5 em cada 10 brasileiros admitem já ter reproduzido piadas insensíveis ou de mau gosto
“Sim, eu já reproduzi piadas insensíveis”. Embora seja uma declaração difícil de se admitir para os outros, isso é o que acabam de compartilhar 52% dos brasileiros entrevistados durante o mais novo estudo da Preply — plataforma que, nos últimos dias, se propôs a investigar os limites do humor dentro do nosso país.
Durante o levantamento, que questionou se os respondentes possuem o hábito de fazer brincadeiras ofensivas, mesmo quem afirmou reproduzi-las no dia a dia também não negou: já se sentiram pessoalmente ofendidos ao ouvir certas “gracinhas” por aí.
Em um contexto no qual muitos humoristas têm sido criticados por, não raramente, normalizarem discursos de ódio, a especialista em idiomas pediu que centenas de pessoas de todas as regiões revelassem suas experiências com certas piadas consideradas de mau gosto (seja como reprodutoras ou ouvintes), entre os preconceitos mais ouvidos sob a forma de “brincadeirinhas” e como costumam reagir ao ouvi-los. Para 6 em cada 10 respondentes, o ambiente de trabalho é, sem dúvidas, aquele onde mais são ouvidas piadas discriminatórias.
Principais conclusões:
· 52,6% dos brasileiros já reproduziram piadas insensíveis, enquanto 71,6% já se ofenderam com brincadeiras de terceiros;
· Para a maioria dos entrevistados, tais “gozações” costumam acontecer no ambiente profissional (62,6%), internet (61,2%) e reuniões com amigos (56,8%);
· Já no ambiente online, as páginas e perfis no Instagram (46,6%) seriam os maiores disseminadores de piadas ofensivas;
· Sexismo, xenofobia e intolerância religiosa aparecem entre os tópicos mais presentes nas piadas ouvidas diariamente.
Quem cala consente… ou não quer discutir
Quando o assunto é a reprodução de piadas ofensivas, se existe algo que o estudo da Preply parece deixar claro é como quem hoje as reproduz tem grandes chances de se tornar alvo desse tipo de humor no futuro — algo evidenciado nas respostas dos próprios entrevistados.
Isso porque, ao serem perguntados sobre suas participações nessas supostas “brincadeiras”, 5 em cada 10 respondentes afirmaram fazer ou já ter feito alguma “gracinha” considerada insensível ou de mau gosto socialmente, muitos dos quais também fazem parte dos grupos que disseram ficar constrangidos por outras pessoas (82,6%) ou se ofenderem com certas piadas de terceiros (71,6%).
Tal incômodo, de toda maneira, nem sempre é o suficiente para justificar eventuais confrontos durante esse tipo de situação. Afinal, mesmo ao ouvirem piadas que avaliam como insensíveis (seja porque se utilizam de temas delicados, discriminatórios ou que podem causar desconforto), somente cerca de 10% das pessoas revelaram manifestar a própria desaprovação (13,6%) ou educar os demais sobre os impactos negativos (11,4%) desse tipo de humor.
Humor e preconceito: quando a piada perde a graça
Mas, afinal, se experiências com piadas desconfortáveis não faltam entre os brasileiros, que temas sérios têm sido menosprezados em prol da “gozação”? Como uma pesquisa atenta à relação entre certos estigmas, possíveis discursos de ódio e comentários humorísticos, esse foi um dos questionamentos da Preply aos entrevistados, que dividiram com a plataforma o que mais ouvem da boca dos outros disfarçado de humor.
Ao que demonstram os respondentes, são três os tópicos que mais aparecem nas piadas ouvidas no dia a dia: mensagens sexistas (56,6%),por trás, por exemplo, de brincadeiras envolvendo mulheres loiras e sogras, zombarias à aparência física (55,8%), como aquelas que envolvem pessoas gordas, e, ainda, piadas racistas (54,4%).
Somam-se a eles, por sua vez, comentários jocosos sobre grupos como a população LGBTQIA+ (45,2%), membros de determinados grupos religiosos (35,6%), pessoas em situação de vulnerabilidade social (29,6%) e indivíduos com deficiência (30%).
“Quando usado de forma positiva, o humor promove conexão e empatia, serve como um quebra-gelo universal e permite que as pessoas riam juntas. Sua verdadeira potência reside na capacidade de nos unir na alegria sem fazer de ninguém o objeto de ridicularização”, destaca Sylvia Johnson, líder de Metodologia da Preply. “Assim, deve-se tomar precauções para evitar o humor que zomba, diminui ou ofende com base em gênero, raça ou cultura”.
Piadas desconfortáveis por toda parte
Nem na faculdade, nem entre os colegas: de acordo com o que responderam a maioria dos brasileiros, o lugar onde mais escutam piadas insensíveis diariamente é, na verdade, o ambiente de trabalho (62,6%) — o mesmo espaço em que, segundo um estudo da Workplace Bullying, práticas intimidatórias afetam mais de um terço dos funcionários.
Só então (e já fora do meio profissional) é que viriam outros locais e circunstâncias onde tendem a surgir “gozações” do tipo, como em meio a conversas em grupos de amigos (56,8%), ambientes escolares (49,6%), eventos sociais (48,2%) e espaços públicos (44,2%).
Ora, mas e quanto à internet, esse terreno em que piadas se confundem com discursos de ódio e ofensas gratuitas com grande frequência? Para 6 em cada 10 entrevistados, estamos falando de um dos espaços onde mais se encontram “brincadeiras” ofensivas, sobretudo em três redes sociais específicas: Instagram (46,6%), Facebook (28,2%) e TikTok (27,6%), as mais mencionadas nas respostas.
As reuniões de família, como imaginado, também não ficam muito atrás no quesito passar do ponto em nome do riso, tendo em vista que familiares como primos (39,8%), tios (37,6%) e até mesmo os próprios pais (25,2%) foram classificados como reprodutores de piadas desconfortáveis na visão dos ouvidos pela Preply.