Os novos políticos e os antigos problemas
Nos últimos anos temos ouvido falar sobre a “nova política”, uma classe de representantes novos, contrários aos arranjos políticos tradicionais, inexperientes nas questões ligadas ao Estado, um grupo que ascende aos cargos de poder tentando fazer o novo, mas que volta e meia repetem antigos erros.
Novos grupos políticos surgem de tempos em tempos e dão um tempero diferente ao caldo, foi assim com o sindicalismo, com os empresários, com as forças policiais/militares e com os membros do poder judiciário. Todos esses grupos surgiram como solução para velhos problemas, mas esbarraram em algo muito maior que a simples vontade de fazer política, de participar do processo, de fazer o novo, eles se depararam com a realidade e com as regras do jogo.
A política tem muito de vontade, de defesa de interesses, estratégia, mas nada disso é possível sem o respeito das regras democráticas e ao texto constitucional. A linha ténue entre desenvolvimento e a completa crise é o respeito às regras do jogo, afinal, todo empresário quando pensa em investir analisa ao seu entorno e verifica se terá a segurança necessária para fazer seus investimentos e garantias legais para sua atividade. Viver no mundo da insegurança e de mudanças abruptas não é racional e tão pouco seguro, e é com essa analogia que falo do mundo político.
Assim como qualquer atividade, a política necessita de certa previsibilidade e segurança para sua sustentabilidade, e independentemente de quem está no poder, o que garante essa segurança são regras claras e concretas, uma Constituição garantidora de direitos e um governo que preze pela estabilidade das instituições. Esse somatório de elementos cria segurança para as atividades econômicas, garante um ambiente social estável e proporciona caminho tranquilo para o novo. Não precisamos de “salvadores da pátria”, mas sim de políticos responsáveis e capazes de estabelecer um ambiente favorável para o desenvolvimento, afinal, de super heróis o cinema está cheio.
Para a estabilidade da sociedade e da economia, o único caminho viável é a política responsável, não podemos nos encantar pelo atalho e pelas falas de quem está no poder, é absolutamente necessário que o cumprimento das regras democráticas e da estabilidade das instituições seja exigido, assim como, exigimos o cumprimento de um contrato ou da entrega de um serviço que foi pago. Afinal, o que é mais interessante para a estabilidade, três poderes em conflito ou três poderes que podem dialogar de forma concreta?
Assusta-me um pouco o fato de nos encantarmos facilmente com uma “nova política” sem um embasamento racional para esse fascínio. Os países que deram uma volta no titubear do desenvolvimento, foram aqueles que deixaram de se encantar e exigiram da classe política um projeto de Estado a longo prazo, um projeto que poderia ser executado de forma concreta por qualquer político que ascendesse ao poder, independente de seu posicionamento ideológico. A Coreia do Sul fez isso com seu sistema de ensino, a Alemanha fez isso com seu desenvolvimento científico, países nórdicos fizeram isso com o bem-estar de seus cidadãos. E sinceramente, não considero o Brasil longe desses países citados, nós sobra potencial, vontade, ímpeto, o que nós falta são políticos comprometidos com projetos de Estado à longo prazo.
O encontro de uma agenda comum entre a classe política e a sociedade é perfeitamente viável, quando estabelecemos parâmetros macro de desenvolvimento e políticas públicas de longo prazo. Você já viu algum político ou cidadão contrário à Educação ou Saúde? Repito, países que deram certo estabeleceram objetivos à longo prazo e ideias comuns entre políticos e sociedade e buscaram seu alcance. Para isso, não podemos negar a existência da política, não podemos nos desiludir com as instituições, tenho a convicção de que o caminho mais viável para nosso desenvolvimento está diretamente relacionado com a harmonia entre os poderes e com governos responsivos que ouvem as atividades organizadas e os setores produtivos, sem se encantar com o fácil, e isso deve ser exigido do “novo” ou do “antigo” político.
Francis Ricken, advogado e mestre em Ciência Política, é professor do curso de Direito da Universidade Positivo.