O crescente reconhecimento dos neurodivergentes: um novo olhar para a diversidade cognitiva

Profa. Dra. Dayane Kelly Sabec-Pereira

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento expressivo na identificação de pessoas neurodivergentes, um termo abrangente que inclui condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositor Desafiador (TOD), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), dislexia, entre outros. Esse fenômeno pode ser visto como um reflexo de um maior entendimento e aceitação da diversidade cognitiva, desencadeando discussões importantes sobre como agimos com as diferenças no cérebro humano e qual é o impacto disso em nossas instituições educacionais, profissionais e sociais.

Primeiramente, é fundamental compreender que o aumento no número de diagnósticos não significa necessariamente que mais pessoas estão nascendo com condições neurodivergentes. Pelo contrário, esse crescimento reflete uma maior conscientização e avanços nos métodos de diagnóstico. Hoje, temos ferramentas e critérios mais sofisticados para identificar essas condições desde cedo, permitindo que mais pessoas tenham acesso ao apoio e às intervenções necessárias.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma das condições neurodivergentes que mais têm gerado impacto nas últimas décadas. No estado do Paraná, entre 2022 e 2023, o número de alunos diagnosticados com TEA em salas de aula comuns aumentou em 53%, refletindo uma tendência observada em todo o Brasil, onde estima-se cerca de 36 mil alunos com TEA, segundo dados oficiais do Censo Escolar de 2023. Observa-se que o número de matrículas de pessoas com autismo no país aumentou em 48% de 2022 para 2023, evidenciando um crescimento expressivo. No entanto, apesar desse aumento, pessoas com TEA ainda enfrentam barreiras significativas de inclusão no ambiente educacional.

Outro aspecto importante é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que afeta entre 3% e 8% da população mundial. No Brasil, a prevalência entre crianças e adolescentes varia de 1,8% a 5,8%, conforme estudos recentes. O crescimento dos diagnósticos reflete tanto um avanço na identificação quanto uma maior demanda por intervenções educacionais e terapêuticas adequadas.

Em paralelo, a prevalência do Transtorno Opositor Desafiador (TOD) varia de 2% a 16% da população, dependendo da idade e dos critérios diagnósticos utilizados. Além disso, o Brasil lidera a prevalência global de transtornos de ansiedade, com aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrendo de ansiedade patológica, conforme o último mapeamento global de transtornos mentais realizado pela OMS.

De forma geral, a inclusão de neurodivergentes na sociedade requer mais do que diagnóstico e intervenção. A conscientização sobre neurodiversidade nos ambientes de trabalho ainda é limitada. Em 2024, 86,4% dos entrevistados afirmaram nunca ter participado de treinamentos ou programas relacionados ao tema no ambiente corporativo, e apenas 75% estavam familiarizados com o termo “neurodiversidade”, dos quais 48,6% possuíam conhecimento limitado.

Portanto, o crescente reconhecimento dos neurodivergentes representa um avanço significativo na maneira como entendemos a diversidade humana. É essencial que essa mudança seja acompanhada por políticas e práticas educacionais que promovam uma inclusão real, pensando em proporcionar ainda mais engajamento na inclusão dentro do ensino.

Nesse contexto, o Biopark Educação está lançando a pós-graduação em práticas de aprendizagem e desenvolvimento de neurodivergentes com aplicação ABA e DENVER, a qual tem o objetivo capacitar profissionais para atuar no desenvolvimento e na aprendizagem de indivíduos neurodivergentes, utilizando as abordagens baseadas na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e no Modelo Denver de Intervenção Precoce. A formação busca fornecer conhecimentos teóricos e práticos aprofundados sobre a neurodiversidade, abordando técnicas eficazes para promover o desenvolvimento cognitivo, social e comportamental desses indivíduos, com foco em intervenções personalizadas que respeitem as particularidades de cada pessoa.

A especialização visa, ainda, a preparar os profissionais para implementar estratégias de ensino que favoreçam a inclusão e o desenvolvimento pleno de neurodivergentes em diferentes contextos, como o educacional, terapêutico e familiar, contribuindo, assim, para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa com a diversidade cognitiva.

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