Investimento socioambiental da Itaipu no território retorna na forma de mais água para a geração hidrelétrica

Estimated reading time: 6 minutos
Essa é uma das conclusões do programa Aisa, que promove pesquisas sobre práticas conservacionistas na agricultura, principal atividade econômica da região da usina
Os investimentos em ações socioambientais realizados pela Itaipu Binacional nas áreas conectadas ao reservatório retornam para a empresa na forma de mais água para a geração hidrelétrica. E, além disso, ajudam os produtores rurais a terem mais lucratividade e mais resiliência às mudanças climáticas.
Essas são algumas das conclusões apresentadas durante o II Workshop Aisa, realizado nestes dias 8 e 9 de abril, na usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu. O workshop apresentou resultados parciais do programa Ação Integrada de Solo e Água, uma parceria entre a Itaipu – por meio do Programa Itaipu Mais que Energia, IDR-Paraná, Embrapa, Esalq/USP e Faped.
Uma das ações promovidas pela Itaipu, por exemplo, é a construção de terraços agrícolas. Ao longo dos anos, a binacional já custeou a implantação de mais de 3 milhões de hectares de terraceamento. Unida a outras práticas conservacionistas, como a diversificação de culturas e o plantio direto (técnicas que a Itaipu transfere aos agricultores via ações de assistência técnica e extensão rural), são criadas condições ideais para maior infiltração e armazenamento da água no solo, e a correta drenagem pela rede hídrica.
Outras vantagens estão no maior aporte de matéria orgânica e menores perdas de água por evaporação. Isso significa mais água na lavoura, mesmo em períodos de pouca ou má distribuição de chuvas. Também diminuem as perdas de nutrientes e de solo com as enxurradas, cada vez mais intensas por conta das mudanças climáticas. E tudo isso significa menores perdas de safra.
“O sistema que disponibiliza mais água para o setor agropecuário, disponibiliza também mais água para a geração de energia na Itaipu”, explica Hudson Lissoni Leonardo, idealizador e gestor do programa Aisa pela Itaipu. “Nós estamos falando de pesquisas, de dados científicos que fundamentam os investimentos feitos pela Itaipu na bacia hidrográfica”, completou.
Uma dessas pesquisas apresentadas no workshop Aisa é do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR-Paraná), realizada há vários anos em duas bacias hidrográficas localizadas nos municípios de Cambé e de Toledo, e cujos resultados foram apresentados pelos pesquisadores José Francirlei de Oliveira e Graziela Moraes de Cesare Barbosa. Na pesquisa, são consideradas duas escalas de erosão: na área agrícola e na bacia hidrográfica, junto ao rio.
“Nesses tempos de mudança climática, de aumento das intensidades de chuva, nós estamos percebendo uma fragilidade muito grande da superfície dos solos. Para um enfrentamento desse cenário, o conjunto de dados tem nos mostrado que precisamos atuar em três eixos: da produção da água pelos terraços, atenuando os picos de vazão lá no rio; técnicas que façam a proteção da cobertura do solo; e, em terceiro, a infiltração e condutividade hidráulica no solo”, explicou Oliveira.
Já Graziela advertiu que, embora o Paraná seja um estado pioneiro na implantação de técnicas de combate à erosão (já com cinco décadas de adoção da prática do plantio direto, por exemplo) muitos produtores estão abandonando essa técnica por conta de uma visão imediatista, que considera apenas os custos da safra e não o médio e o longo prazo. “Há regiões no Paraná que, diferentemente aqui do Oeste, não têm terraço algum e o produtor está tendo perdas”, alertou Graziela. “Ele precisa pensar além da safra. Planejar para no mínimo três anos. Isso vai trazer mais rentabilidade”.
Outro indicador da eficiência dessas técnicas veio da apresentação do microbiologista do IDR-Paraná, Arnaldo Colozzi Filho, que pesquisa a atividade biológica como um indicador de qualidade do solo e sua relação com as práticas agrícolas. “O que a gente pode comprovar é que o uso de alguns insumos naturais, como o dejeto líquido suíno e a cama de aviário é muito interessante para as plantas e para a saúde do solo. Isso também vale para o uso de resíduos do próprio sistema, como a manutenção da palha, cuja decomposição libera uma série de nutrientes”, explicou.
Mas a infiltração da água precisa estar associada a essas técnicas para que a enxurrada não leve os nutrientes para os rios. Quando isso ocorre, o prejuízo não se limita apenas ao campo. “Esse escorrimento superficial da área agrícola, que vai para os rios, leva solo, fertilizantes, produtos químicos, biocidas, isso reflete até nas cidades, porque o custo do tratamento de água fica mais caro”, completou Arnaldo.
Outra linha de pesquisa, desta vez da Embrapa, mostra que a diversificação de culturas contribui, inclusive, para diminuir as emissões de gases de efeito da agricultura. É o que afirmou o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Dibiasi, que estuda o manejo do solo focado na diversificação dos sistemas de produção e coordena o programa Soja de Baixo Carbono.
“Quando você tem um sistema mais diversificado de produção, você está aportando mais palha e mais raiz. Com isso você melhora a estrutura e a biologia do solo. E o principal componente da matéria orgânica do solo é o carbono, que é retirado da atmosfera. Daí a questão da soja de baixo carbono, que ajuda a mitigar o processo de aquecimento global que estamos vivendo”.
O engenheiro agrônomo da Coopavel, Rodrigo Bergo da Silva, participou do workshop Aisa e atesta que, entre seus cooperados, a grande maioria adota terraceamento, diversificação e plantio direto. “Temos incentivado bastante a utilização de plantas de cobertura nas janelas de plantio, e a adoção de outras técnicas como a utilização de milho consorciado com braquiária, rotação de cultura e o uso de bioinsumos”, explicou. “Isso tem dado bons resultados em termos de produtividade, reduz as perdas nas enxurradas, melhora o perfil do solo. Quem adota, vê os benefícios e repete na safra seguinte”, concluiu.
ITAIPU