Inovações acessórias não podem mudar o sentido da educação

Num momento de grandes turbulências e incertezas quanto aos destinos da educação no país, o setor ainda tem que lidar com a ação oportunista de ‘novos pensadores’ que trazerem teorias bem embaladas, mas que na verdade apenas desviam a atenção sobre o que deveria ser o foco de um modelo simples e eficiente.

Com o objetivo disfarçado de criar oportunidades para vender consultorias e soluções que pouco agregam à real necessidade do sistema de ensino ou da prática pedagógica aplicada, esses ‘inovadores’ tentam ensinar que, em um período de não mais do que 20 anos, tivemos uma aceleração tão acentuada que passamos, sem perceber, por uma escalada de estágios que nos levou da  Educação 0.0, para a 1.0, 2.0, 3.0, 4.0 e agora, a mais recente 5.0.

Um olhar menos atento pode levar ao entendimento de que a educação pode ser comparada a um veículo, no qual basta acrescentar um novo acessório para conquistar um novo patamar. Uma maçaneta prateada indica o 1.0, o ar condicionado com controle digital, 2.0, o controle de velocidade 3.0, freio ABS 4.0, ignição por voz 5.0 e assim por diante.

Na verdade, a comparação com um veículo até pode ser feita para ressaltar o compromisso da educação que é o de transportar o estudante/cidadão de uma posição para outra em patamares mais elevados de conhecimento, de ação e de atitude, independentemente das peças que sejam usadas para isso.

Então, ao olhar para a proliferação de números e índices por esta perspectiva se constata que eles são apenas inovações periféricas, que podem até mudar a percepção, ou a experiência, mas que não mudam a realidade da proposta educacional. Sendo assim, eles trazem apenas a proposta de enfraquecer modelos estabelecidos e construir a partir de discursos diferentes mais do mesmo com outra roupagem.

A superação dos desafios da educação exige maior comprometimento com a oferta, com a entrega e com a orientação sempre participativa dos atores principais que são os alunos, os docentes e os facilitadores dos meios de aprendizagem.

Independente da nomenclatura ou da numeração que se queria utilizar, é fundamental trabalhar em prol da educação verdadeira, que permite o desenvolvimento do cidadão nas dimensões do saber, do fazer e do ser sem índices supérfluos que distraem quanto ao objetivo real. Um país nunca será melhor do que o seu pior cidadão, quanto a atitude, conhecimento e realização.

Educação boa e de qualidade acontece tanto nas escolas de taipa e barro, com organização multisseriada, como também nas salas virtuais dos laboratórios com simulação e realidade aumentada; desde que seja planejada e executada com foco na evolução do aluno.

Assim como um novo acessório não muda a essência de um carro, uma nova nomenclatura ou moda não pode mudar e nem desviar o foco da educação.

* César Silva é Diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.

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