Angústia: familiares compartilham dor e esperança com entes que estão na Cisjordânia
No dia 7 de outubro, teve início um novo episódio na guerra entre judeus e muçulmanos após o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, provocando outros ataques e bombardeios pesados sobre a Faixa de Gaza. O efeito? milhares de vidas perdidas de israelenses e palestinos. Geograficamente o Brasil está longe de área de conflito, contudo, quando existem familiares em risco quem está distante sente o efeito do conflito bélico, pois a guerra aflige o coração e nutre sentimentos de angústia e temor por aqueles que lá estão.
A administradora e advogada, Haula Hussein Ali Mohd Rabah, reside em Toledo e tem familiares na Cisjordânia – território palestino. Ela conta que moram lá sua irmã, seu cunhado, um sobrinho, também tem tios, tias e primos que residem na Cisjordânia e na Jerusalém Oriental e os familiares de seu cunhado. Além disso, possuem parentes nos campos de refugiados da Jordânia e Kuwait.
“O que nós, do Brasil podemos fazer por nossa família e por todos os palestinos que sofrem sob um regime de Apartheid – de ocupação do colonizador – é trazer a verdade, a realidade imposta aos palestinos há 76 anos. Procurar conscientizar quem podemos sobre a questão palestina. É uma luta desigual contra grandes meios de comunicação que repetem narrativas inverídicas e incompletas, que raramente nos oportuniza o espaço de fala e, quando isto ocorre, são muito pequenos. Damos apoio aos nosso familiares através de ligações constantes, ouvimos seus lamentos e compartilhamos da dor e da esperança de vermos a Palestina e seu povo livres”, aponta.
Haula conta que é nascida no Brasil, na cidade de Toledo, assim como seus dois irmãos, Ualid, Jomah (in memorian) e sua irmã Ruayda. Haula é a filha mais nova do casal de palestinos, Farha e Hussein Ali, das cidades de Arura e Kobar, próximas à Belém e Ramallah, respectivamente. “Hoje, nessas regiões ficam na chamada Cisjordânia, território palestino. Eles fugiram da colonização israelense na Palestina, que iniciou em 47, quando acontece, a partir de 48, a grande limpeza étnica na palestina. Meu pai chega ao Brasil no final da década de 50 e minha mãe, no início da década de 60. Ele se instala, inicialmente, por pouco tempo no Rio Grande do Sul e logo vem para Toledo. Minha mãe chega diretamente em Toledo. Eles mantiveram comércio, na Barão do Rio Branco, até meados dos anos 90, quando a família toda vai para Maringá, onde meus outros três irmãos já estavam estudando na UEM, meu destino posterior igualmente”.
OPRESSÃO – Segundo Haula, a situação de todos os palestinos é a de colonizados, pois vivem sob uma ocupação estrangeira de seus territórios, desde 1948, visto que mesmo após a partilha da Palestina, para a criação de Israel, este nunca parou de expandir seu território e limpar etnicamente a Palestina. Ela pontua que a Cisjordânia vive sob controle israelense, toda ‘cortada’ por muros de cerca de oito metros de altura e mais de 750 km de extensão, ainda existem trincheiras de dois metros de profundidade, arames fardados e torres de segurança a cada 300 metros.
Os recursos naturais, assim como as terras férteis e agricultáveis, conforme Haula, passaram a ficar praticamente todo sobre o controle israelense (limitando ao mínimo a utilização destes recursos aos palestinos); assim como o ir e vir dos civis residentes, que passam horas e horas para ter ou não autorização para atravessarem de um lado para o outro da cidade ou de uma cidade para a outra.
“Além disso, há os check-points, que podem estar em qualquer lugar, a qualquer hora, revistando e humilhando palestinos cotidianamente. Existem ruas, locais, cidades, dentro dos territórios palestinos, que estes, não podem circular, são proibidos, se isto ocorrer, o ataque a eles é certo e as consequências, as piores. A possibilidade de prisões administrativas pelo estado israelense, sem acusação definida é uma constante na vida dos palestinos, principalmente entre crianças, jovens e lideranças políticas. O palestino, pode ser preso, em qualquer idade, administrativamente, sem acusação e sem possibilidade de defesa, por seis meses e estes, podem ser prorrogáveis, sem motivos. A casa e as terras da família de um palestino que foi preso, podem ser confiscadas por Israel”, lamenta.
LEIS DISTINTAS – Haula traz relatos de que os palestinos passam por períodos de muitas incursões de soldados. Ela cita também que existem leis completamente distintas para palestinos e israelenses, por exemplo, além de palestinos poderem ser pesos administrativamente e sem acusação formal pelos israelenses e em qualquer idade, a maioridade penal, é de 12 anos para julgamento e condenação, enquanto para israelenses, não há esse tipo de prisão sem acusação e a maioridade é de 18 anos.
“Os locais sagrados para muçulmanos e cristãos, assim como cemitérios destes, são constantemente invadidos, depredados. Os cristãos são cuspidos e xingados rotineiramente e impedidos, de circularem sobre os seus locais sagrados, muito triste”, cita ao acrescentar que na Faixa de Gaza a situação é ainda mais terrível e que é a condição mais degradante de submissão à subsistência humana.
RESTABELECER AS FRONTEIRAS – “No meu ponto de vista, a situação a ser resolvida para a questão palestina não é complexa como muitas vezes se ouve. Existem inúmeras resoluções da ONU, tratados assinados, o direito internacional, onde restabelece as fronteiras territoriais da Palestina, os direitos civis da população palestina e o direito à autodeterminação do povo palestino, com governo eleito e independente. O retorno dos palestinos refugiados, que igualmente lhes são garantidos nas resoluções e tratados mencionados. Basta que isso seja posto em prática, que Israel cumpra com a legislação e com o acordado e o EUA deixar de vetar as determinações da ONU neste sentido. Não precisa de nada novo”, afirma.
Para Haula, só haverá paz na região com uma Palestina independente, com autonomia territorial e de Estado, para que vivam como civis independentes, professando a religião que quiserem, assim como ocorria, antes de 48. “Ou seja, a solução só é possível com o fim da ocupação/colonização israelense, o fim do apartheid, e a Palestina livre”, conclui.
Da Redação
TOLEDO