Votos rurais e do exterior decidirão eleição no Peru
O último lote de votos do exterior está previsto para chegar ao Peru nesta quarta, 9, procedente de São Paulo. Segundo a ONPE, entidade encarregada de contabilizar os votos, no lote da capital paulista estão concentrados votos de diferentes países. Esses votos foram enviados de forma digital a São Paulo, onde foram reunidos e enviados, por meio de um funcionário diplomático, a Lima.
Mesmo assim, nestas eleições, diferentemente das anteriores, ter 100% das urnas apuradas pode não significar ter um vencedor. Com 98% dos votos totalizados, o candidato de esquerda Pedro Castillo liderava com 50,24% dos votos. Sua rival Keiko Fujimori, conservadora e filha do ex-ditador Alberto Fujimori, tinha 49,75%.
Com a disputa voto a voto, deve ser necessário que as atas observadas sejam avaliadas para saber quem será o novo presidente do Peru. “Quando a diferença entre os candidatos é grande, o que está nas atas observadas não importa. Mas, como agora a diferença é muito pequena, não podemos saber (o vencedor) até que se contabilize esses votos. Amanhã (hoje), teremos 100% dos votos contados. Mas, a partir daí, começa a contagem das atas observadas”, explica o especialista em direito eleitoral José Manuel Villalobos.
Atas observadas
A ata eleitoral é um documento que contém os votos de cada mesa dos centros de votação no Peru. Com isso, cada ata tem entre 200 a 250 votos, entre válidos, nulos ou brancos. As atas observadas são aquelas que possuem algum tipo de erro físico, uma rasura ou um furo, por exemplo, que contêm algo ilegível ou estão sem assinatura dos integrantes da mesa.
Elas são enviadas ao Jurado Eleitoral Especial, responsável por fiscalizar a eleição, que vai decidir se elas valem ou não. Só então elas serão computadas. Até a noite de ontem, 1.396 atas apresentavam algum desses erros. De acordo com Villalobos, a verificação das atas observadas pode levar até dez dias.
Na segunda-feira, 7, depois que a apuração passou a indicar Castillo na liderança, Keiko denunciou “indícios de fraude” e afirmou ter provas, como vídeos e fotos. Essa possibilidade até o momento foi descartada por observadores eleitorais.
“Aqui, estamos acostumados ao fato de que quem perde sempre alega que houve fraude. Não é a primeira vez. Castillo já levantou essa hipótese. No primeiro turno, (Rafael López) Aliaga falou em fraude ao perder, e agora Keiko”, disse Villalobos, acrescentando que a eleição é acompanhada por observadores da OEA e da União Europeia.
“De forma geral, é parte de nossa cultura não sermos bons perdedores. Irregularidades isoladas podem ter ocorrido, mas não afetam todo o processo eleitoral. As atas são digitalizadas, é possível ter acesso. A lei permite que haja representantes de todos os partidos nas mesas.”
A presidente da Associação Civil Transparência, Adriana Urrutia, disse que não há nenhuma evidência ou indicação de “fraude sistemática” no segundo turno, apenas “alguns casos isolados” de incidentes que já estão sendo investigados.
Votos do exterior
As denúncias de fraude embolam ainda mais a eleição presidencial e ampliam o clima de instabilidade política no Peru, país que teve quatro presidentes desde 2018.
“A crise é interminável. Os observadores atestam que a eleição foi limpa. Mas, o que é pior de tudo, é ter o resultado muito apertado, ou seja, uma sociedade muito dividida, que não abre espaço para o diálogo”, afirma Moisés Marques, coordenador de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp).
Enquanto os peruanos prendem a respiração, Castillo pediu ontem a seus seguidores que estejam “atentos para defender a democracia expressada em cada um dos votos, dentro e fora do Peru”.
A esperança de Keiko está nos votos do exterior, onde vivem 1 milhão dos 25 milhões de eleitores peruanos. O Partido Peru Livre, de Castillo, pediu à ONPE, por meio de um comunicado, que “cuide da correta proteção dos dados dos votos ao processá-los e publicá-los. No exterior, Keiko obteve até agora 66,19% dos votos e Castillo, 33,8%, com 56,8% dos votos apurados.
Ao mesmo tempo em que o voto do exterior favorece Keiko, ainda faltam ser apuradas 2% das urnas no Peru, a maioria de zonas rurais e selváticas, onde Castillo tem mais aprovação que sua rival.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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