Pessoas não são máquinas
Júlio Volpp*
Construir relacionamentos humanizados é a melhor forma de exercer a liderança. Afinal, liderar não é apenas conduzir processos ou atingir metas, mas compreender que pessoas não são máquinas e que cada indivíduo carrega consigo sentimentos, histórias e crenças que moldam suas ações e reações.
Quando substituímos o “eu” pelo “nós”, passamos a enxergar o outro como um ser completo e estabelecemos vínculos que transcendem as responsabilidades profissionais, criando conexões verdadeiras e eficazes. Esse é o papel de quem lidera: estimular, orientar e inspirar.
Essa ideia não é um segredo. Afinal, a vida humana é marcada por relacionamentos desde antes de sua estreia no mundo, no nascimento. Ainda no útero materno, o bebê se relaciona com sua mãe em troca de alimento, espaço e proteção. E assim segue por toda a vida.
Com o passar dos anos e à medida que nos tornamos líderes em diferentes atividades, sejam elas profissionais ou em qualquer outro campo, damos os primeiros passos na liderança imitando comportamentos, padrões de decisão, premissas etc. Não está errado, é natural termos referências, mas é necessário buscar a emancipação para seguir nossas próprias premissas e paradigmas.
Estar à frente de uma equipe é também uma relação baseada na troca de confiança, à qual se atribui um alto valor. A habilidade de se relacionar com outras pessoas, especialmente de trocar confiança entre elas, é um dos traços mais significativos e é primordial para ocupar os cargos mais altos.
Entretanto, esse sentimento está à prova o tempo todo. O time está sempre avaliando se a integridade de quem está na posição de liderança é genuína e legítima. É sobre essa integridade que se constrói a confiança. Ela pode começar como uma aposta, um pressentimento, mas precisa, em tempo muito curto, se apoiar em fatos que a confirmem na prática, por meio de palavras e ações. Sem isso, ela ruirá na primeira oportunidade.
Ser referência para uma equipe, por exemplo, exige atitudes sinceras e honestas, que promovam o diálogo aberto entre seus membros. Mas isso não é suficiente. Além de promover ações afirmativas pró-ambiente de confiança, cabe ao líder combater todo tipo de atitudes que possam minar esse ambiente, como fofocas, mentiras, privilégios etc.
O sentimento genuíno é quem conduz. Quando há um verdadeiro comprometimento em criar um ambiente de segurança, é fundamental identificar o contexto de cada pessoa do grupo, de modo a compor um conjunto de ações que permitam a todos evoluir, mantendo a individualidade dos integrantes.
Quem estimula boas relações cria bons ambientes, propícios a diversas conquistas, que vão desde bons números e índices de qualidade no ambiente de trabalho até avanços em temas nos quais a organização anteriormente patinava.
Ou seja, as relações humanizadas no ambiente de trabalho têm potencial para desenvolver conexões genuínas, concretas, honestas e verdadeiras, que devem ser praticadas e incentivadas. O resultado? Realizações extraordinárias.
Júlio Volpp é mestre e doutor em Administração de Empresas e autor do livro Ninguém se Importa: Até Saber o Quanto Você se Importa (Citadel Editora).