiado (vereador pelo DEM e presidente da Câmara), e a Câmara vai oficiar à secretaria de Polícia Militar para que tome providências. Esse tipo de abordagem não pode continuar”.

Uma coincidência tornou a abordagem mais assustadora. Aconteceu a apenas 800 metros do local onde a também vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta, em março de 2018.

Negra e criada na Praça Seca, na zona oeste do Rio, palco de constantes confrontos entre milicianos, traficantes e policiais, a vereadora conta que já foi vítima de abordagens truculentas outras vezes. “Mas isso não torna a atitude correta. Precisamos reclamar, toda vez que isso acontecer”, reiterou.

O Estadão pediu esclarecimentos à Polícia Militar. A corporação respondeu com uma pergunta: “A comunicante informou se formalizou algum registro na Ouvidoria ou Corregedoria da corporação?” A reportagem informou não ter conhecimento disso, e a PM não se manifestou mais, até a publicação desta reportagem.

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