A arte de luto

Faleceu na noite de quinta-feira, feriado de 7 de Setembro, Ivan Luiz Peron. Para quem não é ligado às artes em Toledo, apenas mais uma pessoa comum que deixou este plano. Já para quem acompanha mais de perto o setor, Ivan Peron era um entusiasta do mundo do espetáculo. Fosse qual fosse! Mas Ivan era muito mais que isso. Homossexual assumido enfrentava resistência numa sociedade onde o machismo impera, mas sempre de peito aberto e sem se deixar levar pela escuridão da hipocrisia. Aliás, aos hipócritas de plantão todo desprezo no melhor estilo irônico de ser. Às vezes nem tanto!

Militante da causa LGBTQIA+, Ivan Peron era ator, produtor cultural, ativista das causas sociais, tanto que literalmente brigou por melhorias no Procon, por mudanças na Educação, por mais investimentos na sua tão amada Cultura. Ivan tinha uma carapaça forte, mas por dentro era uma pessoa frágil. Tão frágil que desmoronou, sucumbiu às sequelas deixadas pela famigerada Covid.

Quem o via por trás de uma aparência meio desleixada e até ‘boba’ por assim dizer, não tinha a exata noção de sua perspicaz inteligência e de seu discurso afiado como uma navalha. Parafraseando uma de suas músicas prediletas, Olhos Coloridos, de Sandra de Sá, as pessoas riam de sua roupa, do seu cabelo, da sua pele e até do seu sorriso. No fundo, era Ivan Peron quem ria, às gargalhadas, de tantos hipócritas que cruzaram seu caminho.

A arte de Toledo e da própria região amanheceu de luto neste pós feriado e até a chuva veio, como uma espécie de choro coletivo para quem não pôde comparecer ao último adeus a um cara que adorava ler, ouvir as pessoas, mas acima de tudo, amava ‘brigar pelos outros’. E brigou até o fim, porque uma de suas últimas ‘tretas’ por assim dizer foi defender quem trabalha de verdade e não fica apenas se agarrando a um cargo pelo simples prazer do status ou do ‘poder’, que é passageiro. E Ivan sabia muito bem disso, tanto que nunca fez questão de se apegar a cargos ou rótulos. Nem mesmo à vida se apegava, pois sabia muito bem que essa é uma passagem apenas. E Ivan Peron marcou muito bem a sua!

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