Cadeia leiteira luta por políticas públicas adequadas ao setor

A atividade leiteira tem função social e econômica importante para o Brasil, sendo que em 98,85% dos municípios possuem a atividade, totalizando 5.504 cidades. O País é considerado o terceiro maior produtor de leite no mundo. A cadeia gera quatro milhões de empregos diretos na atividade, além dos indiretos. Apesar de toda essa representatividade, a cadeia enfrenta uma crise, considerada pelos produtores a mais preocupante.

A Associação dos Produtores de Leite de Toledo e Região (Aproltol) preocupada com o futuro da cadeia e em estabelecer ações para preservar o setor solicitou uma reunião ao Legislativo local. Durante a tarde de quarta-feira (26), produtores de leite de Toledo e da região, profissionais do setor e autoridades lotaram a Câmara de Vereadores. A reunião foi presidida pelos vereadores pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS).

Para o presidente da Aproltol Saul Zeuckner, o leite é um dos alimentos mais completos que o ser humano consome, sendo o primeiro alimento após o nascimento. “Mesmo com toda a relevância, a atividade é a mais esquecida quando se trata de política pública”.

O principal gargalo vivenciado pelos produtores de leite, neste momento, é a importação do leite do Mercosul. A importação de leite é a maior em 20 anos. De janeiro a junho deste ano, o Brasil importou três vezes a mais. “É uma disputa desleal no Mercosul. O produto mais comercializado no mundo é o leite em pó integral. No Brasil, ele custa R$ 20 o quilo e o importado do Mercosul custa R$ 17. Esse cenário precisa mudar, pois podemos levar o setor ao colapso. A cadeia deixará de existir caso medidas imediatas não sejam adotadas para minimizar as importações de lácteos, que estão destruindo o setor produtivo”.

Zeuckner explica que a Legislação Brasileira favorece a importação, principalmente quando reduz a alíquota para essa ação. “Além disso, outras nações possuem programas de subsídios para o leite e ‘desovam’ no Brasil a produção excedente. Precisamos debater a Legislação e pensar em mudanças. Os produtores de leite brasileiros precisam ser preservados”.

A Associação solicita ao Legislativo a atenção devida sobre esse assunto. “É uma situação grave e sem precedentes. Precisamos que as autoridades em Brasília conheçam a nossa pauta e adotem medidas efetivas”, afirma o presidente da entidade.

O Brasil possui mais de um milhão de produtores de leite; na região Oeste do Paraná são mais de quatro mil produtores. Zeuckner salienta que a cadeia produtiva é responsável por impulsionar diversos grupos econômicos, como empresas de silagem, fretes, adubos, entre outros. “Uma atividade com importância também social. Nós queremos sensibilizar todas as autoridades, porque é um problema muito sério, podendo a atividade entrar em colapso”.

Atualmente, para o presidente da Associação, o modelo de comercialização do leite é considerado ultrapassado. “Nós somos o único setor que produz o leite para ser entregue para a indústria. O correto é: nós vendemos leite para a indústria. Além disso, comercializamos o leite sem saber o valor que receberemos”.

Algumas demandas da cadeia leiteira são a ausência de uma política adequada para o setor; a alta carga tributária em todos os setores envolvidos na cadeia de produção; a ausência de uma política de juros e prazos, condizentes com a realidade da atividade e a inexistência de uma legislação apropriada para os substitutos de lácteos e uma desenfreada criação de produtos análogos.

REIVINDICAÇÕES – Entre as diversas pautas, a principal é segurar a importação de lácteos do Mercosul. O presidente da Associação esclarece que ainda na década de 1980 o sistema de cotas previa que o máximo de 3% da produção nacional fosse importada. “Essa cota está totalmente aberta e o nosso pedido é que ela retorne”.

Zeuckner menciona que o Brasil deve realizar um trabalho de fiscalização e rastreabilidade dos produtos importados; equiparação de qualidade dos importados, com as exigências nacionais e fiscalização do Mercosul, quanto a possibilidade de triangulação de produtos lácteos e derivados.

Entre as pautas também está a desoneração da produção e incentivos na cadeia, como a redução de impostos sobre a cadeia de produção e financiamentos de longo prazo com juros baixos para investimentos. O presidente da Associação afirma que a Legislação Brasileira deve ser revista o mais breve possível. “O produtor de leite precisa ter uma comprovação de venda/contratos/preços/pagamentos: contratos de compra e venda (formalização de preços); nota fiscal diária/comprovante de teor jurídico; pagamento no máximo quinto dia útil do mês; preços ao produtor, partindo do base de custos de produção (novo indexador)”.

Ele ainda questiona: “Por que estamos nessa situação até hoje? Porque não existe um olhar diferente para a atividade. Precisamos lutar e sensibilizar as autoridades. O grito deve sair daqui e deve ecoar em todos os municípios do Oeste do Paraná e do Brasil. Fico feliz em saber que o prefeito de Toledo, Beto Lunitti, levará a nossa demanda para a Amop”.

Dados

– O Paraná é o segundo maior produtor de leite do Brasil;

– A região Sul do Brasil produz 38% de toda a produção de leite do brasil, mais que o leite produzido na Argentina e no Uruguai;

– A região Sudoeste é o maior produtor de leite do Paraná;

– A Regional de Toledo é composta por 20 municípios e possui 4.262 produtores de leite. Gera a receita direta de R$ 811 milhões, segundo o Deral.

– A Regional de Cascavel são 28 municípios e 4.241 produtores de leite. A geração de receita direta é pouco mais de R$ 800 milhões, de acordo com o Deral.

Vereadores apoiam movimento em defesa do setor

A reunião da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, da Câmara de Toledo nesta terça-feira (26), serviu exclusivamente para tratar da série crise que atinge o setor leiteiro. Na opinião do vereador Chumbinho Silva, que convocou a reunião, “os produtores estão sofrendo. A produção de leite está normal, mas a importação de leite está matando. Todos os vereadores são defensores do agronegócio. Sabemos do leite nosso de cada dia. Sabemos o quanto é difícil ter uma produção de leite. O objetivo é fazer a nossa voz ecoar em todas as autoridades. É uma causa de país”, comentou ele.

Chumbinho destaca sobre a necessidade de aumentar o valor do leite repassado ao produtor e limitar a importação no Brasil. “Precisamos estimular o crescimento da pecuária leiteira no País. Está sendo valorizada demais a importação e o Governo deve estimular a produção para melhorar, quem sabe limitar a importação em defesa do leite do Brasil”, disse ele.

O presidente da Comissão, vereador Valdomiro Bozó, afirmou que será encaminhado um documento para a Associação das Câmaras Municipais do Oeste do Paraná (Acamop), além das “autoridades das esferas municipal, estadual e federal. Essa é uma defesa de todos os vereadores”, disse ele.

Valdir Rosseto afirmou que o encontro serviu para se buscar soluções “e resolver parte dos problemas dos produtores. Vamos em frente. Não vamos desistir”, afirmou.

UNIÃO DE ESFORÇOS – Outros vereadores participaram da reunião, como Roberto de Souza. Para ele, pautas de municípios pequenos e já ganharam o cenário nacional e, neste caso do leite, ele tem certeza de que o assunto vai repercutir em outros municípios. “É na ponta que se paga a conta e os lucros estão no supermercado. Precisamos fazer uma regulação”, afirmou ao defender o associativismo para fazer o debate do que considerou “pautas construtivas”.

Para Damião Santos é preciso lutar “pelo o que é nosso para manter o homem do campo para gerar emprego e renda”, afirmou ao defender a formação de uma caravana com os municípios que integram a Amop “para reivindicar e lutar pela classe”.

Na visão de Gabriel Baierle, a simbologia da reunião e a participação em massa dos produtores de Toledo e região “é um ato forte para que possamos fazer as cobranças às autoridades competentes. Buscamos conhecer e levar as pautas nas discussões da Câmara de Vereadores”, ressaltou.

Olinda Fiorentin disse que ficou triste com os dados do setor apresentados durante a reunião. “Nós estamos recebendo tantos prêmios com o suor dos produtores e quando falamos de produção de leite falamos de quem tem agropecuária. As empresas dependem disso. A produção de leite dá trabalho e é preciso valorizar a agropecuária”, defendeu.

Jozimar Polasso também se mostrou preocupado e se colocou à disposição para apoiar o movimento naquilo que for possível.

E Leoclides Bisognin acredita que nos últimos cinco anos pelo menos a metade dos produtores abandonou a pecuária leiteira em função dos preços pagos pelo litro do leite. “Temos condição de ser exportador para o mundo, mas infelizmente não está aqui a solução do problema”, resumiu.

Autoridades e empresários defendem ações imediatas ao setor leiteiro

Representantes de Cooperativas, Indústrias, Sindicatos, Associações Comerciais, dos Governos das esferas Municipal, Estadual e Federal, produtores rurais e demais profissionais participaram da reunião da Associação dos Produtores de Leite de Toledo e Região (Aproltol), na Câmara de Vereadores de Toledo.

A Associação é considerada um exemplo de organização da cadeia leiteira. De acordo com o presidente da Primato Cooperativa Agroindustrial Anderson Sabadin, a Cooperativa começou a investir no setor lácteo e a crise na cadeia impacta diretamente a Primato. “A Cooperativa é do produtor e, por isso, precisamos discutir políticas públicas estruturantes que limitem a importação do leite. Essa situação tem derrubado o preço do leite e o produtor não vai aguentar. Precisamos buscar alternativas para levar ao cenário político”.

Sabadin salienta que a conta do agronegócio, em muitos momentos, não fecha. “Hoje [terça-feira] o nosso foco é o leite, mas é o agronegócio que tem pago uma conta grande. Algumas decisões precisam ser revistas para efetivar melhorias ao setor. Os números são claros e a conta não fecha”, enfatiza.

UNIÃO – O empresário João Bombardelli complementa que a cadeia possui esse drama. “O Brasil importa o leite que ‘derruba’ a cadeia produtora, sendo que ela é a que mais emprega a nível de família. Pai, mãe, filhos, enfim. Isso preocupa muito a sucessão da atividade. Precisamos nos unir par salvar o setor leiteiro”.

O presidente do Sindicato Rural Patronal de Palotina Edmilson Zabott é produtor de leite, frango e peixe. “Ninguém ajuda o produtor, mas dentro do Agronegócio está o leite. Quantos deputados ou prefeitos da região procuraram ter conhecimento da nossa situação? Estamos na Câmara de Vereadores de Toledo pedindo ajuda para a nossa demanda”.

O representante do Sindicato de Nova Santa Rosa salienta que o recurso financeiro do leite é aguardado pelo comércio das pequenas cidades. “O dinheiro do leite é o mais bem pulverizado nas pequenas comunidades”.

SATISFAÇÃO – Quem também participou da reunião foi o médico veterinário Alexandre Kant. Para ele, atender o produtor de gado de leite é uma satisfação. “É o que eu gosto de fazer. Eu amo o que faço e eu também estou desesperado com esse cenário da cadeia do leite”. Kant acrescenta que como técnico não é só levar o conhecimento, pois o produtor passa a ser amigo. “Ele é a nossa família. Ultimamente, o que mais faço é o serviço de psicólogo. Eu vejo o produtor da cadeia de leite chorar”.

Rodrigo Priesnitz falou em nome do deputado federal Elton Welter. Segundo ele, o deputado tem atuado com as categorias e parlamentares para buscar caminhos para solucionar essa crise. “Existe um acordo comercial com o Mercosul, mas algumas ações já começam a ser efetuadas. O Governo Federal destinou R$ 200 milhões para a compra de leite em pós do produtor brasileiro, entre outros avanços”.

O secretário do Agronegócio, de Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico, Diego Bonaldo, comentou em uma live para o JORNAL DO OESTE que o município busca soluções para auxiliar o produtor rural, como programas que implementam a inseminação artificial. O gestor da pasta citou também a necessidade de estabelecer ações para a atividade. “O Executivo vai trabalhar em um Projeto de Lei e enviar para a Câmara sobre o tema. Há um preço muito baixo e uma importação que não conseguimos controlar. O município vai continuar oferecendo as ações. Vamos dar visibilidade”.

O gestor da pasta cita que a produção está reduzindo. Tem mais produtores saindo da atividade. “E como controlamos? O produtor mora perto da cidade, tem asfalto, não tem problema de locomoção e como a atividade está em outros estados? O leite é um dos produtos mais básicos na produção e na mesa do brasileiro. Não é um problema de solução simples. Não tem mágica na solução e é o que nos preocupa muito”, complementa.

Da Redação

TOLEDO

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