Audiência Pública discute cortes de verbas e sucateamento da Embrapa
Líderes sindicais e representantes do setor agrícola estiveram nesta terça-feira (06) em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná. Promovido pela deputada Luciana Rafagnin (PT), o encontro teve como tema a campanha nacional “Em Defesa da Embrapa Pública, Democrática e Inclusiva,” desenvolvida desde o ano passado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF), que tem articulado e dialogado com parlamentares de todas as instâncias legislativas em busca de um orçamento compatível com as atribuições da empresa.
A campanha tomou ainda mais força neste ano, quando a gestão da Embrapa anunciou uma reestruturação organizacional, que o sindicato considera nociva e prejudicial ao caráter público e à missão da empresa.
A importância da Embrapa foi lembrada pelo presidente do Sinpaf, Marcus Vinicius Sidoruk Vidal. “Nosso sindicato tem 33 anos e durante todo este tempo defendemos os trabalhadores, junto com outras empresas que também representa e também defendemos a empresa. São 33 anos defendendo esta empresa que este ano completou 49 anos. Ela foi criada com o objetivo de defender nossa segurança alimentar e nossa soberania alimentar também”, disse o presidente ressaltando os últimos cortes de recursos que aconteceram neste ano, realizado pelo Governo Federal. “O que está acontecendo hoje é que estamos sofrendo cortes orçamentários brutais, para se ter uma ideia neste ano de 2022 temos apenas R$ 5 milhões para pesquisa no Brasil inteiro. É impossível fazer pesquisa desta forma, ainda mais com uma gestão que é extremamente verticalizada” lembrou.
Para a deputada Luciana Rafagnin, a campanha não discute a qualidade dos trabalhos realizados pela Embrapa, mais sim, a garantia para a continuidade dos serviços diante do tratamento recebido pelo Governo Federal. “É preciso garantir o funcionamento da Embrapa para que ele não fique passando pelo que vem passando continuamente, são ataques diretos que hoje dificulta e diminui o trabalho da Embrapa. O que precisamos é o contrário, precisamos de apoio do Governo para que se possa cada vez mais colocar recursos e dar condições para que o trabalho possa ser realizado”, cobrou a parlamentar.
A engenheira Florestal e diretora da cooperativa Central de Reforma Agrária do Paraná Movimento Sem Terra (MST), Priscila Facina Monnerat esteve no encontro representando as mais de 25 mil famílias assentadas no Paraná e as 23 cooperativas que fazem parte da rede de cooperativas do MST no Estado. “Estamos vivendo uma grave crise ambiental, sanitária e social, e nós da agricultura familiar e camponesa temos muitas respostas para isso. Infelizmente hoje as pesquisas estão muito mais voltadas para o agronegócio, grandes empreendimentos e nós vivemos lutando contra estas forças. Acabamos fazendo isso sem apoio de pesquisa, financiamento. O que estamos vendo é que o agro, que é o grande beneficiado de tudo, não está solucionando a questão da fome, o que estão fazendo é trazer ainda mais problemas para a questão ambiental. Estamos aqui para defender esta parceria, entre a empresa e todos os profissionais que estão comprometidos com este novo projeto para o campo no Brasil, afirmou Priscila”.
A Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), também está defendendo o não sucateamento e cortes de recursos realizados nos últimos anos. Segundo o presidente da entidade, Márcio Kieller, A Central está alinhada a mais de 150 setores que buscam um entendimento de valorização da Embrapa. “Nós sempre estamos ao lado da classe trabalhadora fazendo a defesa da importância das empresas estatais como um todo. Neste sentido acabamos focando naquelas que tem mais visibilidade social, e deixamos de considerar que muitas, como a Embrapa, têm um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade. Estamos em um momento muito oportuno, pois estamos em transição política e discutindo como serão os novos tempos, que se avizinham em um cuidado maior com a agricultura familiar, com os trabalhadores do campo”.
O corte crescente de recursos destinados à pesquisa agropecuária pública no Brasil é dissonante da realidade da maioria dos países onde a agricultura tem importância socioeconômica e ambiental. Somente neste ano a empresa já perdeu R$ 519,50 milhões de seu orçamento.
Hoje a Embrapa possui sete Unidades Centrais, que funcionam em sua sede, em Brasília, e 43 Unidades Descentralizadas, localizadas em quase todo o território nacional, com Centros de Pesquisa temáticos, de produtos e ecorregionais, formando uma rede multidiversa e abrangente. A equipe de trabalho é constituída por 8.043 profissionais na ativa.
No final de 2021, a Embrapa possuía 1.121 projetos de pesquisa em execução e, no ano de 2020, o lucro social da Empresa foi de R$ 61,85 bilhões, demonstrando que o retorno anual superou em 17 vezes o valor investido na empresa, conforme seu último balanço social.
Um relatório com todos os encaminhamentos e ponderações realizadas durante a audiência será encaminhado ao Governo Federal nos próximos dias para que as devidas providencias sejam tomadas.
Da ALEP