Setor do agronegócio deve acompanhar tendências mundiais, diz Nogueira

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O agronegócio entrou o ano de 2025 com choque de oferta, dólar e juros altos em relação a dois anos atrás e algumas complexidades de ordens geopolíticas acentuadas. O produtor e os profissionais deste setor, assim como a sociedade em geral, caminham ‘pisando em ovos’ e precisam se adaptar às novas agronegócio tendências mundiais.

No final do ano passado, a Gerência de Desenvolvimento Técnico da Ocepar (Getec) publicou o Informe Perspectivas de Mercado, com informações sobre grãos e carnes. O boletim mostra a evolução dos preços médios da soja, milho e trigo recebidos pelos produtores do Paraná, de dezembro de 2023 até dezembro de 2024.

De acordo com o Informe Perspectivas de Mercado, até novembro do ano passado, as exportações brasileiras do agronegócio atingiram US$ 152,6 bilhões, tendo como principais destinos, acumuladamente, a China (31,0%), União Europeia (14,2%), EUA (7,2%), Indonésia (2,6%) e Vietnã (2,3%).

Segundo o levantamento feito com base em dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, 79,7% das exportações foram alcançadas por apenas cinco produtos: complexo soja (34,2%), carnes (15,7%), complexo sucroalcooleiro (12,0%), produtos florestais (10,4%) e café (7,4%), no acumulado do ano.

De acordo com o

O Paraná manteve-se como o terceiro estado no ranking das exportações nacionais, representando 11,1% das exportações brasileiras do agronegócio, somando valor de US$ 16,9 bilhões.

O presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Agronegócio de Toledo (CMDAT) João Luis Raimundo Nogueira explica que essa é a realidade da região Oeste do Estado. “Toledo é considerada a capital da proteína animal pela importância da produção de aves, de suínos e de peixes. A importância que se tem no mercado externo é atração de divisas”.

Nogueira realiza a análise com os itens carne e complexo soja. Juntos, eles somam quase 50% do total. “Entre os anos de 2023 e 2024, a sociedade viveu uma adaptação no mundo após pandemia. A pandemia promoveu uma elevação de custos de forma generalizada; ocorreram crises em países produtores e consumidores, pois se criou uma expectativa de falta de produto. Após algum tempo, esses produtos faltaram no mercado”.

Outro item recordado por Nogueira é a crise climática. “Essa situação elevou o custo para quem produz ou consome. Neste cenário, a inflação no Brasil aumentou, assim como na China e na Europa”.

Na sequência, duas guerras iniciaram no mundo. Uma no meio da Europa e outra no centro do Oriente Médio. “São regiões produtoras de alimentos e de insumos e com importância considerável ao abastecimento mundial”, explica o presidente do Conselho.

Ele contextualiza que o Oriente Médio é uma região consumidora dos produtos do Brasil. “São produtos da nossa região, do Oeste do Paraná, sobretudo de Toledo, que é a carne de frango”.

Apesar desse cenário, a produção naqueles anos foi boa. “Nós temos um encontro de fatores, principalmente, de uma produção boa, que tem uma demanda cautelosa em função do custo elevado e a ameaça inflacionária. Isso foi a tônica do ano passado. Além disso, o fator geopolítico cria incertezas com relação a quem produz e a quem consome também. Esses fatores permaneceram em 2024”, afirma Nogueira.

FUTURO – O ano de 2025 inicia. Conforme o presidente do Conselho, a região Oeste do estado e o Brasil (como um todo) vivem um choque de produção e paralelo existe o novo governo nos Estados Unidos, considerado o país com a maior economia do mundo. “Um governo que ameaça com retaliações tarifárias. Há vários países do continente europeu, para citar alguns a China e o Brasil. Um país que deseja proteger a sua sociedade e nesses momentos de incerteza o dólar, considerado uma moeda de reserva do mundo, se valoriza. Por isso, as incertezas. Além disso, um novo pacote fiscal deve ser implementado no Brasil, o que gera dúvidas também no mercado”.

Nogueira explica que a valorização do dólar resulta em projeção de juros mais altos e existe a projeção de mais aumento. “Eu, particularmente, acho até um exagero se considerarmos os indicadores econômicos do Brasil. O país cresceu acima de 3%, com uma taxa de desemprego próxima de 6%, reservas bancárias ou cambiais altas nas últimas duas semanas. O Brasil passa a ‘queimar’ reservas na tentativa de diminuir o valor do dólar e pressionar menos a inflação”.

Em 2025, esse cenário econômico e no agronegócio deve permanecer? Nogueira revela que dependerá das relações geopolíticas, principalmente a posição do governo norte-americano com relação ao consumo nos Estados Unidos, principalmente as exportações dos Estados Unidos do complexo soja. “O produtor de soja deve estar aflito. Ele deve recordar quando se acentuou a guerra comercial entre Estados Unidos e a China e o produto brasileiro teve muita valorização no porto com prêmios que compensaram. A pergunta é: isso vai se repetir ou não?”.

Ele acredita que a região Oeste do Paraná, assim como o Brasil, deverá conviver o ano de 2025 com margens estreitas. “Significa dizer que produtores, assim como todo mundo que faz parte do complexo do agronegócio, precisarão ter cuidado com as compras e as vendas. Qualquer erro, realmente, pode significar custos maiores. Precisamos torcer para que exista um bom sucesso entre os grandes líderes mundiais. Que isso possa causar o otimismo no mercado e com esse otimismo o dólar não tenha um valor tão elevado, porque isso vai significar custos mais altos ao longo de 2025”.

Nogueira enfatiza que essa é uma preocupação do setor produtivo. “Fica difícil saber o que vai acontecer. Sabemos que os Estados Unidos é uma potência e a China é outra potência consumidora. Já os países, produtores de commodities como o Brasil, produzem ativos de risco e o dólar é uma moeda que ocupa o espaço dessas commodities. É preciso lembrar que os Estados Unidos é um grande produtor de commodities e necessita que seu produto seja competitivo no mercado. Para ele ser competitivo, é necessário que o dólar não esteja tão valorizado”.

PREVISÃO – De acordo com o presidente do Conselho, diante deste cenário, é difícil fazer uma previsão para 2025. “Vamos torcer para o melhor. O melhor no momento é uma boa produção na América do Sul, tanto no Brasil quanto na Argentina para aumentar a oferta e fazer uma pressão, o que significaria preço menor, porém ganhamos com o aumento de produtividade”. Ele complementa que o Brasil precisará torcer para que o bom senso prevaleça entre os Estados Unidos e os países parceiros. “Que em 2025, o dólar não se mantenha nesses patamares, porque ele representará custo muito alto para a nossa região, pois somos importadores de insumos”.

Na outra ponta terá um reflexo ao consumidor. Nogueira menciona que ele poderá pagar um preço alto e, por consequência, pode se vai retrair. “Esse consumidor está cauteloso moderado”.

Da Redação

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