Audiências públicas regionais e na capital discutem a crise no setor leiteiro

O Brasil é o terceiro maior produtor de leite, com mais de 34 bilhões de litros por ano. No Paraná, segundo maior produtor brasileiro, foram produzidos no ano passado 4,4 bilhões de litros, atividade que está presente em todos os municípios e envolve principalmente agricultores familiares. Porém, a cadeia do leite enfrenta uma crise, considerada pelos produtores a mais preocupante nos últimos 20 anos. A Associação dos Produtores de Leite de Toledo e Região (Aproltol) pensando no futuro da cadeia e em estabelecer ações para preservar o setor promove reuniões na região. Toledo já recebeu esse encontro e, nesta semana, foi a vez de Vera Cruz do Oeste promover uma audiência pública.

Representantes e produtores de Vera Cruz, Matelândia, Céu Azul, Nova Santa Rosa, Maripá e Toledo participaram do encontro. Para o presidente da Aproltol Saul Zeuckner, o objetivo foi levar mais informação aos participantes sobre o tema. “É importante todos conhecerem o funcionamento da cadeia. Uma atividade extraordinária que emprega no Brasil muita gente. Muitas vezes, ela é penalizada por falas de pessoas que não têm conhecimento. Isso tem sido uma constante dentro da nossa atividade”.

Durante a audiência pública, Saul destaca que a Associação tem lutado pelos produtores de leite do Oeste do Paraná e com o objetivo que as pautas abordadas na região cheguem até Brasília. “Algo importantes que nós – produtores de leite – precisamos fazer com os políticos – que nos representam – é buscarmos a união”.

DESAFIO – A crise no setor inicia, principalmente devido a uma exagerada importação de leite do Mercosul, sobretudo da Argentina e do Uruguai. “A importação de leite está levando o nosso setor ao colapso”, afirma o presidente da Associação.

Para se ter uma ideia, outro desafio para a cadeia é o custo de produção. Atualmente, o valor varia entre R$ 2,20 até R$ 2,60. “O setor é versátil. Por exemplo, tem diversas formas para produzir o pasto confinado, semiconfinado, com mão-de-obra familiar ou mão-de-obra contratada, maior ou menor produção. Nós precisamos nos unir e encaminhar nossas demandas para Brasília”, enfatiza Saul.

De acordo com o presidente da Associação, se Brasília resolverá o problema ainda não se sabe. “Mas se nós não nos manifestarmos, não colocarmos ‘o dedo na ferida’ como diz o ditado, também não saberemos se dará certo. Vamos em frente”, destaca.

ENCAMINHAMENTOS – Reuniões regionais e movimentos acontecem nesta semana. Nesta quarta-feira (11), um movimento é realizado na divisa com a Argentina e Dionísio Cerqueira. “Outro movimento será realizado no estado do Rio Grande do Sul. A ação buscará o fechamento da fronteira com o Uruguai. São ações que buscam sensibilizar Brasília”, relata Saul.

Antes, uma audiência pública ocorreu, na terça-feira (10), na Assembleia Legislativa do Paraná, com a presença do Governo do Estado, por meio do Sistema Estadual de Agricultura, analisou propostas de soluções na área, que farão parte de uma carta a ser endereçada ao governo federal.

“É uma discussão importante e necessária para socorro a um setor fundamental da economia e para as famílias do Paraná e do Brasil, ficou demonstrado os temores de que se nada fizermos agora pode ser pior lá na frente”, disse o secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. “Há a esperança de que a várias mãos possamos minimamente encontrar uma saída importante no apoio aos produtores e na continuidade do processo de melhoria da produtividade e da qualidade do leite”.

Devido à importância do setor, Ortigara ressaltou que tem mantido vários contatos com o governo federal e representou o Estado em reunião em Brasília, em junho, quando Geraldo Alckmin exercia a Presidência da República. “Estamos trabalhando nisso desde maio no âmbito federal, tanto nas áreas da política agrícola e da política econômica”, afirmou.

DECISÕES – Ortigara disse ter sugerido nesse encontro a suspensão temporária de importações de leite. “Não defendo o protecionismo como medida econômica, mas no curto prazo talvez seja medida importante para salvar nossa produção de leite”, ponderou. Do leite em pó que entra no Brasil, 53% vêm da Argentina e 41% do Uruguai. Mas o volume de importação tem crescido. Em agosto de 2021 chegou a 75 milhões de quilos, enquanto em agosto deste ano foram 131 milhões de quilos.

É uma crise estabelecida há alguns meses e colocou o produtor de leite no prejuízo, este debate está presente desde o primeiro momento na Assembleia Legislativa, já aconteceram várias reuniões em Brasília, decisões importantes já foram tomadas, porém, até que isso aconteça na prática demanda tempo e depende da fiscalização”, afirmou o deputado Wilmar Reichemback, que organizou o debate por meio da Frente Parlamentar de Apoio à Cadeia Produtiva do Leite.

O superintendente regional da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Walmor Bordin, declarou que o governo federal já está tomando algumas medidas. Citou o aumento na alíquota de importação de três produtos lácteos para países de fora do Mercosul de 12% para 18%. Segundo ele, desde que a medida foi adotada, em agosto, houve redução em 25% na entrada do produto desses países.

Segundo o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite), o Paraná produz 11% do leite brasileiro, mas tem apenas 6% da população do País, disputando mercados consumidores, o que também pressiona o preço no varejo. Ele lembrou que o Estado tem atraído grandes indústrias de produtos lácteos e outras estão ampliando suas instalações.

O presidente eleito da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep), Alexandre Leal dos Santos, destacou que esta semana ocorrem grandes manifestações de produtores em municípios do Vale do Ivaí, Dionísio Cerqueira e Araruna. “Nós queremos salvar a agricultura familiar, estamos preocupados com a situação, a queda do preço é muito alta, o custo da produção é alta, temos um inverno bastante caloroso, enfim, não é só a cadeia do leite prejudicada, mas várias atividades”, disse.

Além do pedido para restrição na importação de leite em pó dos países do Mercosul, os participantes da audiência pública levantaram propostas para maior fiscalização nas fronteiras brasileiras, rastreabilidade e maior taxação dos produtos lácteos importados, não reidratação de leite em pó para que seja utilizado apenas em atividades industriais e renegociação das dívidas dos produtores.

Da Redação*

TOLEDO

*Com informações da AEN

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.